Swifties online: como fãs mobilizaram a web na turnê brasileira de Taylor Swift

“Tudo começou com a montagem de um fã, seguido de uma ideia que seria muito legal. E aí, todo mundo se juntou e chegamos no Eduardo Paes, prefeito do Rio”, contou à reportagem de Byte Rafael Souza, 20 anos, administrador do portal Info Taylor Brasil, sobre a primeira grande ação da ala brasileira dos "Swifties" — apelido dado aos fãs de Taylor Swift — na sua passagem pelo país.

Ele se referia à campanha online de fãs para a projeção de uma homenagem à cantora norte-americana no Cristo Redentor, cartão postal do Rio de Janeiro. A iniciativa foi organizada pelos fãs no X, ou antigo Twitter, com o apoio de grandes portais. Mas não foi a única.

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A turnê brasileira de Swift, uma das maiores estrelas pop da atualidade, foi marcada tanto pela celebração do público quanto por uma série de problemas, que culminaram na morte da jovem Ana Clara Benevides no primeiro show no Rio, no último dia 17 de novembro. O último show no país acontece neste domingo (26), no Allianz Parque, em São Paulo.

Além disso, fãs desmaiaram por causa do calor excessivo e houve controvérsias nas redes sociais envolvendo a suposta pouca atenção dada pela artista e à empresa organizadora dos shows, a Time For Fun, às queixas do público e a falta de amparo à família de Benevides.

No entanto, em meio ao cenário caótico, chamou a atenção positivamente como os Swifties conseguiram engajar suas comunidades para homenagens, pedidos e críticas com rapidez e competência.

Além da reverência a Taylor no Cristo, os fãs ajudaram a família da falecida fã, que não tinha dinheiro suficiente para transportar o corpo dela à sua cidade natal, Pedro Gomes (MS). O valor foi obtido por meio de uma vaquinha online dos fãs.

Ações

A primeira grande ação dos Swifties foi a projeção da imagem da "camisa" com frases de apoio a Taylor Swift no Cristo Redentor. Natural de Belém, Rafael Souza, do Info Taylor Brasil, portal com com mais de 59 mil seguidores, contou que a ideia nasceu por conta de uma brincadeira com um fã, que fez a montagem em um programa de edição de imagens. Após a boa recepção na web, a mobilização começou.

Eduardo Paes, prefeito do Rio, levou as solicitações com leveza e direcionou os pedidos ao Padre Omar, reitor do Santuário do Cristo Redentor.

Na rede social, os fãs se organizaram para que os desejos fossem atendidos. A ideia era reverter a homenagem em uma causa social. A missão foi cumprida: em menos de 24 horas, as comunidades arrecadaram mais de R$ 180 mil para doações de água e 20 mil panetones para pessoas de baixa renda. 

A imagem da camisa foi projetada no Cristo por meio de um drone, e o vídeo da ação viralizou nas redes sociais. A cantora comentou o ocorrido durante o seu show, dizendo que pensou que a foto final no monumento era uma montagem de Photoshop. Mas era real, e só ocorreu graças ao público brasileiro.

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Fatalidade uniu os fãs

No entanto, uma fatalidade logo após à chegada da cantora ao país também uniu os fãs. No dia 17 de novembro, durante a primeira apresentação de Taylor Swift, a fã Ana Clara Benevides, de 23 anos, morreu após passar mal durante o espetáculo da turnê "The Eras Tour".

A causa da morte foi uma parada cardiorrespiratória em meio às altas temperaturas que atingiram o RJ naquele dia, com sensação térmica de 60ºC. A jovem foi levada ao Hospital Salgado Filho, mas não resistiu.

O concerto ocorreu para mais de 60 mil pessoas no Estádio Nilton Santos, o Engenhão. Garrafas e copos d’águas eram proibidos durante a entrada, pela organizadora do evento Time For Fun (T4F). 

O caso causou comoção e revolta entre os fãs da cantora no Brasil. Em uma demonstração de solidariedade, eles organizaram uma vaquinha online para ajudar a família de Ana Clara a custear o transporte do corpo do Rio de Janeiro para Mato Grosso do Sul.

Em reportagem ao programa de TV "Fantástico", os familiares da vítima disseram que nem a cantora nem a T4F ajudaram com os custos. Mas o dinheiro obtido pelos admiradores da estrela foi suficiente para pagar o transporte do corpo, o funeral e o sepultamento.

