Intérprete do Acadêmicos do Tucuruvi revela problema pessoal e celebra nova fase da vida

20 jan 2023 - 18h31

Na noite do dia 18 de fevereiro, os Acadêmicos do Tucuruvi entrarão na Avenida para a apresentação do enredo “Da Silva, Bezerra. A Voz do Povo!”. A homenagem ao sambista conhecido como A Voz do Morro será conduzida com o samba cantado pelo intérprete Carlos Junior, que fará sua estreia na agremiação da Zona Norte. Considerado um dos mais importantes cantores do Carnaval de São Paulo na atualidade, o anúncio de Carlos Junior pela Tucuruvi, em junho de 2022, causou grande repercussão. A conversa do cantor com a equipe do site CARNAVALESCO, durante as gravações do programa Seleção do Samba, da Rede Globo, mostrou um lado muitas vezes ignorado pelas pessoas. O lado do homem por trás do artista, que é tão humano quanto cada um de nós.

Foto: Magaiver Fernandes / CARNAVALESCO

Relação com o bairro

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Carlos Eduardo dos Santos tem 46 anos e sempre morou no bairro do Tucuruvi. O amor pelo samba é de família, que desfilavam pelo Zaca nos tempos da Avenida Tiradentes.

“Eu sempre morei aqui minha vida inteira. Eu nasci nesse bairro. Eu tenho minhas primas, grande parte da minha família, que era do samba, isso quando eu tinha cinco, seis anos, eles desfilavam na época que o Tio Horácio era o presidente, não era nem o Seu Jamil, lá pelos Anos 80. Eles falavam muito da Tucuruvi”.

Coração do Trevo, sambista forjado pelo Gafanhoto

Carlos Junior tem como escola do coração o Camisa Verde e Branco, algo que ele não esconde de ninguém. Mas em sua opinião, a escola de samba que é a principal responsável pela sua formação geral como um sambista foi a Tucuruvi.

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Foto: Magaiver Fernandes / CARNAVALESCO

“A primeira escola de samba de Grupo Especial que eu conheci foi o Tucuruvi. Depois dela eu conheci a X-9, que era aqui perto, e aí eu fui pro Camisa, que era o meu amor mesmo. Tinha uma vontade enorme de desfilar no Camisa, mas para eu chegar lá eu tive que me preparar aqui, porque os meus amigos estavam aqui e eles sabiam tocar, mas eu não. Eu tive que vir para cá fazer uma escolinha. O Seu Jamil gostou muito de me ver tocando, e a gente foi fazendo a nossa escolinha aqui na Tucuruvi. Eu não tinha noção, naquela época, que eu seria puxador e compositor. Aqui foi um berço de aprendizado. Quando eu comecei a cantar foi no Camisa que abriu as portas, mas o aprendizado como sambista, não como cantor, como ritmista, ou até como passista, foi na Tucuruvi. Eu tinha um grupo de pagode, o Samba Jovem, que era aqui nessa rua, na Mazzei (onde fica a quadra da Tucuruvi), então a gente tocava de sábado aqui dentro, fazia uns pagodes. Eu convivi muito aqui”.

Estreia no Anhembi foi pela Tucuruvi

Durante seu aprendizado como ritmista, Carlos Junior entrou para a bateria de uma pequena escola que havia na região chamada Paraíso do Samba. Graças a essa experiência, o sambista pôde fazer sua estreia no principal palco do carnaval paulistano.

“A gente foi pra essa escola, a Paraíso do Samba, e descobrimos que ela também fazia parte daqui. Então começamos a sair aqui, eu saí dois anos. Na inauguração do Anhembi eu desfilei pelo Tucuruvi. Meu sonho era ser ritmista”.

A revelação do intérprete

O grupo de amigos com o qual Carlos Junior tocava seguem juntos até hoje por outros caminhos. Foi em 1997, após compor e cantar a pedido deles um samba concorrente para X-9 Paulistana, que o caminho em direção ao sucesso como intérprete começou, um ano depois, pela sua escola do coração.

