Você já se irritou com uma reunião que poderia ter sido resolvida com um e-mail, com um texto no Linkedin agradecendo por uma demissão ou com o uso de inglês para palavras que existem no português? Então provavelmente já deu risada com algum vídeo de Viviane Miranda, conhecida nas redes sociais como @aquela.miranda.
Formada em comunicação social, Viviane também estudou gestão de negócios e programação. A partir disso, trabalhou no mercado de fintechs e tirou de lá o combustível para produzir conteúdos que bombaram na internet: vídeos sobre situações indigestas no mundo corporativo.
A atriz acredita que seus vídeos podem ser um jeito de melhorar a relação entre funcionários e empresas. Afinal, encarar tudo com humor pode ser um modo de vida mais saudável – principalmente em situações que, muitas vezes, não controlamos.
O sucesso de suas sátiras ao Linkedin foi tanto que Viviane fez uma parceria com um banco para divulgar vídeos institucionais na própria rede social profissional. Mas ela conta que não é todo mundo que recebe tão bem as piadas assim e que muitos de seus vídeos já foram interpretados por indiretas a pessoas próximas.
Você passou pelos mercados de tecnologia e negócios. Foi assim que pensou na personagem zoando a cultura corporativa?
VM: Sim. A minha vivência no mundo corporativo e a minha inadequação a esses trabalhos formais foi o que fez eu ter inspirações para fazer essas esquetes. Sempre sentia que não pertencia a esse mundo, apesar de ser um ambiente que me permitiu juntar dinheiro para tomar a decisão de virar criadora de conteúdo. Eu critico, porque temos que rir de nós mesmos, mas sei que foi um ambiente importante pra mim. Essa cultura de empresas, emprego formal e LinkedIn foi a minha vivência durante anos.
O humor pode ajudar a melhorar a relação entre empresas e funcionários? Ou ele só nos ajuda a aceitar que dói menos?
VM: O humor nos faz enxergar as coisas de uma nova perspectiva, faz a gente se distanciar de situações em que, às vezes, estamos muito envolvidas e só conseguimos ver o lado ruim. Às vezes, é ruim mesmo, mas quando a gente se distancia, consegue ver com mais leveza e ressignificar alguma situação mal entendida, ou até um chefe chato que você tem.
Se você vê aquela situação de uma forma bem humorada, podemos começar a levar a vida de uma forma mais leve, sermos pessoas mais leves, mais agradáveis, mais felizes, mais saudáveis e até mais interessantes. Eu mesma já tive um chefe nesse mercado corporativo que era muito tranquilo. Quando eu falei para ele que estava saindo, ele entendeu e até levou um pouco na esportiva, na zoeira. Acho que o humor faz a gente estreitar laços com pessoas que conhecemos de uma empresa.
Mas sempre vão ter algumas situações que a gente não consegue mudar, então, nesse caso, rir ajuda a aceitar que dói menos, sim. A psicologia diz que quando conseguimos rir de algo, é porque já conseguimos começar a superar o que aconteceu.
Tem gente que recebe mal as piadas?
VM: Com certeza. Não é a maioria, mas tem muita gente que começou a ver meus vídeos agora, não entende os meus valores e entende exatamente o oposto do que o meu sarcasmo quer dizer.
Eu fiz uma esquete bem polêmica e algumas pessoas acharam que eu era bolsonarista. Foi um vídeo zoando atrizes e atores de teatro que criticam os atores de internet. Eu fiz a personagem usando um boné do Movimento Sem Terra (MST). Mas esse boné é meu, eu o uso, sou uma pessoa de esquerda, votei no Lula, apoio o MST e a galera achou que a crítica era ao movimento
A gente pode fazer estereótipos inclusive sobre nós mesmos, mas as pessoas têm dificuldade de enxergar isso e confundem o alvo da piada com o contexto dela. Então é bem difícil usar sarcasmo no humor.
Você também interpreta outros personagens, como psicanalistas e gente de esquerda. Alguém próximo já achou que o vídeo fosse uma indireta?
VM: Várias. As pessoas levam tudo pro pessoal, levam tudo a sério, e isso é chato porque você tem que sempre ficar se justificando, e eu acho que o humor não é pra se justificar.
Uma vez eu fiz um vídeo falando sobre o preço de sessões de terapia e recebi a mensagem de vários piscólogos falando que eu estava deslegitimando a terapia, que pessoas não iam querer mais fazer terapia. Eu faço terapia há 12 anos. Gostar de algo não impede que você possa ser zoado. Na vida, existem vários estereótipos, e eu vou sempre zoar também as coisas que até eu mesma gosto.
Tem gente que realmente tem mais dificuldade de entender que a piada não é sobre ela. Você pode pegar ela e vestir a carapuça, se identificar com a piada, rir dela se você quiser. Pode achar que é sobre você se quiser, mas em nenhum momento eu coloquei o seu nome na esquete, sabe? A gente tem que aprender a levar as coisas um pouco menos pro pessoal.
A maioria dos seus conteúdos trata de situações comuns para quem está perto dos 30 anos. Acha que a vida aos 30 é melhor do que aos 20?
VM: Concordo. Eu, hoje, aos 30, estou muito mais realizada do que aos 20.
Aos trinta, eu consegui viver todas as m* da vida, ter vários trabalhos que eu não gostava, pra chegar nesse momento de tomar a decisão de fazer o que eu realmente gosto: fazer humor, produzir conteúdo, vídeos e trabalhar com a criatividade.
Ficamos mais seguras, maduras, mais seletivas com coisas que não te agregam.
Eu acho que a fase dos 30 anos é melhor do que a fase dos 20, mas as pessoas de 20 anos provavelmente vão discordar. Só vão entender quando chegarem aos 30.