Desde 2024, policiais civis no Brasil infiltram-se em comunidades digitais, como o Discord, para combater crimes contra crianças, salvando 92 vítimas até agora e evitando tragédias.
Uma operação silenciosa e constante tem se desenrolado dentro da internet brasileira. Desde novembro de 2024, policiais civis e promotores vêm se infiltrando em comunidades digitais, especialmente no Discord, para identificar e deter criminosos que atuam contra crianças e adolescentes. A ação mira um leque de crimes graves, como chantagem com fotos íntimas, incitação ao suicídio, automutilação, estupro virtual e exploração sexual.
Dentro de uma sala da Secretaria de Segurança Pública, equipes trabalham de forma contínua, muitas vezes se antecipando a crimes que estavam prestes a acontecer. “A gente tava infiltrado e houve a explanação de uma menina, e a partir de então a gente começou monitorar a vítima e conseguimos chegar no endereço da mãe. Eu mesmo peguei o telefone, liguei para mãe e a mãe não acreditou”, relatou Lisandra Salvariego Colabuono, delegada da Polícia Civil de São Paulo, ao Fantástico.
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A reação da mãe, segundo a delegada, foi de incredulidade: “‘Ela disse ‘não tem nada de errado aqui na minha casa’ e eu disse: tem sim, a senhora vai até o quarto da sua filha, sua filha não está dormindo, sua filha vai ser vítima de um estupro virtual’”.
A estratégia é baseada em um monitoramento passivo. Os agentes não interagem com os criminosos durante o processo investigativo, mas acompanham as movimentações em tempo real, reunindo provas para agir no momento certo. “O nosso monitoramento é totalmente passivo, nós funcionamos como observadores digitais”, explica Lisandra. “Hoje nós temos 92 vítimas de violência salvas. São vítimas que foram agraciadas com o poder de polícia, com a intervenção do Estado.”
As denúncias também chegam por meio de ativistas e civis atentos às movimentações em fóruns e servidores fechados. Em alguns casos, o trabalho de monitoramento evitou tragédias iminentes. “A gente acionou o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar”, contou Lisandra, referindo-se a um caso em que foi possível impedir um suicídio em tempo real.
Em novembro, uma das operações resultou na prisão de dois adultos e na apreensão de quatro menores de idade.