Perfis progressistas e eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estão "redescobrindo" o WhatsApp Status para divulgar conteúdo político. Nas redes sociais, muitos afirmaram nos últimos dias que passaram a usar a ferramenta de postagens temporárias — que somem após 24 horas — para espalhar mensagens de apoio ao candidato ou propaganda negativa contra o oponente de Lula nas eleições, o presidente Jair Bolsonaro (PL).
O WhatsApp Status é uma ferramenta do WhatsApp semelhante ao Instagram Stories ou o Snapchat, mas com uma diferença: sua visualização não é pública. Cada perfil só consegue ver o Status das pessoas que estão em sua agenda de contatos telefônicos.
O principal argumento dos lulistas é que o Status era, até então, uma ferramenta menosprezada entre suas amizades, mas ela seria bastante acessada por pessoas "fora da bolha". Por exemplo, um contato de um prestador de serviço, colegas de trabalho e pessoas com as quais não conversa normalmente passariam a ver o conteúdo. Em última instância, poderia até virar voto de eleitores bolsonaristas, que por sua vez usariam a ferramenta regularmente há mais tempo.
"Não menosprezem o poder de difusão do 'Status' do Zap. Comecei a postar coisas lá e recebi feedback de gente totalmente fora da minha bolha, agora farei isso diariamente até o fim desse martírio", tuitou na quarta-feira (5) Juliano Dornelles, codiretor do filme "Bacurau".
A reportagem percebeu o aumento desta tendência em uma observação no aplicativo de segunda (3) a quinta-feira (6), primeiros dias do segundo turno das eleições. Nas redes sociais, também há sugestões de voltar a usar o Facebook e intensificar postagens pró-Lula ou anti-Bolsonaro nas demais plataformas.
Não menosprezem o poder de difusão do 'status' do zap. Comecei a postar coisas lá e recebi feedback de gente totalmente fora da minha bolha, agora farei isso diariamente até o fim desse martírio.
— Juliano Dornelles Lula da Silva (@jdornelles) October 5, 2022
Fio de materiais que estou produzindo de forma direcionada para públicos específicos.
📍Usem o status do WhatsApp.
📍Ressuscitem o Facebook.
📍Foquem em quem está aberto à mudanças.
📍Poste e espere a pessoa vir falar
📍Escute o que ela tem a dizer e responda com calma.
— Júlia Rocha (@juliarochasim) October 6, 2022
Vocês já pregaram a palavra lá no Facebook? Assim como o status do WhatsApp, é um espaço importante para ser ocupado.
— Nayara Felizardo (@NayaraFelizardo) October 6, 2022
Procurados por Byte, o WhatsApp e a Meta (empresa dona do app, ex-Facebook) disseram que não informam números sobre a quantidade de Status postados no aplicativo.
Segundo um levantamento recente da consultoria de marketing Opinion Box, esta é a função que atrai menos usuários no WhatsApp: apenas 37% dos entrevistados neste ano afirmaram usá-la. Em 2021, 54% usavam o recurso.
Mas postar WhatsApp Status realmente funciona para virar votos?
Segundo David Nemer, professor da Universidade da Virgínia (EUA) que estuda desinformação na internet, o uso do WhatsApp status pela bolha progressista é uma reação ao fato de que os bolsonaristas já usarem o Status dessa forma há muito mais tempo. Portanto, seria uma forma de estabelecer algum contato com os potenciais eleitores de Bolsonaro.
"No meu WhatsApp pessoal, só contatos que se alinham a Bolsonaro usavam essa funcionalidade.
Já no meu celular onde que monitoro o WhatsApp bolsonarista, ou seja, todos os contatos são bolsonaristas, a lista de pessoas que usa o Status é quase que interminável", destaca Nemer.
O professor diz que é difícil medir a eficácia da estratégia. "Muito desse efeito depende muito do conteúdo postado. Por exemplo, se for conteúdos atacando Bolsonaro pessoalmente, isso é encarado de uma forma defensiva pelos bolsonaristas. Se for conteúdo que traga dados e informações, pode ser que tenha um efeito", argumenta.
Raul Galhardi, mestre em produção jornalística e mercado pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), monitora grupos de discussão politica no WhatsApp. Ele concorda que a tática é melhor para "furar a bolha" do que em outros apps.
"Vamos supor que uma pessoa tenha 500 contatos de telefone, então está dialogando ali quase que diretamente com as 500 pessoas. Enquanto o algoritmo das redes sociais tem aquela redução, porque eles querem que você pague para promover o alcance. No Facebook, se não me engano, em torno de 5% dos seus contatos veem nossas publicações se não forem impulsionadas", explica.
As pessoas veem, mas não respondem Status
Por outro lado, Galhardi não acredita que o compartilhamento renda maiores debates eleitorais entre as pessoas. "Se você levar em conta que eu tenho centenas de contatos no celular, apenas duas, três, cinco pessoas vieram falar comigo sobre publicações minhas no Status. E normalmente os contatos eram para pedir aquele material que tinha sido postado. No meu microcosmo, nunca houve episódios de discussão."
Já Luis Fakhouri, diretor de estratégia da Palver, empresa de análise de dados que monitora 15 mil grupos públicos de WhatsApp, não sabe mensurar o aumento do Status por não ter os contatos dos participantes na agenda telefônica, mas notou um discreto aumento sobre a estratégia do Status. Um dos posts cita um guia para "virar votos do Lula" e uma das orientações é lançá-lo na ferramenta de posts temporários.
"Se está existindo uma campanha estruturada em torno disso, significa que esse é um ponto relevante a ser trabalhado pelas campanhas. E a tendência é que aumente, visto que as pessoas vão ter material farto pra compartilhar", opina Fakhouri.
