O que antes parecia ser uma distopia pode estar cada vez mais próxima da realidade. Em um dos episódios da temporada mais recente da série distópica - ou não tanto assim - Black Mirror, Joan Is Awful, os programas de entretenimento podem ser baseados nas vidas dos seus usuários, com avatares de Inteligência Artificial que te personificam com rostos famosos como o de Selma Hayek. Essas estratégias de inovação no entretenimento compõem o que o empresário Alan Nicolas, uma das maiores referências brasileiras em Inteligência Artificial, chama de transformação de conhecimento em soluções eficazes que seguem as tendências do futuro.
Não é mais novidade que as ferramentas de IA têm provocado uma reflexão sobre o funcionamento de diversos sistemas da sociedade e influenciado os modos de produção de conteúdos, mas existe a previsão de um impacto ainda maior que o atual. Apesar do uso de Inteligência Artificial ser limitado nos ambientes de produção musical e cinematográfica (uma pauta levantada por atores, diretores e roteiristas de Hollywood), ela se faz presente em outros ramos do entretenimento.
As ferramentas de IA podem, por exemplo, tornar a experiência de consumo cada vez mais personalizada. O que era gerido por algoritmos, que calculavam uma certa previsibilidade de acordo com dados de consumo, pode ser mais eficaz com estes softwares. O uso da Inteligência Artificial também pode tornar o consumo de filmes, séries e jogos mais interativos.
Em novembro deste ano, o ator, diretor e roteirista Ben Affleck, conhecido por interpretar o Batman de Zack Snyder, comentou durante cúpula organizada pelo canal CNBC, a Delivering Alpha 2024, que a IA tem um potencial de auxílio técnico muito satisfatório, mas ainda está muito distante de substituir o trabalho humano no entretenimento.
"A IA pode escrever para você um poema imitativo excelente que parece ter saído do período elisabetano, mas não consegue escrever um Shakespeare. A dinâmica de ter dois, três ou quatro atores em um ambiente e o gosto para discernir e construir… isso é algo que, no momento, está totalmente fora da alçada da IA, e acredito que continuará assim por um bom tempo", afirmou.
Affleck tem esperança, no entanto, de que a tendência da Inteligência Artificial seja uma "democratização" dos espaços de produção, por cortar alguns custos e facilitar o trabalho técnico de produção: "O que a IA fará é desintermediar os aspectos mais trabalhosos, menos criativos e mais custosos da produção cinematográfica, o que permitirá que os custos sejam reduzidos, diminuirá a barreira de entrada, permitirá que mais vozes sejam ouvidas, tornará mais fácil para as pessoas que querem fazer Gênio Indomável sair", opinou.
Hollywood tem apostado no uso de softwares de Inteligência Artificial para otimização na maior parte, de efeitos práticos (o famoso CGI, que toma grande parte da pós-produção de audiovisuais). Mas outras grandes cabeças da indústria cinematográfica, como a China, têm experimentado maiores possibilidades de criação com a ferramenta.
Em abril deste ano, a produtora TCL divulgou o curta-metragem Next Stop Paris, cuja animação foi realizada por meio de ferramenta de IA. A maior parte do trabalho (direção, roteirização, produção, dublagem, pós-produção etc.) foi produzida por uma equipe de profissionais do audiovisual. O curta é um romance que se passa nas ruas da capital francesa, contando com cenários famosos, como a Torre Eiffel, gerada por Inteligência Artificial.
"Estamos capacitando criadores e contadores de histórias a usarem esta nova tecnologia para enriquecer a experiência humana. Estes trabalhos criativos com imaginação ilimitada impulsionarão inovações sem fim. Vemos o Next Stop Paris como uma experiência inicial e estamos entusiasmados em ver como será recebido", contou a diretora Chris Regina na época do lançamento, no início de 2024.