Qual o perigo de ficar perto de animais doentes como o emu Emmanuel?

Especialistas apontam que contato com animais infectados por vírus ou bactérias podem causar novas pandemias globais, como a covid-19

20 out 2022 - 11h50
(atualizado às 16h25)
Taylor Blake e seu emu Emmanuel
Taylor Blake e seu emu Emmanuel
Foto: Reprodução / Twitter @hiitaylorblake

Quando uma fazendeira dos EUA publicou nas redes sociais uma foto sua com o rosto colado ao de Emmanuel, um emu famoso nas redes sociais que ficou doente de gripe aviária, virologistas e epidemiologistas aletaram sobre os riscos de zoonoses. Casos como o dela, dizem, poderia dar início a novas cepas de vírus perigosos para a humanidade.

Taylor Blake — que viralizou no TikTok compartilhando o dia a dia de seus animais — divulgou no sábado (15) a foto, ao demonstrar preocupação pela saúde de Emmanuel. A gripe H1N5 matou 99% das aves em sua fazenda.

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A depender do animal, da cepa do vírus e bactéria, da transmissibilidade e outros fatores, o contato com animais infectados com agentes patogênicos pode causar epidemias e pandemias globais como a da covid-19, cuja possível origem está associada a morcegos

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma zoonose é qualquer doença ou infecção naturalmente transmissível de animais vertebrados para humanos, como raiva, gripe aviária, gripe suína, toxoplasmose e outras. Existem, atualmente, mais de 200 tipos conhecidos dessas doenças. 

“A interação entre homens e animais, e a mobilidade destes, disseminaram zoonoses que impactam e permanecem com incidência elevada em vários países”, afirmou Fernanda Machiner, epidemiologista da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Também são chamadas de zoonoses transmissões via vetores intermediários, em doenças transmitidas por mosquitos como dengue, zika e chikungunya.

Transmissão de doenças 

Luis Gustavo Corbellini, médico veterinário e doutor em epidemiologia, disse a Byte que cada agente microbiano pode ter muitos hospedeiros reservatórios — espécies que possuem um patógeno, mas que não apresentam sintomas. É o caso de roedores que possuem Leptospira (e transmitem a leptospirose) ou morcegos, que transmitem o coronavírus.

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A maioria desses animais hospedeiros têm origem silvestre. Um documento das Nações Unidas para o Meio Ambiente mostrou que cerca de 60% das infecções em humanos têm origem em um animal. O cenário muda entre novas e emergentes doenças infecciosas, sendo 75% delas transmitidas de uma espécie intermediária animal para humanos. E cerca de 80% dos patógenos que contaminam animais são multi-hospedeiros, isto é, se movimentam entre animais diferentes e também entre humanos.

O virologista e professor da Universidade de Feevale (RS) Fernando Spilki explica que o ponto relevante sobre a transmissão de zoonoses, que determina a introdução de novos vírus de animais e humanos, é o evento de contato direto em primeiro lugar. 

De acordo com ele, isso pode ocorrer por consumo, agressões por invadir o espaço do animal ou mesmo uma tentativa de trazer animais silvestres ao ambiente doméstico para transformá-los em animais de companhia. “Outras vias importantes são através de vetores, especialmente mosquitos, mas também através da contaminação de água e alimentos”, disse Spilki.

Animais domesticados também podem servir como pontes para o surgimento de novas doenças. Além da covid-19, outras infecções causaram impactos profundos na sociedade, como a gripe aviária, a gripe suína e a raiva — esta última é transmitida por cães e gatos.

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Fernanda, exemplifica, no entanto, que “cada zoonose tem sua característica — algo que vai definir o risco de transmissão e medidas de controle”.

Infecções por contato e risco de pandemias

No caso do emu, ele está infectado com o vírus H1N5, considerado pelo Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA como Gripe Aviária Altamente Patogênica (HPAI, na sigla em inglês). Segundo o órgão, apenas alguns vírus da gripe aviária de linhagem A(H5) e A(H7) são classificados como vírus HPAI.

As infecções por vírus HPAI A(H5) ou A(H7) podem causar doenças que afetam vários órgãos internos com mortalidade de até 90% a 100% em galinhas, geralmente dentro de 48 horas. No entanto, os patos podem ser infectados sem quaisquer sinais de doença. 

A dona de Emmanuel compartilhou no Twitter que a ave está sendo “tratada” com suplementos e vitaminas e que ela está tomando os cuidados recomendados pela agência reguladora (FDA), como lavagem de mãos. Mas disse que não está usando máscara porque o animal fica “agitado e não entende”.

Segundo Fernanda, o sarifício animal é necessário em certos casos. “Se a fazenda tem realmente 99% das aves infectadas, o processo é o abatimento de todos e ainda um processo de rastreamento de contatos, para identificar possíveis contágios humanos. É uma das principais medidas de controle”, afirmou a epidemiologista. 

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Gustavo Corbellini concorda que é necessário seguir os protocolos dos órgãos de saúde e agricultura para conter a doença.  “De acordo com os serviços veterinários oficiais, para que haja o controle controle da H5N1, é necessário o abate do foco. Então, se a propriedade tiver cinco emus, deve haver um sacrifício sanitário (abate) de todos eles”, afirmou.

Mas explica que essa mutação do vírus H5N1, que circula desde 1999, nunca se tornou uma ameaça à saúde pública porque não se transmite entre humanos. Apesar disso, o especialista alerta que a influenza tem sempre o risco de potencial pandêmico. 

Segundo Spilki, mutações e fenômenos como recombinação (mistura entre genomas) são os meios pelos quais os vírus evoluem, se adaptam e podem passar a novos hospedeiros.

O infectologista Robson Reis, professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, aponta que com essa possível mutação, o patógeno pode se tornar de fácil replicação e formar subvariantes. “Dessa forma, poderia facilitar a transmissão entre humanos e ter uma nova pandemia”, afirmou a Byte

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Reis afirma que a partir do momento em que esses vírus se modificam, podem se tornar mais virulentos e mais agressivos, por esse motivo, todo ano, as pessoas precisam tomar a vacina contra gripe.

Várias práticas são reconhecidas como eficazes na redução do risco a zoonoses para se tornarem pandemias. Algumas são evitar contato com animais infectados, lavagem das mãos e cuidado com alimentos e água. Doenças como a raiva são 100% evitáveis por meio de vacinação também.

Fonte: Redação Byte
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