Uma empresa americana desenvolveu uma forma de monitorar bairros inteiros utilizando uma tecnologia desenvolvida, originalmente, para as guerras do Iraque e do Afeganistão. Mas, enquanto a polícia vê com bons olhos a perspectiva de obter acesso à tecnologia, ela foi alvo de críticas por ser vista como ameaça à privacidade dos cidadãos.
O sistema funciona por meio de um avião tripulado que grava o que está acontecendo no solo em uma área de 40 quilômetros de diâmetro. A aeronave é equipada com 12 câmeras de alta resolução, que formam uma espécie de "Google Earth" em tempo real.
"A resolução não é alta o suficiente para mostrar quem é a pessoa, elas aparecem como um pixel acinzentado na tela", diz Ross McNutt, veterano da Aeronáutica aposentado e presidente da empresa que desenvolveu o sistema, a PSS (Persistent Surveillance Systems).
Mas esse pixel é suficiente para que os movimentos das pessoas sejam monitorados de forma precisa enquanto o avião está no ar - por até seis horas.
A ideia é sobrevoar áreas com altos índices de crimes. No início de 2012, as aeronaves monitoraram a cidade de Compton, na Califórnia, durante nove dias. Gravaram assassinatos, roubos e diversos outros crimes.
Ao comparar as gravações com o depoimento de testemunhas, os analistas e a polícia conseguiram determinar o momento em que os crimes foram cometidos.Dessa forma, puderam descobrir onde os suspeitos estavam antes e depois do momento do crime, afirma McNutt.
Durante os testes em Ohio, na Califórnia e no México, o PSS testemunhou 34 assassinatos.
Ameaça à democracia
As câmeras da PSS, no entanto, não veem apenas assassinatos e criminosos. Elas registram a atividade cotidiana de ruas e quintais. Apesar de a firma insistir que a resolução das câmeras é baixa, muitos americanos veem o sistema como uma ameaça às liberdades individuais.
"O sistema não apenas viola a privacidade das pessoas; monitorar movimentos de uma comunidade inteira é uma ameaça à democracia", disse Jennifer Lynch, advogada da Electronic Frontier Foundation.
Os moradores de Compton, por exemplo, não foram informados quando a polícia testou o sistema. "São coisas como essa e o monitoramento secreto de estudantes muçulmanos pela polícia de Nova York em 2012 que geram desconfiança da polícia", diz Lynch.
A empresa afirma que segue um "política de privacidade forte" e só monitora pessoas após comunicações de crime ou em investigações criminais. Diz também que pode saber exatamente quais foram as imagens observadas pelos seus analistas.
Também há o temor de que o sistema possa levar pessoas a deixar de fazer coisas que não querem que outros saibam, mesmo não sendo ilegais. Isso inclui, por exemplo, ir a um bar gay, instituições religiosas ou ter mais de um relacionamento.
"Vigilância policial pode afetar a liberdade de expressão e, com isso, o direito democrático e constitucional das pessoas está ameaçado", acrescenta Lynch.
O presidente da firma diz que está atento a essas questões e procurou o American Civil Liberties Union, uma ONG que defende liberdades individuais, para discutir o tema. Enquanto isso, nenhum Estado americano adotou a tecnologia de forma sistemática.