Coloridos, modernos, de diferentes sabores e cercados defake news. Os cigarros eletrônicos, também conhecidos como pods ou vapes, crescem em popularidade entre crianças e adolescentes — deixando especialistas em alerta para oadoecimento em massa que deve ocorrer nos próximos anos.
A ilusão de que o cigarro eletrônico seria menos prejudicial do que o tradicional, ou até mesmo inofensivo, é amplamente disseminada online. Estudos recentes apontam para o impacto das redes sociais na popularização do vape, os retratando como glamurosos, saudáveis e seguros — o que, segundo especialistas, não poderia estar mais longe da realidade.
O resultado são ondas de jovens que usam os dispositivos sem ter consciência de seus efeitos nocivos, como relata a pediatra e pneumologista do Hospital Pequeno Príncipe, Débora Chong: "São verdadeiros lobos em pele de cordeiro."
Ela explica que, com ou sem nicotina, os pods podem trazer sérias complicações à saúde. "Estudos já mostram que alguns tipos de aromatizante, aquecidos na temperatura em que o vape aquece, também formam substâncias nocivas. Inclusive, cancerígenas, que vão agredir o pulmão e podem até levar à hospitalização no curto prazo", adverte.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), além desses efeitos tóxicos, podem ser observados aumento da prevalência de bronquite e asma, danos à saúde da boca e da garganta e dependência. A Organização Mundial da Saúde (OMS) sinaliza que os dispositivos podem afetar o desenvolvimento cerebral, com impactos no aprendizado e na saúde mental, além de desencadear e agravar doenças cardíacas e respiratórias.
Sem contar que, os já conhecidos malefícios da nicotina permanecem, com quantidades muito superiores às dos cigarros tradicionais sendo frequentemente encontradas nos vapes: "Se chega a ter entre 10 e 15 vezes mais nicotina numa ampola de vape do que em um maço de cigarro", aponta a médica.
Novas táticas da indústria
O apelo comercial de um produto tão maléfico à saúde não é exatamente novo. "O vape, para as crianças e adolescentes de hoje, têm a mesma relação que o cigarro comum teve para os nossos avós. Acham que não vicia e não conhecem os problemas causados pelo cigarro eletrônico", explica João Paulo Becker Lotufo, representante da Sociedade Brasileira de Pediatria para assuntos sobre álcool e outras drogas.
"A indústria, para sobreviver à diminuição de uso do tabaco normal, do cigarro normal no mundo, criou esse novo mecanismo", analisa Lotufo. A diferença é que hoje a propaganda dominante é na internet e no boca-a-boca, com o uso de toda uma nova imagética que faz busca distanciar os pods dos cigarros tradicionais.
"A indústriasabe como fazer isso. Ela fez uma coisa para os jovens, que não conhecem as consequências disso e muitos vão ficar dependentes da nicotina." O cheiro ruim do cigarro foi substituído por aromas adocicados, e suas cores sóbrias pelo colorido. Outros termos foram popularizados. Em vez de fumar, se diz vaporizar. No entanto, os efeitos nocivos permanecem — e podem ser ainda maiores: "É preciso ficar claro que o líquido que vaporiza a nicotina é cancerígeno, tem metais pesados e é inflamatório", diz Lotufo.
Como os pais podem lidar com o uso de vape pelos filhos?
Chong analisa que a informação é a chave. Acolher e não julgar, buscando estabelecer um diálogo com o adolescente, é necessário para que se mantenha um canal aberto para a comunicação com os filhos e se possa fornecer informações confiáveis. "Todo mundo precisa saber que o cigarro eletrônico não é inócuo, não é tão simples e faz mal à saúde. É um cenário preocupante", conclui Chong.
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