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Foto: Magaiver Fernandes / CARNAVALESCO

“Os caras vieram e falaram “Pow, Carlão, você que faz uns sambas lá pro Paraíso, não dá pra você fazer um samba lá no X-9 pra gente concorrer?”, aí eu fui lá e falei “Faço!”. Eu fui, fiz o samba, entreguei pra eles, e eles falaram que não tinha ninguém pra cantar. Então eu falei “Vou lá e canto”. Quando eu fui cantar, tinha uma galera do Camisa lá e perguntaram “Pow, você é Camisa ou X-9?”, daí eu falei “Eu sou Camisa”. “Então ano que vem você vai fazer samba no Camisa”. Aí em 1999 eu fiz samba pro Camisa e ganhei pro Carnaval de 2000”.

A depressão quase encerrou sua carreira

Para quem acompanha a brilhante carreira de Carlos Junior é difícil imaginar que o intérprete poderia simplesmente, de um dia para o outro, pendurar o microfone. Mas isso quase aconteceu após os desfiles de 2022, e um dos principais motivos foi a depressão, doença com a qual passou a lutar nos últimos anos.

“Quando eu saí do Império eu não tinha proposta nenhuma. A gente não pode ter vergonha de falar certas coisas. Eu tava numa depressão profunda, e diante dessa depressão eu não tinha mais condição de trabalhar no Império dentro da proposta que eles têm. O Império é uma escola muito competitiva, muito exigente, e eu não estava mais me sentindo, por conta da depressão, em condição de acompanhar o grupo”.

Alguns dos fatores que, na visão do cantor, contribuíram para o agravamento da depressão, foram a pandemia da Covid-19 e a inviabilização de sua estreia na Sapucaí pela Paraíso do Tuiuti, em função do pareamento das datas do Grupo Especial do Rio de Janeiro com os desfiles em São Paulo.

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Foto: Magaiver Fernandes / CARNAVALESCO

“Eu te confesso que um dos gatilhos da minha depressão foi esse. Eu fiquei muito triste porque eu trabalhei muito, me empenhei muito para fazer aquele trabalho na Tuiuti. Porque ele começou na verdade em 2020. A pandemia chegou em fevereiro de 2020, logo depois que a gente desfilou. Eles me contrataram em março de 2020, aí cancelou-se o Carnaval diversas vezes, e aquilo foi me deprimindo, me deprimindo, afinal é o sonho de todo cantor desfilar na Sapucaí. Por mais que não dê certo, se você estreou já era. Fazia as viagens, viajei toda semana para o Rio de Janeiro. Não foi fácil viajar pra lá, deixar a família aqui, pegar estrada toda semana, para no final eu não desfilar. Eu fiquei muito mal”.

Em meio a carreira artística, Carlos Junior se dedicou também aos estudos em uma área diferente. No final de 2022, o cantor se formou em Psicologia pela Universidade de Guarulhos. Acontecimentos que antecederam o carnaval do ano passado fizeram com que Carlão repensasse sua carreira como intérprete de escola de samba.

“Eu nunca imaginei que eu seria puxador do Tucuruvi porque na pandemia me veio essa ideia. Eu já estava há alguns anos querendo parar de cantar, já tinha essa vontade. Aí veio a pandemia e eu falei: “Acho que pra mim já deu esse lance de competição, de cuidado com a voz, de disciplina e tal”. Antes do convite que recebi da Tuiuti, eu nunca tive o desejo enorme de desfilar como cantor de alguma escola no Rio. Não é marra não, é até um certo respeito. Eu acho que os cantores do Rio são fenomenais. Mas depois que não deu certo eu pensei que era o Homem lá de cima dizendo que não era para eu ir porque muita coisa aconteceu. Além de eu não desfilar eu quebrei a perna, e vários acidentes aconteceram quando eu fui pra lá. Eu tenho muito essa coisa da fé. Quando Deus não quer, não pode brigar. Sou muito grato a eles pela oportunidade, que infelizmente não deu certo. Mas eu acho que eu fico muito feliz aqui, mais tranquilo, porque meu filho é muito pequeno, tem cinco anos, então eu quero estar aqui perto com a minha família. Eu quero um ambiente muito familiar. Não quero aquilo de muita pressão, mas eu não deixei de ser competitivo”.

