O ator americano Matt Damon confessou que só recentemente parou de usar a palavra f* (xingamento homofóbico em inglês não reproduzido pela BBC) depois que sua filha explicou que era inaceitável.
Damon disse ao jornal britânico The Sunday Times que ela lhe escreveu "um texto muito longo e lindo sobre como essa palavra é perigosa", depois que ele a usou em uma piada. O ator disse que o termo depreciativo para homens gays "era comumente usado quando eu era criança, com uma aplicação diferente".
"Ela deixou a mesa", lembrou ele sobre o desentendimento familiar. "Eu disse: 'Isso é uma piada! Eu digo isso no filme Ligado em Você (comédia dramática estrelada por Damon e Greg Kinnear)!'. Mas ela foi para o quarto e escreveu um texto muito longo e bonito sobre como essa palavra é perigosa. Eu falei: 'Retiro o que disse!' Entendi o recado."
Mas a confissão de Damon não lhe deu a repercussão que ele possivelmente esperava. Nas redes sociais, o comediante, ator e escritor americano Travon Free sugeriu que a percepção do ator sobre o uso do termo veio "um pouco tarde demais".
"Então, Matt Damon descobriu 'meses atrás', por meio de um 'texto' de uma criança, que ele não deveria dizer a palavra", postou o escritor, que se identifica como bissexual. "Meses atrás ... Meses atrás", reforçou Free.
"Quero saber por qual palavra Matt Damon substituiu [f*]," perguntou o ator Billy Eichner, aparentemente não convencido pela história de Damon.
O crítico de TV do site Hollywood Reporter Daniel Fienberg observou: "É sempre esclarecedor ouvir histórias que pessoas como (o ator) Liam Neeson ou Matt Damon acham que são humanizantes e charmosas, mas realmente revelam sua falta de percepção da realidade (entre outras coisas desagradáveis)".
Fienberg se referia a uma entrevista que Neeson deu em 2019, na qual disse que reagiu ao estupro de uma amiga próxima saindo às ruas com a intenção de matar um negro. Embora o ator expressasse vergonha e horror por suas ações, os comentários geraram choque e críticas generalizadas.
Damon contou a história envolvendo ele e sua filha enquanto promovia seu novo filme, Stillwater, que o diretor Tom McCarthy disse ter sido inspirado pela luta legal de Amanda Knox para ser inocentada do assassinato de Meredith Kercher.
Knox criticou recentemente os cineastas por "lucrarem" com sua condenação por homicídio injusto. Ela passou quase quatro anos em uma prisão na Itália acusada de matar Kercher, sua colega de intercâmbio, com quem vivia num apartamento. Em 2015, ela foi absolvida pela Justiça italiana.
Não é a primeira vez que Damon se envolve em polêmica. Em 2017, no auge do movimento #MeToo, Damon disse a repórteres que o comportamento sexual impróprio precisava ser visto como existindo dentro de um "espectro".
Recentemente, ele se desculpou pelos comentários, admitindo estar "fora da realidade". "Como todo mundo, sou um prisioneiro de minha experiência subjetiva e isso me leva a pontos cegos", disse ele ao jornal americano The New York Times .
"Eu mais do que a maioria, dada a experiência que tive como um astro de cinema americano branco. É um ar muito rarefeito. Eu nem sei onde meus pontos cegos começam e terminam. Então, sim, eu estava e estou fora da realidade. Tento o meu melhor para não ser assim."
O uso da palavra que rendeu críticas a Damon é cercado de polêmicas e tem sido amplamente debatido nos últimos anos. Termo depreciativo para caracterizar homossexuais do sexo masculino, teve origem nos Estados Unidos e se difundiu por países de língua inglesa.
No Reino Unido, uma das controvérsias mais notórias, que se estende desde o fim dos anos 1980, envolve a canção de sucesso Fairytale Of New York, da banda de rock irlandesa The Pogues, a mais tocada no período de Natal.
A discussão se centra em um trecho específico da música em que o termo é mecionado, com opiniões divididas sobre se ele pode ser cantado ou não. Emissoras britânicas, incluindo a BBC, optaram por censurar ou alterar palavras da canção, em meio a críticas.