Afinal, o que pode acontecer quando se juntam duas de suas grandes paixões? No caso, o Yuval Harari e gibis? Eu diria que se torna um item obrigatório, sobretudo numa casa com um adolescente de 14 anos e uma menina de 9, com o fogo da curiosidade ardendo nos olhos, com um agravante.
Já contei nas minhas redes sociais a história de Roma e a Nina, minha filha de 9 anos. Tirei-a da piscina ao final da aula de natação, eu estava com uma camisa da Roma, o time italiano, que tem a loba e os gêmeos no escudo. Ela me perguntou o que era, expliquei de forma bem resumida como foi a origem de Roma, ela ficou me olhando... precisei ir pegar algo na minha mochila em outro armário, pedi pra ela ficar quietinha no banco da sala de jogos, quando voltei, estava conversando com uma moça.
"Eu estava aprendendo com a sua filha como que a cidade de Roma foi fundada."
Eu me senti obrigado a explicar que eu era uma pessoa normal e que não ficava dando palestrinha antropológica para a minha filha.
Porque aprendi com o meu pai, que sairia publicando no Instagram que não existia na sua época, que sua neta de 5 anos sabe explicar a origem de uma cidade que foi o berço da civilização.
Um amigo meu viu com outros olhos esse fato. Comparou com o solo fértil e a boa adubação. Que a Nina é o solo fértil e eu, ainda que de forma inconsciente, sirvo como adubo para que ela aprenda e desenvolva algumas habilidades.
Como a de achar que era uma boa ideia relatar a uma desconhecida como Roma foi fundada, por exemplo.
No caso do Duda, meu filho de 14 anos, seria necessário que essa história viesse em algum mangá, um anime, uma dancinha de TikTok ou numa fase de Fortnite para que ele demonstrasse um mínimo de interesse.
E neste caso, uso uma figura associativa do boxe para tentar manter nossa relação próxima: "encurtar a distância".
Não para encaixar ganchos, cruzados e diretos, mas para que caiba um abraço, um beijo e um sorriso em nossa relação.
E nesse ponto, o Yuval me ajuda muito.
Porque eu sempre fui da turma que entende que saber é bom, mas saber explicar é divino. E o Yuval sabe! Ele consegue transmitir o que quer e isso talvez seja algo que mais desperta a minha admiração.
Não só no aspecto da minha profissão, porque tenho que escrever coisas que conectem um possível cliente com um problema a uma empresa que tem a solução.
Mas também, para que o meu filho compreenda, com relutância veemente, que existe uma diferença muito grande entre estar de férias e "estar de recuperação". Ou o valor do dinheiro. Ou a relação entre se esforçar no campo de futebol e acreditar no tapa da sua canhota abençoada e seu estilo de jogo com a cabeça erguida.
A vida se encarrega de ir colocando esses mentores como o Yuval no nosso caminho, para que a gente consiga encurtar a distância.
Na paternidade, no trabalho, nas relações de amizade e depois que a gente passa por um divórcio, nas formas subsequentes de relacionamento. Gente que sabe explicar.
Para quem gosta de aprender, isso vale ouro.
E os dois primeiros volumes do Yuval estão aqui, prontos para serem devorados pela Nina e na esperança de serem lidos parcimoniosamente (e talvez mediante suborno) pelo Duda.
Cada um no seu tempo e do seu jeito.
(*) Randall Neto é escritor, produtor de conteúdo e copywriter.