No imaginário brasileiro, o limão produzido na Península de Sorrento, sul da Itália, é um símbolo do país da bota. Isso fez com que o artista plástico italiano radicado no Brasil Guido Totoli, 87, tivesse de reproduzir as belas frutas diversas vezes em cerâmicas e painéis encomendados por restaurantes nacionais.
Em sua residência e ateliê no bairro do Butantã, em São Paulo, o amarelo-cítrico dos limões de Sorrento se mistura com tantas outras cores e formas dos incontáveis trabalhos de Totoli, que também incluem pinturas, esculturas e desenhos, mas, em entrevista à ANSA, ele admite que as incontáveis reproduções da fruta eram apenas uma forma de pagar as contas.
"Para ser sincero, não curto pintar limões, mas as despesas são muitas", justifica-se o artista, que chegou ao Brasil em 1958 e tornou-se uma referência da comunidade italiana, com obras em instituições como o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e o Museu de Arte do Parlamento de São Paulo. No entanto, "como é difícil viver de arte", ele ganhou a vida na capital paulista produzindo cartazes publicitários durante muitos anos.
Nascido na "muito linda" Mercato Cilento, província de Salerno, Totoli cresceu em meio a monumentos greco-romanos e em uma casa com vista para atrações turísticas como a Ilha de Capri e a Costa Amalfitana.
Ele estudou "um pouco" sobre artes na Itália, mas foi em território brasileiro que aprimorou seu talento com técnicas variadas, ao conhecer vários pintores de origem italiana. Na lista de mestres estão desde artistas famosos, como Alfredo Volpi (1896-1988) e Candido Portinari (1903-1962), até outros menos conhecidos do público, como Angelo Simeone (1899-1974) e Hugo Adami (1899-1999).
Durante as celebrações dos 150 anos da imigração italiana no Brasil, em 2024, o artista da Campânia, uma das regiões que mais enviaram imigrantes para São Paulo, inaugurou na cidade paulista de Amparo um painel inteiramente feito com azulejos artesanais pintados à mão em seu ateliê. A obra retrata a passagem do tempo, desde a chegada de seus conterrâneos no navio, em 1874, passando pela contribuição em áreas como lavouras, fábricas, indústrias, artes, música, teatro, ópera e literatura, até os dias atuais.
"Contribuí em trazer algo da Itália, em representar bem o meu país", reflete Totoli, homenageado recentemente no Consulado-Geral da Itália de São Paulo, que inaugurou uma escultura em terracota feita pelo artista para festejar os 150 anos da imigração.
Apesar de ter respondido "mais de 50 vezes" por que se transferiu ao Brasil, o italiano não tem uma explicação exata.
Ele conta que seus irmãos e demais parentes imigraram aos Estados Unidos após o fim da Segunda Guerra Mundial, para onde ele também deveria ir. No entanto, como sua noiva, Pietra, se mudou para a América do Sul, ele decidiu vir atrás dela, com quem se casou em 1961.
O casal, que permanece junto até hoje, teve dois filhos brasileiros. "Acho que era destino", conclui. .