O velório de Gal Costa, que morreu em casa aos 77 anos, na última quarta-feira, 9, reuniu uma grande fila de fãs ao lado de fora da Assembleia Legislativa de São Paulo, Zona Sul da capital paulista, na manhã desta sexta-feira, 11. A entrada do público foi liberada por volta das 9h20 e permaneceu aberta até as 15h.
O corpo foi retirado da Alesp às 15h05, em direção ao Cemitério 3º Ordem do Carmo, no Centro de São Paulo. O enterro é restrito para amigos próximos e familiares.
Fãs, familiares e famos amigos da musa da Tropicália se despediram da artista, seja pessoalmente ou enviando coroas de flores. O filho da cantora, Gabriel Costa, e a viúva Wilma Petrillo permaneceram ao lado do corpo a maior parte do tempo.
Estiveram na despedida Zélia Duncan, Miriam Leitão, a atriz Sophie Charlotte --que interpretou Gal no filme 'Meu Nome é Gal'--, a diretora Dandara Ferreira, o ator Julio Andrade, Serginho Groisman, Bela Gil, a futura primeira-dama Janja e o vereador Eduardo Suplicy. A cantora Maria Gadú chegou pouco antes das 15h, assim como o afilhado de Gal e filho de Caetano Veloso, Moreno Veloso.
Outras celebridades homenagearam Gal Costa enviando coroas de flores. Entre elas, Angélica e Luciano Huck, Carlinhos Brown, Silvio Santos, Boninho e Ana Furtado e Jorge Ben Jor.
O irmão de santo de Gal Costa, Alan Brandão dos Santos, de 32 anos, passou mal durante o velório e precisou deixar o local para medir a pressão e tomar um ar.
"Dentro das nossas crenças e da nossa religião, a gente entende a finitude e sabe que ela agora descansa nos braços calorosos e amorosos de Olorum, mas a partida física é sempre uma das coisas mais dolorosas", disse ele, que destacou a imortalidade da cantora. "A imortalidade em vida é muito difícil, poucos conseguem e Gal conseguiu a imortalidade pós-vida. Então ela é plena em tudo."
Uma fã também passou mal, quase caiu sobre as grades de proteção e teve que ser socorrida por bombeiros. "Foi muita emoção para ela", disse o bombeiro Tonello. Segundo ele, a mulher teve um mal estar, mas foi avaliada pelo médico e passa bem.
Fila de fãs
Um dos primeiros da fila que se formou antes da abertura da Alesp, o aposentado Antônio da Paz, de 67 anos, chegou ao local às 6h para dar o último adeus a Gal.
"Perdemos uma grande cantora, que transmitia muita alegria e paz com as suas músicas", lamentou ele, antes de relembrar o trecho da sua música favorita: "Fagulhas, pontas de agulhas, brilham estrelas de São João".
Em meio a muitos cartazes, os fãs não escondem a dor e a tristeza pela perda. "Ela não morre, quem morre é a gente", afirmou o publicitário Gustavo, de 24 anos. "Desmoronei. Foi uma morte muito inesperada", disse ele, segurando um livro autografado pela cantora na última vez que a viu com vida.
"Ela com certeza será eleita a rainha do céu", disse o autônomo Carlos Alberto Esquetine, 52 anos, que relatou ser fã de Gal Costa desde a infância. "Tenho todos os discos dela", conta ele, que lamenta nunca tê-la visto em vida. "Ela deixa um legado muito grande."
Já o aposentado Dorival Alves de Queiroz, de 65 anos, destacou a importância da cantora para a sua geração. "Representou muito a minha geração, em questão de comportamento. É triste saber que não vou poder mais assistir aos shows dela."
Causa morte não será divulgada
A causa da morte de Gal Costa não será divulgada. A informação foi passada pela assessora e produtora da musa da Tropicália, Giovana Chanley. A decisão é em respeito a um pedido da família.
Recentemente ela tinha passado por uma cirurgia para retirar um nódulo na fossa nasal direita e se afastou dos palcos por recomendação médica. Ela era uma das atrações do festival Primavera Sound, no último fim de semana, mas a apresentação foi cancelada de última hora.
A cirurgia foi feita em setembro, após a apresentação da cantora no Coala, outro festival de música em São Paulo. Ela não voltou a se apresentar depois, mas tinha turnê marcada para dezembro e janeiro.
História na música
Gal Costa foi uma das maiores vozes da música popular brasileira desde que começou a cantar, na década de 1960. Adolescente, ela integrou o grupo Doces Bárbaros, junto com os também baianos Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gilberto Gil. O grupo lançou um disco que definiu o gênero musical na década de 1970.
Foi também parte importante do movimento tropicalista quando participou do álbum "Tropicália ou Panis et Circensis". Em 1971, ela fez parte do espetáculo "Fa-Tal", que também se tornou um álbum reverenciado na música brasileira.
Na década de 80, sua voz deu vida para temas de novelas, e seus álbuns em parceria com diversos artistas da MPB fizeram grande sucesso. Foi nessa década que Gal Costa abraçou causas sociais e se mostrou ativista, usando a música para trazer visibilidade para causas como a seca no Nordeste.
Suas criações sempre tiveram co-participação de artistas relevantes, e nos trabalhos mais recentes, Gal arriscava incluir sons eletrônicos para atualizar sua obra, como no álbum Recanto, de 2011, aclamado pela crítica.
Em 2019, lançou o elogiado show A Pele do Futuro, com direção musical de Pupillo e direção geral de Marcus Preto, que virou um CD duplo e DVD.
Antes de morrer, Gal estava com a vida profissional atribulada, com a turnê "As várias pontas de uma estrela", na qual interpretava grandes sucessos da MPB dos anos 80. Ela também se programava para uma turnê na Europa.