AmarElo dá aula sobre a arte da cultura negra no Brasil

Documentário de Emicida para a Netflix surpreende e vai muito além do show do rapper no Theatro Municipal

8 dez 2020 - 10h25
(atualizado às 12h09)

Depois de uma espera cheia de ansiedade pelos fãs, AmarElo - É Tudo Pra Ontem estreou nesta terça-feira, 08, na Netflix. O filme de Emicida, que foi dirigido por Fred Ouro Preto e produzido por Evandro Fióti, decidiu optar pela ousadia e ir além do óbvio. Se o espectador esperava "apenas" um registro do show do rapper no Theatro Municipal, ele recebe muito mais do que isso.

De acordo com Evandro Fióti, o documentário foi um dos projetos mais inspiradores e revolucionários da Laboratório Fantasma e tem como finalidade contar os cem anos da arte da cultura negra no Brasil, celebrando a memória dos antepassados.

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E é exatamente isso o que a produção entrega. Em uma hora e meia, AmarElo faz uma costura sensível e acertada entre a trajetória de vida de Emicida, os bastidores do álbum que leva o mesmo nome do documentário, a apresentação no Theatro Municipal e a história, legado, lutas e conquistas do povo negro brasileiro.

Documentário de Emicida estreia na Netflix nesta terça-feira, 8
Documentário de Emicida estreia na Netflix nesta terça-feira, 8
Foto: Netflix

Emicida consegue explicar didaticamente a importância da escolha do Theatro Municipal para a performance das músicas de seu último álbum. Depois de uma contextualização fundamental sobre escravidão, política de branqueamento e racismo, o artista argumenta que muitos negros e negras nunca sequer pisaram no local. “Essa é a nossa forma de dizer para todas as pessoas que têm uma origem que nem a nossa que esse espaço é deles, que a gente precisa, sim, ocupar esse tipo de espaço”.

Depois disso, o rapper informa que vai ser necessário fazer uma viagem no tempo. Como uma verdadeira aula de história, dividida em três atos (Plantar, Regar e Colher), o documentário volta para a década de 1920 para falar sobre a origem de um dos ritmos mais importantes no Brasil: o samba. Emicida ressalta como o rap aqui no Brasil absorveu muitas coisas do gênero musical e faz uma bonita homenagem ao samba e às suas ramificações, como a bossa nova e o samba-rock, e sugere a elaboração de uma nova vertente: o neo-samba.

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A produção também destaca a importância da semana de arte moderna em 1922, ressaltando que "sambistas e modernistas abalariam as ideias do passado".

Ao longo da narrativa, AmarElo - É Tudo Pra Ontem tem o objetivo de informar e celebrar todo o legado do povo negro, homenageando a arte em suas diversas formas, seja na música, na literatura, no teatro, na moda e também, mas não menos importante, na arquitetura e na política. O documentário exalta a herança deixada por grandes nomes, como Tebas, Pixinguinha, Donga, Ismael Silva, Wilson das Neves, Zeca Pagodinho, Lélia Gonzalez, Leci Brandão, Wilson Simonal, Abdias do Nascimento, Ruth de Souza e muitos outros.

Emicida se apresentou em novembro de 2019 no Theatro Municipal, em São Paulo
Foto: Jef Delgado / Netflix

No meio de tanta história e riqueza cultural, o telespectador também pode conferir as poéticas e fortes cenas da apresentação de Emicida no Theatro Municipal, que foi realizada em novembro de 2019. O panorama oferecido pelo documentário torna a obra do rapper mais clara e cheia de significados.

Sem perder o fôlego, a produção ainda deixa para o final os bastidores da potente parceria entre Emicida, Majur e Pabllo Vittar para a música AmarElo. Segundo o rapper, o trio estava “juntando as bandeiras, [porque] não tem como lutar por liberdade pela metade” e o nome da canção (que também nomeia o álbum e o documentário) tem o significado de usar a força do Amar para contruir o Elo.

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AmarElo - É Tudo Pra Ontem já está disponível na Netflix.

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Fonte: Redação Terra
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