Em pouco mais de 1 mês, a direção do jornalismo da Globo mudou de opinião a respeito da divulgação de pesquisas de intenção de votos da eleição presidencial do ano que vem.
No dia 12 de maio, quem sintonizou o ‘Jornal Nacional’ a fim de conferir o levantamento do Datafolha – o primeiro após o ex-presidente Lula ter reconquistado a elegibilidade – ficou sem informação.
O telejornal mais assistido da televisão brasileira ignorou o resultado amplamente repercutido por programas jornalísticos de outros canais e a imprensa em geral.
Houve reação ruidosa no meio político, nas redes sociais e entre jornalistas que cobrem programação de TV. Pegou mal para o ‘JN’.
Suscitou a impressão de não ter divulgado a pesquisa para não promover Lula. O petista apareceu em confortável vantagem sobre Jair Bolsonaro nas sondagens de 1º e 2º turnos (41% x 23% e 53% x 32%, respectivamente).
Na sexta-feira (25), o ‘JN’ dedicou 1 minuto e 50 segundos para repercutir, com gráficos, a pesquisa de intenção de votos realizada pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria).
O novo instituto foi criado por ex-executivos e pesquisadores do Ibope Inteligência. Nesta aferição, Lula venceria em 1º turno com 49%. Bolsonaro aparece em segundo, com 23%.
Por que essa mudança de postura editorial? Ao ser questionada por veículos de comunicação, a emissora disse que Bolsonaro antecipou o debate sobre a corrida presidencial de 2022 com declarações e atitudes e, por isso, antecipou o início da cobertura da próxima eleição em seus telejornais.
Das 7h à meia-noite, a Globo tem mais do que a média de audiência somada de Record, SBT, Band e RedeTV. Trata-se, indiscutivelmente, da maior influenciadora do País. Toda noite, o ‘Jornal Nacional’ atinge cerca de 50 milhões de brasileiros, o equivalente a 1/3 dos 147,9 milhões de eleitores aptos.
Qualquer informação – positiva ou negativa – destacada por William Bonner e Renata Vasconcellos gera efeito imediato. Uma pesquisa apresentada no ‘JN’ pode consolidar votos e também incitar muita gente a mudar de candidato pela ideia de ‘votar em quem está ganhando’.
Com imensurável poder de influência, o principal telejornal da Globo se torna uma espécie de cabo eleitoral na TV. Na campanha eleitoral de 2018, a cobertura diária da Operação Lava Jato e do imbróglio judicial de Lula certamente refletiu nas urnas.
Prova maior da força do ‘Jornal Nacional’ é a cruzada de Jair Bolsonaro contra o telejornal. Dizendo-se “perseguido”, o presidente rebate matérias desfavoráveis a ele, xinga os âncoras e destrata repórteres com o microfone da Globo. Ele sabe que o ‘JN’ é um adversário tão difícil quanto Lula.