Nos filmes de ficção científica, os carros voadores são os principais meios de transporte. Em 2023, entretanto, esta não é uma realidade tão “futurística” em muitos países. No Brasil, a Embraer se prepara para entregar em 2026 os primeiros eVTOLs (abreviação em inglês de Electric Vertical Take-Off and Landing, veículo elétrico que decola e pousa na vertical).
Os primeiros testes do primeiro carro voador nacional, o Eve, estão programados para o ano que vem. Em uma entrevista exclusiva ao Byte, a Eve Air Mobility — empresa independente que nasceu dentro da Embraer e hoje é sua maior acionista — relatou detalhes e como está a preparação para a implementação desse mercado no Brasil.
“A eletrificação do veículo reduz significativamente o custo de operação, tornando os voos urbanos mais acessíveis e sustentáveis à população brasileira. A operação permitirá que mais pessoas tenham acesso aos benefícios da mobilidade aérea urbana com um veículo com zero emissão”, disse ao Byte um porta-voz da empresa por WhatsApp, não identificado.
No entanto, o preço por passageiro no primeiro momento ainda será para poucos. Segundo já foi noticiado, cada viagem deverá custar inicialmente entre US$ 50 e US$ 100 (cerca de R$ 250 a R$ 500 por passageiro).
Como está acontecendo lá fora
Mas antes, cabe a contextualização global sobre o tema. Em 15 de outubro de 2023, a empresa Ehang, da China, anunciou que havia recebido a certificação da Administração de Aviação Civil do país, tornando-se a primeira empresa do mundo a obter tal certificação para aeronaves eVTOL de transporte de passageiros.
Na Europa, a startup alemã de táxi aéreo urbano Volocopter pretende lançar seu eVTOL de dois lugares, o VoloCity, até 2024. Com isso, Paris poder se tornar a primeira cidade da Europa a usar este serviço para transportar pessoas.
No Brasil, a Eve Air Mobility assinou em agosto uma parceria com a empresa de logística DHL Supply Chain para o planejamento de cadeira de suprimentos de peças da aeronave, que será fabricada em Taubaté (SP).
A parceria, segundo a Eve, visa garantir o fornecimento de peças de reposição, baterias e insumos, com foco nas particularidades de transporte, armazenamento e descarte das baterias.
Além disso, também foca na produção contínua de partes e peças para reparos e manutenção, logística das baterias e abastecimento de suprimentos gerais para os vertiportos, locais onde os tais carros voadores irão decolar e pousar.
Sobre o local e estrutura de produção, a Eve Air Mobility afirmou que estão aguardando algumas aprovações das autoridades para apresentar mais detalhes.
“A Eve está colaborando com autoridades, líderes do mercado de Mobilidade Aérea Urbana (UAM) em várias cidades-foco, e seus clientes, para tornar o mercado uma realidade”, diz o porta-voz.
Os estudos realizados pela empresa indicam que, para a mobilidade aérea urbana no Rio de Janeiro em 2035, por exemplo, espera-se contar com:
- 245 eVTOLs;
- Mais de 100 rotas;
- 37 vertiportos
- Aproximadamente 4,5 milhões de passageiros anuais.
“Esses números demonstram o potencial significativo da UAM no Brasil e o compromisso da Eve em desenvolver soluções eficientes e sustentáveis para atender à crescente demanda por transporte urbano”, disse a Eve Air Mobility.
A empresa destaca o fomento de um novo mercado, que representa um investimento significativo no país e um reforço no pioneirismo da indústria aeroespacial brasileira.
“Isso pode levar a um aumento na competitividade internacional do país nesse setor, contribuindo diretamente para a diversificação da economia, geração de empregos e inclusão social”, diz a empresa.
Detalhes técnicos do carro voador
- A aeronave é 100% elétrica e possui alcance de 100 quilômetros;
- Utiliza uma configuração de decolagem e cruzeiro — termo que identifica a velocidade do avião com motor em rendimento máximo;
- O sistema abrange oito rotores distribuídos em uma asa convencional dedicados para voo vertical e um motor para voar em cruzeiro como um avião, garantindo alto desempenho e segurança;
- Tem capacidade para quatro passageiros (sendo possível até seis em operação autônoma, conforme avanços regulatórios e de infraestrutura);
- Possui zero emissão de CO2, e até 90% menos ruído do que um helicóptero comum;
- Os voos com eVTOLs deverão reduzir viagens intraurbanas de mais de uma hora para 15 a 20 minutos.
- Com baixo custo de manutenção, atende a 99% dos trajetos intraurbanos das grandes metrópoles.
Os eVTOLs utilizarão a estrutura de um vertiporto para deslocamento. Segundo a fabricadora, helipontos existentes podem ser adaptados e equipados com estações de carregamento para comportar as operações.
O objetivo da Eve é que os vertiportos sejam organizados como centros de transporte, proporcionando às pessoas múltiplas opções de deslocamento, como trens, ônibus, bicicletas e patinetes, facilitando o trajeto até seus destinos.
Afinal, quando teremos carros voadores no Brasil?
O projeto dos carros voadores segue o cronograma previsto da Eve, com a campanha de testes esperada para 2024 e alvo para primeiras entregas e entrada em serviço em 2026.
“A empresa desde 2021 tem realizado diversas iniciativas de conceitos de operação e simulações que utilizam helicópteros como substitutos dos eVTOLs para testes de serviços terrestres, requisitos de infraestrutura e equipamentos, além do entendimento das jornadas do veículo e passageiros”, informou a Eve ao Byte.
A Eve Air Mobility afirma que o objetivo é estudar as operações, bem como as necessidades do operador do eVTOL e vertiportos criando conexões mais acessíveis e rápidas para as cidades foco.
“Os testes oferecem importante feedback para a empresa avançar no desenvolvimento não só de suas soluções, mas do mercado de mobilidade aérea urbana global.”
Quero voar em um eVTOL, como irá funcionar?
Segure a ansiedade de ter seu próprio carro voador para fugir do engarrafamento. O objetivo inicial dos eVTOL no Brasil é de funcionar como um transporte adicional para viagens de passageiros nos grandes centros urbanos e intercidades.
Segundo a Eve, os operadores — como companhias aéreas, operadores de helicópteros, plataformas de compartilhamento — serão responsáveis pela operação e rotas dentro de suas estratégias.
Ou seja, será como um aplicativo de carona. Mas, em um modelo mais futurístico e com preço mais salgado.
“O carro voador será conduzido por um piloto em um primeiro momento, mas a expectativa da empresa é a de que, no futuro, faça voos autônomos com passageiros, sem uma pessoa na cabine de comando”, diz o artigo.