Até que ponto os pais devem rastrear os passos digitais dos filhos? Essa pergunta ecoa entre vozes de familiares que assistiram à série Adolescência, da Netflix. A trama envolve um crime, supostamente cometido por um adolescente, e explora temas como cyberbullying, exposição online e a busca por identidade em um mundo cada vez mais conectado.
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As discussões sobre a série têm sido levadas às redes sociais e, segundo Maria Mello –coordenadora de Digital da ONG de proteção a crianças Instituto Alana–, tentam entender a dinâmica entre filhos, pais e escola.
Mas esquecem, diz a especialista, de apontar o real responsável: as empresas de tecnologia.
“É importante que fique explícito e claro que não dá para colocar na mesma simetria o poder de famílias e das empresas de tecnologia. Por mais presentes que sejam, os familiares ocupam um lugar muito inferior e impotente em comparação com o poder dessas bigtechs”, diz.
O que Maria Mello explica é que os algoritmos e a falta de fiscalização entregam a crianças e adolescentes conteúdos potencialmente perigosos, que incitam violência, estimulam o cyberbullying e dificultam o controle de quem quer que seja.
“Meu filho me acusou de tentar invadir sua privacidade”
A professora Carolina de Souza, 39, conta à reportagem que, ao assistir à série, pediu ao filho que entregasse seu celular para que ela instalasse programas de controle parental.
Esse tipo de programa dá aos pais detalhes sobre o tipo de conteúdo que o filho acessa na internet, além de eles poderem determinar o que será ou não baixado.
O problema, afirma Carolina, é que o garoto –de 16 anos– não soube lidar com o pedido. “Ele me acusou de tentar invadir sua privacidade. Por mais que eu explicasse que não era a intenção, não adiantou. Me vi de mãos atadas”, conta.
Como abordar os filhos para o controle parental?
Psicóloga e professora do curso de pós-graduação em Dependências Digitais: saúde mental na era tecnológica pela Pósartmed PUC-PR, Edwiges Parra afirma que a abordagem em casos como o de Carolina deve ser honesta e natural.
“A fiscalização tem de fazer parte da rotina de pais que querem ter uma família saudável. Explicar aos filhos que o intuito é protegê-los de inimigos invisíveis que se mascaram nas interações com as telas pode ajudar”, explica.
“Experimente dizer algo como: ‘Na internet, há zonas de perigo que na maioria das vezes você não vai perceber, pois a finalidade é te enganar. Elas não se mostram tão óbvias assim e por isso que estamos aqui para ajudá-lo a fazer um bom uso com segurança’”, sugere a especialista. “Ser honesto e tratar da situação como algo natural pode ser um meio de não tornar a fiscalização algo desgastante para a relação.”
Além das estratégias para começar o controle parental, o psiquiatra da Clínica Sartor, Tales Alberto Giannico, afirma que é importante estar próximo do filho independentemente da vigilância.
Segundo ele, criar espaços de diálogo onde o jovem se sente à vontade para falar e ser ouvido é fundamental para evitar problemas maiores. Ele detalha:
“Você deixaria seu filho de cinco anos sozinho no meio da cidade? E de 10 anos? E de 15 anos? Ainda que fosse dentro de uma biblioteca, talvez não seja prudente deixar uma criança de menos de 10 anos de idade só neste ambiente. Conforme ela cresce, a vigilância pode ser afrouxada, porém é aí que entram as capacidades de entender os riscos que cada um destes estabelecimentos podem proporcionar. Uns com riscos menores, outros maiores e outros que nem mesmo os mais experientes talvez devessem frequentar”, diz Giannico.
“É claro que, no mundo virtual, algumas ferramentas podem ser adotadas, como o bloqueio a sites adultos. Ou até mesmo algumas medidas como ter hora para usar o computador que fica em um local de movimento da casa. Ainda assim, como já dito, sempre haverá falhas nessa vigilância que pode ser sanada com a construção de laços firmes de confiança familiar.” - Tales Alberto Giannico, psiquiatra da Clínica Sartor.
Controle parental não é vigilância
Segundo o professor Arthur Marques, dos cursos de Tecnologia do Centro Universitário CESUCA, o controle parental eficaz vai além da simples imposição de restrições. Ele enfatiza a importância de estabelecer um diálogo aberto e honesto com os filhos sobre o uso da internet.
"O objetivo não é vigiar de forma invasiva, mas sim criar um ambiente de confiança", explica Marques, "onde a criança ou adolescente se sinta à vontade para compartilhar suas experiências e dúvidas sobre o que encontra online."
Para o especialista, conscientizar os jovens sobre os perigos da internet, como golpes, cyberbullying e conteúdos impróprios, é crucial para que desenvolvam autonomia e aprendam a se proteger.
Além do diálogo, Marques destaca a utilidade de ferramentas tecnológicas que auxiliam os pais no monitoramento e restrição de conteúdo. O Terra Segurança Digital, com um custo mensal de R$ 4,90, é uma das opções recomendadas.
Além desse software, o especialista sugere ferramentas como Qustodio, Microsoft Family Safety, Google Family Link e Kaspersky Safe Kids. Elas permitem monitorar sites visitados, tempo de uso, bloquear conteúdos inadequados, acompanhar a navegação e até mesmo rastrear a localização do dispositivo.
Contudo, essas soluções não devem ser vistas como uma forma de vigilância extrema, mas como um suporte para garantir uma navegação mais segura e equilibrada.