Há exatamente dez anos, entrou online o YouTube, hoje um fenômeno de massa. Os americanos Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim fundaram a plataforma na Califórnia, com a intenção de tornar os vídeos de cineastas amadores mais acessíveis a todos.
O primeiro filme postado era uma breve, tremida sequência de elefantes no jardim zoológico de San Diego, Estados Unidos (EUA). Estava estabelecida uma tendência: desde então um enorme público clica sem parar em pandas que espirram, papagaios dançantes e gatos falantes do YouTube.
Mas o topo da lista dos mais assistidos cabe aos vídeoclips de música. E quanto mais excêntrico melhor: mais de 2 bilhões de espectadores já assistiram, por exemplo, a Gangnam Style, do sul-coreano Psy.
Substituto da televisão
Hoje, o YouTube é tudo aquilo que os jovens dos anos 90 buscavam nos chats, revistas para adolescentes e emissoras de música: conselhos, entretenimento, canais para discussão. Jovens videastas como o alemão Florian Mundt atraem a atenção abordando temas supostamente quotidianos, de igual para igual. Sob o nome artístico LeFloid, aliás, Mundt conta com 2 milhões de seguidores, a maioria na faixa etária dos 13 aos 25 anos.
A atual pesquisa JIM (Juventude, Informação, (Multi)Mídia), da Associação de Pedagogia da Mídia Sudoeste (MPFS, na sigla em alemão) confirma que 75% dos infonautas entre 12 e 19 anos de idade utilizam vídeoportais pelos menos algumas vezes por semana.
Depois da internet e do telefone celular, a televisão aparece em terceiro lugar, na preferência dos entrevistados: o YouTube simplesmente tomou o seu lugar, entre o público jovem. Segundo Le Floid, em entrevista ao site Vice.com, isso se deve ao fato de, ao contrário da TV, o vídeoportal não ser "um meio de comunicação chato, de mão única".
Entre hobby e comércio
Se atualmente o YouTube é um negócio bilionário, a multinacional Google já farejou esse potencial 19 meses após o portal de compartilhamento de vídeos ser lançado, e o comprou por 1,65 bilhão de dólares. A Google não revela quanto lucra com o YouTube, mas especialistas estimam que em 2014 o site faturou 1,13 bilhão de dólares com publicidade.
Tais rendimentos permitem que os grandes artistas do YouTube ganhem a vida, E, como quanto maior o alcance do vídeo, mais recebem, empresas de marketing como a Mediakraft fecham contratos com eles, a fim de aumentar o número de cliques – e, é claro, se beneficiarem do sucesso dos videastas.
Esse processo de comercialização colocou a Mediakraft na mira dos críticos, nos últimos meses, levando alguns de seus representados a rescindirem contrato. "Estão acontecendo muitas mudanças", comenta Nilam Farooq, aliás Daaruum, uma das mais populares artistas alemãs do YouTube.
Longe da ideia de fundação
Fundado num escritório em cima de uma pizzaria, na Califórnia, hoje o YouTube é uma verdadeira manufatura. Aqui se criam astros, escolhidos democraticamente pelo gosto dos usuários. Justin Bieber e Lana Del Rey se filmaram para a plataforma, antes de se tornarem famosos.
Até agora, tais histórias de sucesso glamuroso não aconteceram entre os artistas alemãs do vídeoportal. Pelo contrário: os jovens fãs querem ídolos que, ao mesmo tempo, possam ser o amigão do lado.
Esse é o caso de LeFloid: visíveis atrás dele estão suas modestas quatro paredes, tipicamente estudantis. De boné torto na cabeça, as olheiras são o testemunho de noites em claro, editando seus vídeos no computador.
O jovem alemão é a própria imagem do videasta amador que os três americanos tinham em mente, ao lançar o site, em 14 de fevereiro de 2005. E, no entanto, ele parece, ao mesmo tempo, a antítese absoluta do império bilionário em que o YouTube se transformou, em meros dez anos de história.