O número de assinantes tem sido uma das principais métricas usadas pelos investidores para avaliar o desempenho de streaming, como a Netflix. No entanto, a companhia anunciou nesta quinta, 18, que vai deixar de divulgar esse número. Então, o que estaria por trás da decisão de mexer em algo tão concreto na guerra dos streamings?
A resposta do mercado à decisão foi pesado para a companhia. Nesta sexta, 19, as ações da Netflix afundaram em quase 10% após a empresa anunciar no balanço de seu último trimestre que deixará de relatar os números de assinantes e a receita média por membro (ARM) a partir do próximo ano.
O balanço registrou número melhores do que esperados, com aumento de 9,33 milhões de novos assinantes diante de uma expectativa de 5,48 milhões - totalizando 269,6 milhões de assinantes globais. Mas isso não foi suficiente para agradar os investidores, que ficaram insatisfeitos com a perspectiva futura de não saber exatamente o tamanho da base da empresa.
Segundo a Netflix, devido às mudanças em seus preços e planos, de uma única faixa para múltiplas faixas de preços, dependendo do país, cada assinatura tem um impacto comercial diferente. Com o lançamento recente de novos planos de assinatura que incluem a exibição de propagandas, a companhia ganhou uma nova fonte de receita - a de publicidade. Além disso, a Netflix, que proibiu recentemente o compartilhamento de senhas, afirma que a maioria dos que adotavam a prática agora são clientes pagantes.
Com isso, a companhia prevê uma queda no crescimento de assinantes para o segundo trimestre, o que pode ter motivado a decisão de esconder o número dos relatórios a partir do ano que vem.
Segundo Greg Peters, co-CEO da Netflix, em reunião com os investidores na quinta-feira, o número agregado de assinantes "é cada vez menos preciso para capturar o estado do negócio".
A Netflix espera que os investidores avaliem a empresa a partir das métricas que ela considera mais importantes, como receita, margem operacional, fluxo de caixa livre e tempo gasto na plataforma. Apesar das mudanças, a previsão de crescimento de receita da empresa é de 16% no segundo trimestre, de 13% a 15% para a receita ano a ano e um aumento de 54% na renda operacional.
Apesar dos resultados positivos e das boas previsões, o mercado reagiu com descrença. Segundo analistas, a decisão de esconder a métrica seria o principal motivo para a queda das ações da companhia nesta sexta-feira.
"Menos divulgações é um rito de passagem para grandes empresas de tecnologia, como Apple, Google e Meta", disse o analista de Wall Street Laurent Yoon, em nota a clientes da empresa de investimentos Bernstein. "Por outro lado, remover as divulgações de crescimento sinaliza um amadurecimento do negócio e dá aos acionistas ainda menos pontos de dados para sustentar as previsões. O tempo dirá como os investidores digerem a mudança."
Em 2018 a Apple fez um movimento semelhante, quando parou de divulgar as vendas unitárias de iPhones e outras linhas de produtos. "Uma unidade de venda é menos relevante para nós hoje do que era no passado", disse o diretor financeiro da Apple a investidores na época, algo muito semelhante à justificativa da Netflix. Na época, as ações da Apple também despencaram, mas eventualmente voltaram a crescer, com a adaptação dos investidores aos novos relatórios da companhia.