1917, filme dirigido pelo britânico Sam Mendes sobre a Primeira Guerra Mundial, transcorre em apenas dois planos-sequência (como se fossem duas grandes cenas, com apenas uma interrupção).
E essa destreza técnica contribuiu para que a obra fosse indicada a dez categorias do Oscar, entre elas a de melhor filme e de melhor diretor.
O longa de Mendes, premiado no Oscar em 2000 por Beleza Americana, trata de dois soldados britânicos que são enviados, através de um campo de batalha, para levar uma mensagem que pode salvar a vida de 1,6 mil integrantes de um regimento de Devonshire durante a batalha de Passchendaele.
Mas quão reais são os eventos históricos em que o novo filme se baseia? E por que a grande parte dos críticos já o colocou como favorito ao Oscar?
Baseado "vagamente" em fatos reais
O longa se passa em um cenário verdadeiro: a Primeira Guerra Mundial, que transcorreu de 1914 a 1918 e teve como cenário central o continente europeu, principalmente o norte da França. Mais de 17 milhões de pessoas morreram no conflito.
Segundo o diretor relatou em um podcast da revista especializada Variety, a história de 1917 se baseia no relato que seu avô, Alfred Mendes, lhe fez na infância.
"Havia uma história que era um fragmento do relato de meu avô, que lutou na Primeira Guerra. Era a história de um mensageiro que tinha um recado para levar. E isso era tudo que podia contar", relembra o diretor.
"Essa história, ou esse fragmento, permaneceu comigo e obviamente eu a ampliei e fiz mudanças enormes, mas a essência é a mesma."
Alfred Mendes, que nasceu na ilha caribenha de Trinidad e Tobago, se mudou para o Reino Unido e se juntou ao Exército britânico que lutou no norte da França.
No longa, os personagens principais são o soldado Blake (Dean-Charles Chapman, de Game of Thrones), seu companheiro Schofield (George MacKay, de Capitão Fantástico), o general Erinmore (Colin Firth, de O Discurso do Rei) e o coronel MacKenzie (Benedict Cumberbatch, de Sherlock).
Mas nenhum deles existiu na realidade. Alguns apontam que Blake se inspira no avô de Sam Mendes, que escreveu um livro de memórias sobre sua participação da Primeira Guerra Mundial.
E como aponta o portal History and Hollywood, o maior combate retratado no longa pode ser a batalha de Passchendaele ou a terceira batalha de Ypres, que durou de 31 de julho a 10 de novembro de 1917.
A técnica
Como o próprio diretor afirmou ao receber um prêmio por 1917, esta é uma obra para ser vista no cinema.
Isso porque uma de suas principais características é ser narrado em dois planos-sequência.
"A estratégia audaciosa de Mendes por trás das câmeras tem chamado bastante atenção. Filmando em longas tomadas com a menor quantidade de cortes possíveis na edição, o diretor cria a ilusão de um movimento contínuo em meio a soldados que avançam por batalhas e campos enlamaçados", escreve a crítica Caryn James na BBC.
E acrescenta: "A técnica é deslumbrante, mas é mais do que um truque: aumenta a tensão e o imediatismo da imagem, o que permite nos conectarmos com os dois heróis".
Estima-se que o filme custou mais de US$ 90 milhões (R$ 372 milhões) e conte com mais de 500 figurantes.
"A história de meu avô não era nada romântica. Não era sobre heroísmo ou valentia, mas sim sobre um soldado que teve ou não a sorte de sobreviver à guerra", afirmou Mendes à revista especializada The Hollywood Reporter.
"E foi por isso que minha ideia sempre foi: por que não grudamos o público nessa experiência de uma maneira que parece não se romper nunca, em um filme que se parece com o tique-taque de um relógio, no qual experimentamos o que acontece em tempo real a cada segundo?"