O vídeo de um inseto que continuou "caminhando" mesmo sem uma porção de sua estrutura viralizou na internet e não demorou para aparecer gente fazendo analogia do inseto com um zumbi - e associarem as imagens com "The Walking Deads" no reino animal.
No entanto, é preciso darmos um passinho para trás.
Perfil de divulgação científica, a Elfa dos Insetos comentou o caso e explicou que, apesar do fenômeno "zumbilógico" ser possível na natureza, causado por um fungo da espécie Eryniopsis lampyridarum do gênero Cantharidae que parasita besouros, o que estamos vendo no vídeo é provavelmente um inseto que foi predado.
⚠️ Muito provavelmente, o que aconteceu com esse besouro não tem a ver com o fungo Eryniopsis lampyridarum, que parece parasitar especificamente besouros Cantharidae. Este besouro que estão chamando de zumbi é um escaravelho Scarabaeidae, que deve ter sido predado. https://t.co/CQYa0GpvUm
— Elfa dos Insetos (@ElfaDosInsetos) August 25, 2022
Isso porque existem algumas diferenças entre um inseto predado e um parasitado pelo fungo.
Aparentemente isso acontece com as fêmeas, q abrem as asas para parecer que estão vivas e esperando um parceiro para acasalar, os esporos vão surgir no abdômen do besouro e serão dispersos pelo outro besouro. Aqui um Cantharidae parasitado por esse fungo https://t.co/SuCEWpykmI
— Elfa dos Insetos (@ElfaDosInsetos) August 25, 2022
Mas como o inseto consegue se movimentar, mesmo após ter sido predado e perdido uma parte significativa da sua estrutura?
Segundo Lorenne Almeida, especialista em besouros, alguns insetos podem se movimentar por um período de tempo após a preda, caso seu sistema nervoso não tenha sido prejudicado.
Na matéria está citando que o besouro está infectado por fungos, mas aparentemente não é o caso em questão. Existem sim fungos que infectam diversos artrópodes, mas nesse vídeo o besouro foi comido por outro animal sem que afetasse seu sistema nervoso. https://t.co/3BqC66oxJm
— Lorenne Almeida 🐞 - sem tempo pro perfil (@lorenne_almeida) August 28, 2022
Zumbis fora da ficção científica
Apesar de o vídeo viralizado não se tratar, de fato, de um tipo peculiar de parasitismo que torna seu hospedeiro um "zumbi", existem vários exemplos interessantíssimos desse fenômeno no mundo dos insetos.
A Liga de Zoologia e Biodiversidade da Universidade Federal de Goiás (UFG) fez um fio abordando alguns exemplos.
Cordyceps é um gênero de fungos ascomicetos (filo Ascomycota) que parasitam várias ordens da classe Insecta, principalmente Hymenoptera, Hemiptera, Diptera, Lepidoptera e Coeloptera.
📷: Curto e Curioso pic.twitter.com/GZJaIQnoP8
— LazBio (Biothreads no fixado) (@lazbioufg) October 21, 2021
Segundo o perfil, o fungo do gênero Cordyceps é capaz de parasitar alguns insetos e, ao encontrar seu hospedeiro, ele começa a atuar sobre o sistema nervoso dele, causando alterações neurofisiológicas e comportamentais, induzindo a locomoção do inseto em áreas favoráveis para o fungo.
A estrutura que emerge do hospedeiro é o corpo de frutificação do fungo. É a partir desta estrutura que os esporos são liberados, podendo infectar os outros indivíduos da mesma espécie.
📷: Magnum pic.twitter.com/IyUyDdYBtc
— LazBio (Biothreads no fixado) (@lazbioufg) October 21, 2021
O Ciência Hoje também trouxe um fio muito interessante sobre insetos zumbis, abordando diferentes exemplos na natureza.
Um deles inclusive ganhou fama graças ao jogo The Last of Us (muito bom, recomendo).
Trata-se do Ophiocordyceps em que, no jogo, passaria a ser capaz de infectar humanos. Calma, isso não acontece na vida real, não.
Diferentemente do que acontece com as formigas, o fungo do jogo realmente assume o controle do cérebro do indivíduo, deteriorando sua racionalidade, seus sentidos e até sua forma física. (+) pic.twitter.com/3EemcRD9xi
— Ciência Hoje (@CienciaHoje) August 19, 2022
A natureza e suas manifestações peculiares
Apesar de esse tipo de parasitismo parecer muito inusitado, a Liga de Zoologia e Biodiversidade da UFG nos lembra que ele pode ter um papel importante sobre os ecossistemas, porque pode ajudar a controlar a população de insetos abundantes nesses locais, permitindo uma coexistência equilibrada com outros insetos.
Ainda que pareçam devastadores, estes fungos possuem uma grande importância ecológica. Afetando as espécies mais abundantes na floresta, o fungo impede que elas dominem o ambiente, permitindo a coexistência entre várias espécies de artrópodes.
— LazBio (Biothreads no fixado) (@lazbioufg) October 21, 2021
Se tu, assim como eu, é fã de ficção científica sobre zumbis, é possível que te interesse por esse post aqui feito pelo Ciência Hoje com vários exemplos de parasitas que "zumbificam" seus hospedeiros!