Mustafa Suleyman nasceu em 1984, filho de um taxista de origem síria e uma enfermeira inglesa. Cresceu com dois irmãos mais novos em Islington, uma região de trabalhadores nos subúrbios de Londres. Na adolescência, foi abandonado pelos pais e assumiu a guarda dos irmãos, trabalhando em bares e restaurantes para sustentá-los.
Frequentou escolas públicas, o que não é o caminho tradicional para o sucesso ou amizades poderosas na Inglaterra, e por força de sua inteligência e determinação foi aceito na Universidade de Oxford, de onde saiu aos 19 anos para criar, em sequência:
- Um serviço telefônico para aconselhamento psicológico para jovens muçulmanos no Reino Unido (ainda que Suleyman seja ateu);
- A Reos Partners, uma consultoria de "mudança sistêmica e resolução de conflitos", que liderou por alguns anos como mediador e negociador chefe. Suleyman tinha 20 e poucos anos nessa época, e ainda assim trabalhou para organizações como as Nações Unidas, o Governo da Holanda e a Prefeitura de Londres, na qual assumiu o Conselho de Direitos Humanos no governo de Ken Livingstone;
- Em 2010, com o amigo de segundo grau Demis Hassabis (já escrevi aqui sobre ele), fundou a Deep Mind, na minha opinião a mais importante empresa de Inteligência Artificial do planeta. Mais importantes que a OpenAI? Sim, mas falo sobre isso outro dia.
Em 2014, A DeepMind foi vendida para o Google por um valor que se reporta próximo a 600 milhões de dólares. Suleyman, portanto, ficou muito, muito rico aos 30 anos, e ao invés de se aposentar, pisou no acelerador.
- A DeepMind cria AlphaGo, o sistema que bateu o campeão mundial do jogo chinês Go, algo até aquele momento avaliado não como difícil, mas impossível para um não humano;
- Cria a plataforma AlphaFold, distribuída gratuitamente e sobre a qual mais de 1 milhão de cientistas trabalham hoje, na cura de doenças, busca de novos compostos e pesquisa básica sobre o corpo humano;
- Suleyman, um pensador com brilho próprio, é convidado para o board da The Economist, a revista mais importante do mundo;
- Ele então deixa a DeepMind, assume uma vice-presidência no Google por 3 anos.
E cria outra empresa, a Inflection AI, com Reidi Hoffman, fundador do Linkedin, que concorre com a OpenAI e no seu longo um ano de vida já recebeu 1,3 bilhões de dólares em investimentos de gente como Nvidia e Microsoft.
Toda a carreira de Suleyman tem um ponto comum. Seu profundo interesse pelo ser humano, e pelo impacto que a IA pode ter em nosso futuro. O primeiro produto da Inflection, o chatbot Pi, reflete essa visão.
Suleyman quer que a tecnologia ajude jovens solitários, como ele próprio, a encontrar seu caminho no mundo, a liberar seu potencial e talento.
Essa visão também se reflete no livro que acaba de publicar e que vale a pena ser lido, chamado "The Coming Wave: Technology, Power, and the Twenty-first Century's Greatest Dilemma" .
Finalmente, Suleyman tem um gosto bastante original por camisas, pra mim uma grande qualidade.
(*) Alex Winetzki é CEO da Woopi e diretor de P&D do Grupo Stefanini, de soluções digitais.