Tartaruga gigante da Amazônia pode ter sido alimento para humanos há 14 mil anos

Fóssil encontrado na Amazônia revela tartaruga gigante "Peltocephalus maturin" que viveu na região

18 mar 2024 - 10h44
Representação gráfica da Peltocephalus maturin, que pode ter habitado a região do Rio Madeira entre 14 e 9 mil anos atrás, convivendo com humanos
Representação gráfica da Peltocephalus maturin, que pode ter habitado a região do Rio Madeira entre 14 e 9 mil anos atrás, convivendo com humanos
Foto: Júlia d'Oliveira

Cientistas descobriram o fóssil de uma tartaruga gigante que viveu há 40 mil anos na Amazônia. A descoberta revela dados impressionantes sobre a pré-história na região. 

O vestígio fóssil da tartaruga gigante amazônica, a Peltocephalus maturin, foi descoberto por volta de 2015 em um barranco de garimpo hoje desativado no Rio Madeira, em Rondônia (RO). O fóssil encontrado consiste em um osso da mandíbula desse réptil.

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Com a participação de pesquisadores de diferentes países, incluindo universidades brasileiras, iniciou-se o processo de identificação do animal, com tamanho estimado entre 1,8 e 2 m.

A primeira hipótese dos pesquisadores foi de que se tratasse da Stupendemys, a maior tartaruga de água doce que já existiu e que viveu durante o Mioceno, há cerca de 25 milhões de anos.

Na região amazônica é comum existirem sedimentos e rochas dessa época geológica, por isso essa foi a primeira suposição, mas para a comprovação científica os pesquisadores buscaram datar o material.

“Mandamos algumas amostras para a Universidade da Georgia, que tem pesquisadores que trabalham com datação por carbono. Quando retornaram os resultados, a gente viu que era algo muito mais recente do que a Stupendemys, então não poderia ser ela", disse ao Jornal da USP Gabriel Ferreira, pesquisador da Universität Tübingen, na Alemanha, que liderou o estudo. 

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Até 40 mil anos

O resultado da datação apontou entre 14 e nove mil anos. A proximidade geológica abriu uma possibilidade da coexistência dessa espécie com humanos e também estabeleceu que as comparações deveriam ser feitas com espécies viventes hoje. 

Essa análise foi realizada por Miriam Pacheco e a Marcia Rizzuto, da UFSCar e da USP, respectivamente.

As pesquisadoras fizeram análises geoquímicas para ver o quanto de modificações havia no fóssil. Com impressionantes 27 cm de comprimento, o dentário foi analisado de maneira não convencional.

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Por ser a parte mais dura e menos porosa do esqueleto, o esmalte dentário é sempre o escolhido para ser analisado, mas na falta do mesmo tiveram que analisar os ossos, que são normalmente o último recurso a ser utilizado por conta da sua porosidade.

Com a incerteza dos dados, optou-se por estabelecer a idade mínima da espécie em nove mil anos – com a garantia de que não poderia ser mais nova que isso – e a máxima em 40 mil, por conta da análise de plantas encontradas na parte inferior do fóssil que tinham essa idade. Pela lógica, tudo que estava acima era mais recente.

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Estabeleceu-se uma relação morfológica com a tartaruga-cabeçuda do Amazonas, a Peltocephalus dumerilianus. O dentário dessa espécie possui características que apareceram também no fóssil, como a mandíbula ser mais alta e fina e ser terminada em um gancho, além de uma característica única deste gênero, que é uma depressão na parte lingual da mandíbula.

“É por isso que a gente a chamou de Peltocephalus também. Colocamos no mesmo gênero por causa dessas semelhanças”, explicou Gabriel Ferreira ao Jornal da USP. 

A espécie

A gigante amazônica, assim como a sua parente viva mais próxima, era onívora, tendo uma dieta composta de vegetais e animais.

“A tartaruga-cabeçuda do Amazonas, por exemplo, come basicamente frutos que caem na água e também tem uma predileção por algumas espécies de caramujos que ocorrem na região. Esse é o traço mais onívoro dela, mas há registros de conteúdo estomacal que mostram vários outros vestígios, como crustáceos, os caramujos e também bastante matéria vegetal, principalmente frutos e sementes. Então, a gente acredita que seria alguma coisa semelhante”, diz o paleontólogo.

Alimento para humanos

As civilizações indígenas americanas daquele período podem ter sido responsáveis pelo desaparecimento dessa espécie gigante que existia na região.

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“As populações indígenas da área utilizam tartarugas como parte da sua alimentação. E os registros mais antigos de ocupação humana na Amazônia também são acompanhados de ossos de tartarugas. Se a gente puder confirmar a idade e a convivência, acreditar na coexistência temporal de humanos e essa tartaruga, a chance é relativamente alta de que elas tenha sido predadas por seres humanos”, disse Ferreira.

“A comunidade científica não entrou em um consenso, mas é uma hipótese bem aceita de que se não houvesse a pressão de caça humana sobre essas espécies gigantes, elas ainda existiriam”, aponta Max Langer, professor da USP em Ribeirão Preto que orientou a pesquisa.

Fonte: Redação Byte
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