A saída do Tigre

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Carlos Junior temeu que as consequências de seu quadro depressivo pudessem comprometer o Império de Casa Verde. Como uma das lideranças mais notáveis dentro da escola, as falas do intérprete tinham grande peso para a instituição, e a dificuldade em controlá-las fez com que tomasse uma decisão após um desabafo nas redes sociais.

Foto: Magaiver Fernandes / CARNAVALESCO

“Eu cheguei no presidente do Império e falei: “Eu estou muito doente. Eu estou falando coisas”. Eu esqueci que eu tinha que respeitar uma hierarquia, mas eu estava tão deprimido, porque eu tava querendo fazer o desfile lá Tuiuti que desabafei e isso me trouxe problemas. Então eu fui para ele e falei: “Essa é a primeira de muitas. Se eu continuar, vai ficar pior e vai chegar uma hora que você vai me demitir, então eu prefiro ir embora”. Eu sempre estive em escolas que tinham uma cultura de cuidado. Cuidado com o que você vai falar, cuidado com o que você vai fazer. Você conhece, Vai-Vai, Camisa Verde é uma cobrança, então eu sempre tive isso. Só que depois da pandemia eu me perdi. Eu já não tava mais tendo filtro, já não tava tendo mais cuidado. Eu achei que ia atrapalhar o Império. Só que eu só dei conta disso muito tempo depois. Aí as pessoas vão me falando que me apoiariam, outras vinham e falavam: ‘Carlão, cuidado. Você tá bem?’, e falei: ‘Acho que não. Não dá pra falar pra todo mundo como eu estou. Eu não estou bem. Me desculpe, eu não consigo mais fazer o trabalho'”.

O convite de um velho amigo

Uma vez fora do Império, Carlos Junior passou a refletir sobre os próximos passos da carreira. O quadro depressivo no qual se encontrava fez o intérprete estabelecer critérios importantes para qualquer convite que viesse de outras escolas. Foi quando Rodrigo Delduque, diretor de carnaval da Tucuruvi e um amigo de longa data da sua família, decidiu fazer a proposta.

“Quando eu saí (do Império), na minha cabeça eu falei: ‘Quem me convidar eu vou falar a verdade, que está convidando uma pessoa que não está bem, mas que estou trabalhando na minha recuperação. Eu preciso de alguém que tenha paciência com o que eu estou vivendo’. Eu precisava de uma escola que me pegasse e cuidasse de mim. E aí o Rodrigo, que é meu amigo de 15, 16 anos, falou comigo:’Qual a possibilidade de você ir pro Tucuruvi?’. Eu falei que seria legal, porque agora a vida da gente muda, eu tive filho recentemente. Aí ele falou que aqui termina cedo, e eu tava precisando disso, uma escola que comece cedo, que termine cedo, que eu tenha uma liberdade de poder fazer meus shows, porque você termina dez horas e vai fazer um showzinho fora. A proposta dele foi muito boa. Ele falou: ‘Quero que você me ajude com sua experiência. Você passou por Camisa, por Vai-Vai e Império, então você tem muito a ajudar’. Daí eu vim pra esse projeto aqui”.

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O acolhimento oferecido por Delduque, a família e a proximidade de suas raízes foram fundamentais para a decisão de Carlão.

“Daí o Rodrigo virou e falou ‘O que você precisa?’. Eu preciso de um amigo que compreenda se eu falar alguma coisa a mais, se eu perder a paciência com alguma coisa, porque eu fiquei muito mal. Eu tava impaciente, tava reclamão, tava sem filtro, sem limite. Daí ele aceitou e falou: ‘Mano, aqui é uma escola de família. Se você tiver algum problema, pode falar comigo'”.

