Quem é o 'Bill Gates' britânico que desapareceu em naufrágio de iate de luxo

O cofundador da empresa britânica Autonomy já foi rotulado como o equivalente britânico de Bill Gates.

20 ago 2024 - 07h05
(atualizado às 10h18)
Mike Lynch é considerado empresário inovador no setor tecnológico
Mike Lynch é considerado empresário inovador no setor tecnológico
Foto: Bloomberg/Getty Images / BBC News Brasil

Mike Lynch, um empresário britânico da área de tecnologia, e sua filha Hannah, de 18 anos, estão entre os desaparecidos no naufrágio de um iate de luxo na costa da Sicília, na Itália.

Depois de ter sido cofundador da companhia de tecnologia britânica Autonomy, em 1996, e de ter apoiado várias empresas de tecnologia de sucesso, o empresário foi considerado por alguns como a resposta do Reino Unido ao fundador da Microsoft, Bill Gates.

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Uma pessoa morreu e seis estão desaparecidas depois que o superiate de 56 metros chamado Bayesian, vinculado à família de Lynch, afundou em decorrência do mau tempo.

A esposa dele, Angela Bacares, foi resgatada.

A embarcação foi atingida por uma violenta tromba d´água nas primeiras horas de segunda-feira (19/8). As equipes de resgate conseguiram retirar do mar 15 pessoas que estavam a bordo, mas outras seis continuam desaparecidas.

A guarda costeira italiana informou que os mergulhadores encontraram o corpo de um homem, ainda não identificado formalmente, mas as autoridades acreditam se tratar do cozinheiro do iate.

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O magnata britânico da tecnologia fez sua fortuna ao vender a Autonomy à gigante americana da computação Hewlett-Packard (HP), em 2011, por US$ 11 bilhões (cerca de R$ 59 bilhões).

Mas uma intensa batalha jurídica relacionada à aquisição pairou sobre Lynch durante mais de uma década.

Em junho, ele foi absolvido na Justiça dos EUA de uma série de acusações de fraude, pelas quais poderia pegar duas décadas de prisão.

Em entrevista à Radio 4, da BBC, em agosto, Lynch disse acreditar que só conseguiu provar sua inocência perante o tribunal americano devido à sua fortuna.

O naufrágio do iate ocorreu no mesmo dia em que foi confirmada a morte do corréu de Lynch no caso de fraude, Stephen Chamberlain. O advogado dele afirmou que seu cliente morreu após ser atropelado por um carro no condado de Cambridgeshire, na Inglaterra, no sábado (17/8).

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De Cambridge à Autonomy

Nascido em 16 de junho de 1965, Lynch é filho de uma enfermeira e de um bombeiro — ele foi criado perto de Chelmsford, em Essex, na Inglaterra.

Ele estudou Ciências Naturais na Universidade de Cambridge, onde fez doutorado em computação matemática, e mais tarde ganhou uma bolsa de pesquisa.

Em 1991, Lynch ajudou a fundar a Cambridge Neurodynamics — uma empresa especializada na utilização de detecção e reconhecimento de impressões digitais por computador.

A empresa de tecnologia Autonomy foi criada cinco anos depois, usando um método estatístico conhecido como "inferência bayesiana" no núcleo de seu software.

O rápido crescimento e sucesso da companhia ao longo do final da década de 1990 e início dos anos 2000 fizeram com que Lynch ganhasse vários prêmios e distinções.

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Em 2006, ele foi condecorado com a Ordem do Império Britânico (OBE, na sigla em inglês), em reconhecimento aos serviços prestados às empresas do Reino Unido.

Ele atuou no conselho da BBC como diretor não executivo e, em 2011, foi nomeado para o conselho governamental de ciência e tecnologia — aconselhando o então primeiro-ministro, David Cameron, sobre os riscos e oportunidades do desenvolvimento da inteligência artificial.

Após a venda da Autonomy para a HP em 2011 — com a qual acredita-se que Lynch tenha lucrado £ 500 milhões (cerca de R$ 3,5 bilhões) —, ele fundou a empresa de investimentos em tecnologia Invoke Capital.

O fundo de capital de risco investiu na criação da empresa britânica de segurança cibernética Darktrace, em 2013.

Acionista da empresa, Lynch ocupou uma cadeira no conselho da companhia até o início deste ano.

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Amigos e família

Lynch e a esposa, Angela Bacares, têm duas filhas, e moram na propriedade Loudham Hall, em Suffolk, na Inglaterra.

Hannah, de 18 anos, também estava no iate que afundou.

O diretor-geral do departamento de Defesa Civil da Sicília, Salvatore Cocina, disse à BBC que Lynch, sua filha e o chef do iate estavam entre os desaparecidos.

A equipe da BBC Verify consultou registros empresariais e descobriu que a propriedade do iate Bayesian está vinculada à família.

Fontes próximas ao incidente confirmaram à BBC que Angela Bacares foi resgatada.

Em paralelo, Stephen Chamberlain, corréu de Lynch no julgamento da Autonomy, morreu após ser atropelado por um carro.

Chamberlain estava correndo em Cambridgeshire. no sábado, quando foi fatalmente atingido pelo veículo.

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Venda para a Hewlett-Packard

A Autonomy se tornou bem-sucedida pela capacidade do seu software de extrair informações úteis de dados como telefonemas, e-mails e vídeos.

Em seguida, usaria esses dados para fazer coisas como sugerir respostas a uma operadora de call center ou monitorar canais de televisão em busca de palavras ou temas.

Antes de ser comprada pela HP em 2011, a Autonomy tinha sedes em São Francisco e Cambridge.

Mas o preço de venda foi alvo de escrutínio após a transação, e o valor da Autonomy foi reduzido em bilhões apenas um ano depois.

Em 2018, promotores dos EUA abriram um processo contra Lynch — acusando-o de inflacionar o valor da empresa.

Eles disseram que ele havia ocultado o prejuízo da empresa na revenda de hardware, e também o acusaram de intimidar ou subornar pessoas que manifestaram preocupações.

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Lynch disse à Radio 4, da BBC, no início de agosto, que, embora estivesse convencido de sua inocência durante o longo julgamento, ele sentiu que só seria capaz de provar isso perante o tribunal dos EUA devido à sua fortuna.

"Você não deveria precisar de fundos para se proteger como cidadão britânico", ele afirmou.

"A razão pela qual estou sentado aqui, sejamos honestos, não é só porque eu era inocente... mas porque tinha dinheiro suficiente para não ser destruído por um processo criado para te destruir."

Ele acrescentou que após a saga jurídica, pretendia "voltar ao que adoro fazer, que é inovar".

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