Dono de um rebolado sedutor, Thiago Pantaleão é grande promessa no pop nacional. Natural de Paracambi, interior do Rio de Janeiro, o artista impressiona por sua afinação e composições dançantes que tratam de profundos sentimentos. Com cinco milhões de visualizações em seus clipes no youtube, e meio milhão de ouvintes mensais nas plataformas de streaming de áudio, o artista cantou ao lado de Lexa, Tiago Abravanel e Pabllo Vittar neste carnaval e afirma que se apresentar na folia foi uma experiência única na sua carreira: "lá é uma energia incrível, que não tem como descrever."
Vindo de família evangélica, Pantaleão conta que a música gospel o fez reconhecer a sua veia artística, porém foi na música pop dos anos de 1970, 80 e 90 que ele descobriu o seu caminho. "meu pai me deu um DVD de músicas internacionais, e isso foi um estopim, pois nunca tinha tido contato com estas músicas e fiquei encantado."
O cantor conta que sofreu muito bullying na escola por causa da sua orientação sexual, mas deu a volta por cima ao transformar essa dor em resistência. Ele também partilhou que deseja ser referência para todas as pessoas que sofrem preconceito.
"Acho que isso é uma das coisas mais lindas que pode acontecer na vida de um artista. Inclusive, já recebi muita mensagem - tanto de crianças, quanto de adultos - falando que se inspiram em mim. (...) Assim como Rihana mudou minha vida também me imagino sendo uma virada de chave na vida de outras pessoas. E acredito que isso pode se transformar em uma corrente do bem."
Veja a entrevista:
- Como você descobriu esse talento musical?
Meu primeiro contato com a música foi na igreja, quando eu vi minha mãe cantar, senti uma sensação muito boa. Ainda criancinha, no culto, eu ficava desenhando, mas quando começava o louvor, eu deixava tudo e corria para ver. Depois comecei a cantar, e todos elogiavam a minha voz, daí pensei: ‘talvez eu goste de fazer isso’. Naquele momento, minhas divas eram Shirley Carvalhaes e Cassiane.
Naquela época, a gente não podia ouvir música secular, mas meu pai me deu um DVD de músicas internacionais, e isso foi um estopim, pois nunca tinha tido contato com estas músicas e fiquei encantado. Como era em inglês, a gente podia ouvir.
Depois, descobri que a música vai além, e comecei a ouvir Mariah Carrey, Linkin Park, e, finalmente, Rihanna, que mudou minha vida. Ela mexeu comigo de uma forma que eu acho que nenhum outro artista fez até hoje. Daí eu pensei: posso ser um cantor como essa artista e me apoderei daquilo. Foi aí que decidi virar cantor e trabalhar com música.
Até tinha um ‘plano b’, se não desse certo tinha três opções de faculdades totalmente diferentes: psicologia, medicina veterinária ou arquitetura. Ou seja, perdido, não é? (risos).Trabalhei em um curso de inglês, mas nada ia suprindo a minha vontade de cantar. Daí pensei: quero me conectar com as pessoas de uma forma única, e comecei a compor colocando as minhas vivências nas músicas. Marília Mendonça compartilhou um vídeo meu e tudo começou a andar na minha carreira.
- No carnaval você cantou no bloco da Lexa, do Tiago Abravanel, e da Pabllo Vittar. Pode contar um pouquinho sobre a experiência?
É uma parada que eu fico pensando: há quatro ou cinco anos, isso jamais ia acontecer por causa da Igreja. Até já fui no Bloco da Anitta escondido (risos). Mas quando surgiu essa oportunidade, eu pensei na responsabilidade de cantar para um mar de pessoas. E lá é uma energia incrível, que não tem como descrever.
- Você vem de uma família evangélica. Como ficou sua descoberta com a religiosidade após a descoberta da sua orientação sexual?
Desde pequeno frequentava e participava da Igreja, mas chegou um ponto que precisava ser sincero comigo mesmo e ser feliz. E eu acho que da maneira que estava vivendo, talvez eu não iria conseguir isso. Devo muito à igreja por ter me formado e por tudo de bom que vivi lá dentro, porém acredito que agora eu vivo um momento novo, e percebi que não me cabe mais estar ali, sabe? Meus pais entenderam e continuo vivendo a minha espiritualidade e fé.
- De onde partiu essa ideia de vestir um biquíni de crochê que sua mãe fez e postar nas redes sociais?
Minha mãe é artesã, e sinto que ela não é devidamente valorizada. Um dia ela chegou muito triste porque não conseguia vender um biquíni por R$30, nessa época vi a Jade Picon usando o mesmo biquini no BBB. Fui pesquisar o valor desta peça na internet, e era R$500. Como minha mão não consegue vender? Tem alguma coisa errada… Decidi vestir para divulgar a peça. A musculação me deixou com um peitão, e acho que caiu bem. Viralizou a postagem, e hoje minha mãe ́ é até influenciadora digital. Confesso que fiz isso, porque um dos meus maiores desejos é dar uma vida tranquila para os meus pais. Eles sempre trabalharam para me dar o melhor, e eu desejo retribuir tudo a eles.