“Por meio da tecnologia e do Twitter (o X), a gente conseguiu muita coisa. Porque a Time For Fun não se posicionou, não respondia nada. Nós começamos a mencionar ministros e deputados”, lembra Souza. 

Um dos parlamentares que apoiaram o público foi a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), que acionou o Ministério Público Federal contra a T4F.

"A hidratação é essencial durante uma onda de calor como a que estamos enfrentando e não pode ser vista como fonte de lucro. Mas infelizmente a T4F não compartilha dessa visão", tuitou a deputada na ocasião.

O calor era tanto na cidade (40ºC), que o show que ocorreria no dia 18 de novembro foi adiado para o dia 20. A apresentação marcada para o dia 19, um domingo, foi mantida. 

Chegou ao Ministério da Justiça

Com muita revolta, os fãs cobraram posicionamento da T4F sobre o que seria feito para mitigar o calor e assegurar o bem-estar de quem estava na fila. Fãs acusaram a equipe no estádio Nilton Santos, no Rio, de proibir a entrada de recipientes de água potável.

Após mobilização online dos Swifties, celebridades e autoridades, o caso chegou ao ministro da Justiça, Flávio Dino, que determinou, no dia 18 de novembro, que espetáculos no Brasil passassem a permitir a entrada de garrafas de água de uso pessoal, em material adequado, em todo o país.

“As empresas produtoras de espetáculos com alta exposição ao calor deverão disponibilizar água potável gratuita em “ilhas de hidratação” de fácil acesso. A medida vale imediatamente. A Portaria será editada em, no máximo, uma hora. Será postada aqui para conhecimento dos detalhes”, tuitou Dino.

Parceria

Com a repercussão da morte de Ana Clara Benevides, e ainda esperando um posicionamento da T4F, os Swifties trabalharam de novo digitalmente e conseguiram uma parceria com a empresa de água mineral Minalba. 

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Rafael Souza, do fã-clube Info Taylor Brasil, conta que os contatos foram feitos por meio de e-mails e menções nas redes sociais das empresas. 

Tudo ocorreu por intermédio do Update Swift Brasil, um dos maiores fã-clubes de Taylor Swift no Brasil, com 214 mil seguidores no X, um dia após a morte de Benevides, no dia 17 de novembro.

De acordo com a agência de notícias Reuters, foram 65 mil garrafas de água doadas ao todo e distribuídas nos shows de domingo (19) e a segunda-feira (20).

“Foi um donativo da empresa, emocionada com os acontecimentos do dia anterior e com a onda de calor”, disse Christina Larroude, diretora de marketing da Minalba, à Reuters.

Além da vaquinha para a família, houve pressão para que as companhias aéreas para fãs de outras cidades conseguirem trocar passagens sem taxas extras após o cancelamento do show do dia 18 no Rio de Janeiro e curtir a nova data no dia 20. No que foram atendidos mais uma vez.

Fãs organizam homenagem em Times Square

Os fãs de Taylor Swift organizaram ainda uma homenagem à Ana Clara em Times Square, em Nova York. “Esta é uma homenagem para todos os fãs que estiveram nos shows no Rio de Janeiro. Você era maior que o céu inteiro”, dizia o vídeo, que foi transmitido na última quarta-feira (22).

A homenagem teve autorização da família de Ana Clara. Para que isso acontecesse, os fãs tiveram que pagar uma taxa de US$ 40 (aproximadamente R$ 190 na cotação brasileira).

Um vídeo comentando a morte de Ana Clara foi postado seis dias após o ocorrido nas redes sociais da T4F. Na publicação, Serafim Abreu, CEO da empresa, lamentou o ocorrido e ressaltou que a companhia estava prestando todo suporte à família.

"Sim, reconhecemos que poderíamos ter tomado ações alternativas como alterar os horários por conta do forte calor. Sabemos que com as mudanças climáticas isso será cada vez mais presente, e deveríamos ter áreas com mais sombra, por exemplo”, admite Abreu.

Show em São Paulo

No primeiro dia de show da cantora em São Paulo, os Swifties se organizaram mais uma vez e distribuíram pizza para os fãs que enfrentaram a fila no estádio Allianz Parque. 

Mais uma vez a parceria foi iniciativa do portal Update Swift Brasil, que contatou a franquia de pizzarias Domino's. Pelo visto, o céu é o limite para o poder mobilizador dos Swifties brasileiros.