Se Antonio Nóbrega fosse um verbete do dicionário, certamente teria como um dos seus significados o termo “cultura popular brasileira”. O artista e pesquisador da nossa cultura prepara com sua companhia um novo trabalho, que se chamará “Pai”. A estreia será em hoje no Festival O Boticário na Dança. Em entrevista ao Terra, Nóbrega falou sobre sua trajetória e sobre as inquietações de seu novo espetáculo.
“É a primeira vez que me sinto a vontade para a reflexão de um tema em cena”, afirma ao falar sobre o novo espetáculo que, segundo ele, não aborda a questão de gênero ‘homem e mulher’, mas sim de ‘campos de forças diferentes’.
“A ausência da figura paterna causa um desequilíbrio, uma visão distorcida, porque vivemos em um mundo polarizado, onde há o feminino e o masculino”, explica Nóbrega, que está há três meses envolvido com os ensaios e preparativos de “Pai”. Embora vá tratar de um tema denso, no espetáculo os dançarinos fazem do palco um grande jogo de tabuleiro, onde giram, saltam e fazem piruetas.
Nóbrega também afirma que as danças populares avançaram no que se refere à valorização diante das danças eruditas. “Participar de um evento como o Festival "O Boticário na Dança" e poder se apresentar em uma sala importante como o Auditório Ibirapuera é um reconhecimento de que o imaginário popular tem alguma coisa a dizer”.
A dança popular no Brasil
Sempre didático, uma conversa com Nóbrega se transforma facilmente em uma agradável aula. “A linhagem das danças populares no Brasil tem origem na tradição ocidental europeia, mas tem muita influência da cultura africana e até mesmo asiática. É possível ter música sem dança, porque a música é independente. Mas, ter dança sem música... A dança possui em si um caráter musical”, ensina o artista brincante.
“Nas danças populares, o espírito contemporâneo se encontra com o espírito erudito e com o espírito popular”, resume Nóbrega explicando como a cultura popular está em constante movimento e atualizada. “Na dança, especialmente na dança contemporânea, a música surge como uma paisagem sonora. Nos meus espetáculos, além de paisagem sonora a música traz o ritmo. E o ritmo reverbera nos bailarinos. Uso a música para dançar por vocação e interesse, pois ao longo destes anos venho procurando trazer à tona o universo popular”, conclui.
Quem é Antonio Nóbrega?
Nascido na capital pernambucana em 1952, Nóbrega começou sua carreira artística como violinista. “Foi meu pai quem me encaminhou para a música quando viu que eu tinha aptidão”, relembra. O menino, que começou a tocar aos oito anos, foi aluno da Escola de Belas Artes do Recife e prosseguiu na música até que recebeu um extraordinário convite do escritor Ariano Suassuna.
“Ele me convidou para integrar o Quinteto Armorial. Foi, então, a partir daquela busca por uma música legitimamente brasileira que entrei em contato com a dança. Eu já tinha 19 anos”, conta o multinstrumentista que dali em diante tornou-se também dançarino. O Quinteto Armorial foi um grupo musical idealizado por Suassuna, que de 1970 a 1980, tinha como proposta criar uma música erudita com raízes populares.
Hoje vive e trabalha em São Paulo, onde fundou o Instituto Brincantes.
Serviço
“Pai” (estreia mundial)
Companhia Antonio Nóbrega de Dança
Auditório Ibirapuera
8 de maio, 21h