Todo dia 5 de novembro a Inglaterra, Austrália, Nova Zelândia e outros países que fizeram parte do império britânico fazem grandes fogueiras e estouram fogos de artifício. É o Guy Fawkes Day, ou Bonfire Day (dia da fogueira).
A celebração inclui fazer o boneco de um homem e destruir ele, como no Brasil existe a tradição de “malhar o judas”. Depois a galera bota fogo nele, canta canções tradicionais, estoura fogos de artifício, e toma todas.
Foi em 1605 que um grupo de conspiradores católicos tentou explodir a elite da Inglaterra.
Eles colocaram oitocentos quilos de pólvora no porão do Palácio de Westminster, na cerimônia de abertura do parlamento.
O plano era explodir tudo e derrubar o teto na cabeça de todos os parlamentares e mais o rei James I e sua família.
Não deu certo o plano, que ficou conhecido como Conspiração da Pólvora.
Guy Fawkes tinha 16 anos quando decidiu trair seu país. Porque a Inglaterra vivia sob um rei protestante, que reprimia violentamente quem não fosse.
Puritanos e católicos eram tratados como rebeldes e esmagados.
Mas demorou vinte anos para ele tentar matar o rei. Nessas duas décadas, ele foi na maior parte do tempo, soldado.
Católico, durante dez anos lutou pela Espanha, arquiinimiga da Inglaterra. Enfrentou inclusive as tropas do “nosso” Maurício de Nassau, o invasor holandês de Pernambuco. Aprendeu muito sobre explosivos.
Quando chegou a hora, era o homem que os conspiradores precisavam para detonar o Parlamento. Mas Guy foi pego, pouco depois da meia noite do dia 5 de novembro de 1605.
E a história é escrita pelos vencedores.
Naturalmente, ele não pensava que era um traidor. Ele tinha convicção de que lutava pela liberdade. Matar toda a aristocracia do país era a coisa certa a fazer.
Tanto, que resistiu três dias sob tortura sem revelar quem eram os outros conspiradores. Só quando soube que eles já tinham sido revelados, confirmou o plano e nomeou todos eles.
Quer saber qual era a punição para traição? Chama-se “hanged, drawn and quartered”. Foi como morreu William Wallace. Assistiu “Coração Valente”?
Primeiro você é enforcado, quase até a morte.
Depois, eviscerado e emasculado. O carrasco te arranca à faca pênis, testículos e vísceras.
Ele tem que ser bem rápido, porque é fundamental queimar essas partes aos olhos da vítima – enquanto ela ainda vive.
Já morto, o corpo é esquartejado.
Cabeça e os quatro membros são colocados em estacas em pontos diferentes da cidade e deixados para apodrecer, para que toda a população percebesse o que acontecia com traidores.
Agora, quer saber como Guy Fawkes morreu?
Muito fraco depois de ser torturado, ele foi o último dos conspiradores a ser levado para a forca. Subiu lentamente os degraus.
O carrasco colocou a corda sobre o seu pescoço e puxou o nó. Guy Fawkes pulou lá de cima. A forca quebrou seu pescoço instantaneamente.
Se você acha que um governo que faz isso com seus inimigos merece ser explodido, não está sozinho.
Para algumas pessoas, Guy Fawkes se tornou um símbolo de rebelião contra um estado opressor. Anarquistas ingleses foram os primeiros a reabilitar Fawkes. Um pôster famoso dos anos 70 proclamava, “Guy Fawkes – o último homem honesto a entrar no Parlamento”.
Foi um anarquista dos dias de hoje quem mais contribuiu para Guy Fawkes se tornar um símbolo mundial de rebeldia. É o escritor Alan Moore, e explico esta conexão neste vídeo.
(*) André Forastieri é jornalista e empreendedor, fundador de Homework e da agência Compasso, e também realiza mentorias com profissionais e executivos. Saiba mais andreforastieri.com.br.