- Você brinca muito com os padrões de gênero, não é? Você só não veste peças femininas, mas também usa pronome feminino para si próprio, como é isso para você?
Tranquilo, passei muito tempo reprimido. Sofri muito na escola, sempre fui muito sensível. Gostava de ficar com as meninas, e com isso sofria apelidinhos na escola. Mais pra frente, percebi que gostava de meninos também, e fiquei mais reprimido. Sempre me lembro desses episódios e quero me expressar. Não é uma peça de roupa que vai me deixar desconfortável. Sinceramente, eu não ligo.
- A escola foi um ambiente hostil para você?
A criança reproduz aquilo que os pais fazem, o discurso de ódio inclusive. Mas isso me ajudou a me autoconhecer. Nós temos que ensinar as crianças o respeito. Isso tudo não me matou, mas fortaleceu.
- Você almeja se tornar uma referência?
Acho que isso é uma das coisas mais lindas que pode acontecer na vida de um artista. Inclusive, já recebi muita mensagem - tanto de crianças, quanto de adultos - falando que se inspiram em mim. Por isso não tenho medo de me expressar e de usar o que eu quero. Essas mensagens acabam me dando um propósito de carreira, que ultrapassa a música em si. Assim como Rihana mudou minha vida também me imagino sendo um ponto de virada de chave na vida de outras pessoas. E acredito que isso pode virar uma corrente do bem.
- Além de Rihanna, quem mais é sua inspiração na carreira?
Começo com Mariah Carey que foi a minha primeira referência, o que aquela mulher canta não tá escrito. Outra que marcou foi a Beyoncé, tudo que ela lança é sucesso, fico estudando a sua produção e vejo o nível de genialidade. Tem a Gloria Groove, uma artista que tem um background incrível; no Brasil ela é uma artista que entrega tudo aquilo que eu quero entregar. Tem também a Preta Gil que é uma artista com uma força e uma luz maravilhosa, e me mostra muito sobre resiliência, beleza e sexualidade. A Ludmila que eu admiro muito, o Jão que eu sou apaixonado, a Urias que todo mundo é apaixonado. E a Anitta que está quebrando barreiras na música.
- Onde você aprendeu a rebolar assim?
Como meus pais são da igreja, eu ia para casa da minha avó, que é baiana, e quebrava tudo lá. Cresci ouvindo Harmonia do Samba, e vendo a Carla Perez, queria ser igual a ela. Logo depois, surgiu o “Bonde das Maravilhas", isso foi tudo na vida de uma criança viada, eu lembro que foi o auge de quem morava no Rio de Janeiro. A dança me mordeu, é algo natural. Eu escuto, e o meu corpo já fica tá tá (gesticula uma rebolada).
- Como é a sua rotina de dietas e de exercícios?
Sempre malhei desde os meus 16 anos , era muito magro e precisava ganhar massa muscular. Eu tinha 1,68 metro de altura e um pouco mais de 40kg. Entrar na academia mexeu com a minha autoestima, você pegou um corpo e a galera já fica de olho. Não adianta, a galera gosta de um padrão. Nunca mais parei de malhar. O problema para mim é fazer dieta, minha alimentação é a base de proteína, fibra, suplementos, água, sucos naturais e muito café. Inclusive, quando terminar aqui vou passar um café, não sou nenhuma safada. (risos)
- Recentemente, você está morando sozinho. Como está sendo a experiência?
Morar sozinho é difícil. Você acorda e está tudo bagunçado e você tem que fazer absolutamente tudo. Ainda tenho dois filhos gatos - café e paçoca - o que não é tranquilo, eu acordo com a pata deles na minha cabeça me pedindo ração. (risos) Estou me sentindo a Emily do filme “O Diabo Veste Prada”, sempre correndo com um cafezinho na mão.
- Você já foi citado no BBB por Gabriel Santana. Sua resposta nas redes sociais foi inusitada, querendo ficar com ele. Você realmente ficaria com o brother?
Queria um trabalho lá na casa para conversar com ele. Eu vou fazer um showzinho para ele, se o Boninho deixar! Imagina um showzinho intimista, aí já era, não é? Queria agora, depois que sair nem sei…
- Você se considera pegador?
Não sou santa, mas sou mais quieto do que as pessoas acham. Não tenho muita disposição para ficar paquerando o tempo todo, olhando perfis, e ir correndo atrás. Sou muito tranquilo, gosto muito da conexão que nasce da convivência. Já até tentei ser piranha, sabe? Todo mundo tem sua fase de piranha na vida, mas me apaixonei na primeira pessoa que eu fiquei. Então, nem para ser piranha consigo. (risos)
- Quais os seus próximos passos?
Eu quero conquistar o mundo! (risos) Eu quero trabalhar muito e continuar tocando a vida das pessoas com as minhas letras e vivências. Quero fortalecer conexões com as pessoas seja para falar de sexualidade, seja para falar de sentimentos ou do dia-a-dia. E quero tentar dar uma voltinha para fora do Brasil também.