Um levantamento da empresa de dados Palver analisou mais de 15 mil grupos públicos no WhatsApp e mostrou que as alegações de fraude nas eleições têm volume maior no aplicativo de mensagens, apesar da disseminação de fake news sobre os dois candidatos à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
Os dados, coletados de 18 de julho a 14 de outubro de 2022, mostram que conteúdos de golpe e fraude nas eleições, durante o período analisado, permaneceram maiores do que as fake news contra Lula e as fake news contra Bolsonaro.
O gráfico abaixo analisa o número de mensagens enviadas de cada assunto a cada 200 mil mensagens trocadas no aplicativo.
Na sexta-feira (14), o número de mensagens referentes a fake news contra Bolsonaro atingiu o índice 159,7, enquanto as fake news contra Lula ficaram em 251,4. No que diz respeito às mensagens que questionam a integridade das urnas, o número passou de 1.400.
Já no domingo (16), dia do primeiro debate dos presidenciáveis que foram ao segundo turno — marcado para o dia 30 de outubro — o levantamento da Palver mostrou que as as mensagens de fake news contra Bolsonaro foram de 100,4 a cada 200 mil mensagens. Contra o ex-presidente Lula, o número mais do que dobrou — a cada 200 mil conteúdos compartilhados nos mais de 15 mil grupos, 224,4 mensagens continham conteúdos falsos contra o ex-presidente, candidato do PT.
As mensagens que contestavam a segurança das urnas ou traziam questionamentos de fraudes nas eleições foram 481,5 a cada 200 mil.
De acordo com Luis Fakhouri, diretor de estratégia da Palver, a tendência até o segundo turno das eleições é que permaneça “o mesmo tom, a depender das estratégias de campanha”.
“Acho que a narrativa de ‘golpe e fraude' vai depender muito da estratégia adotada nas campanhas. Na semana passada houve uma discussão em torno do relatório dos militares — fato que pode aumentar ou reduzir as narrativas”, disse a Byte.
Ainda assim, Fakhouri afirma que “se não houver nenhum fato novo, a tendência é que se mantenha [até o dia 30 de outubro]”.
Contestações das urnas
Um relatório elaborado pelo NetLab, grupo de pesquisa da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), obtido com exclusividade pela BBC News Brasil, mostrou algumas informações falsas antes do primeiro turno das eleições, em 2 de outubro.
As postagens citavam supostas "evidências" de fraude nas urnas eletrônicas e mensagens com orientações problemáticas sobre como os eleitores deveriam agir no dia e durante a votação, com incentivo ao uso do celular na seção eleitoral. O uso do aparelho na hora de votar, porém, é proibido por lei.
O tema é abertamente discutido por Jair Bolsonaro, que chegou a afirmar durante sabatina do Jornal Nacional, que "serão respeitados os resultados das urnas desde que as eleições sejam limpas e transparentes".
Outra análise foi feita pela Agência Pública, Aos Fatos e Núcleo Jornalismo, monitorou redes sociais e cerca de 2.000 grupos de Telegram e WhatsApp durante o primeiro turno.
O primeiro conteúdo que questiona o processo eleitoral foi um vídeo com 500 mil visualizações no TikTok que alegava que as urnas estariam sendo manipuladas por militantes em um sindicato em Itapeva (SP). Ele se espalhou com nuances em diferentes cidades, como Cordeiro (RJ), Serafina Corrêa (RS) e Brasília. As notícias falsas, que variam nos detalhes e acumularam milhares de visualizações e compartilhamentos, foram desmentidas pelo Aos Fatos nos dias que antecederam o primeiro turno.
No entanto, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) garante que não há fraude no processo eleitoral e que as urnas são seguras.
Após a votação no primeiro turno, o teste de urnas eletrônicas, solicitado pelos militares, atestou a segurança dos votos. Segundo dados divulgados pelo TSE, em todo o País, 2.044 eleitores participaram da testagem e todos os votos registrados foram fielmente registrados na urna. A participação direta de votantes foi exigida pelas Forças Armadas para assegurar a confiabilidade do teste dos equipamentos do tribunal.