A recepção da comunidade do Zaca

O primeiro contato com a comunidade da Tucuruvi surpreendeu Carlos Junior, que o recebeu com pompas de uma grande estrela. Acostumado com a discrição de ser mais um entre grandes nomes em outras escolas, o intérprete passou a entender melhor a importância que tem para o Carnaval.

“Foi uma coisa fora do comum. Eu nunca quis ser tratado como um artista. Eu sempre me coloquei numa situação de cantor de samba-enredo. Eu acho que cantor de samba-enredo é operário. O cara fica duas horas lá que nem um doido, usando o cérebro, usando a garganta, usando o corpo inteiro. Não é um artista, porque você aparece em fevereiro e depois você some. Você não tem mídia, televisão. O que a gente tem é vocês do CARNAVALESCO, três ou quatro sites que ralam muito para ter uma abertura, seja no Rio ou aqui. Eu sei como é que é, o que a gente tem. Aqui eles me trataram como um artista, cara. Eu fiquei muito emocionado. Não querendo desfazer com as outras escolas, mas quando eu entrei no meio, tinha toda uma preparação assim que eu travei, fiquei travado, nunca tinha visto aquilo. Parece que a escola ela se mostrou assim, muito feliz, como se tivesse chegado o salvador da pátria. Eu fiquei até assustado. Falei: ‘Gente, eu sou só mais um. Não vou salvar nada aqui’. Daí falaram: ‘não, não. Você não sabe o que vai ser’. Então eu espero só responder a expectativa da escola.”

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Apesar de sempre ter morado próximo à quadra da Tucuruvi, a carreira como intérprete se desenvolveu em lugares distantes de onde a família de Carlão se estabeleceu. Conhecer a força do velho vizinho está fazendo a diferença na motivação do cantor.

“Isso me surpreendeu muito, porque eu tava aqui do lado e não via. Eu tava sempre indo pra lá, fui pra Bela Vista, no Centro. Fui pra Casa Verde, para o outro lado. Quando eu cheguei aqui eu falei: ‘Pow, olha isso aqui cara’. Os caras estão aí, toda hora é show. É a Tucuruvi,  cara. É uma coisa grande. Se a gente se empenhar a gente chega igual a todo mundo”.

A importância de Carlos Junior para o Carnaval

Uma carreira marcada por prêmios individuais e glórias pelas escolas que passou. Tricampeão pelo Império de Casa Verde, campeão e vice pelo Vai-Vai e cantou no último grande resultado do Camisa Verde e Branco, o vice-campeonato de 2002. E mesmo quando levantou taças, foi responsável por atuações marcantes que contribuíram para fazer de Carlos Junior um dos grandes nomes da história do Carnaval de São Paulo. Mas o peso desses pavilhões impedia o intérprete de compreender sua real magnitude.

Graças ao reconhecimento da comunidade da nova casa, que tem a mesma idade que ele, o artista começou a entender a sua importância para samba paulistano. Como forma de retribuir o carinho recebido, Carlão quer ajudar a fazer os componentes de sua nova escola entenderem que sim, a Tucuruvi é uma escola grande.

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“Hoje em dia a minha ficha está caindo. Quando você participa de escola grande, você é só mais um. Tucuruvi, apesar de ser uma escola tradicional no nome, ela não tem títulos, então você acaba dando uma de ‘ah, não é escola grande’, e a comunidade ela acaba se tratando como pequena. Foi uma coisa que eu senti aqui. Mas através deles eu senti o tamanho que eu construí nesses 22 anos. Mas eu quis também, logo depois, passar para eles nos ensaios que o que falta é o título, porque eles são tão grandes quanto eu, apesar de eu ser de 1976 como eles. Mas eu vejo a Tucuruvi, até pelo momento que o Carnaval vive, eu conto muito essa história. Águia de Ouro é uma grande escola, ganhou o seu primeiro título faz pouco tempo. Tatuapé é uma tradicionalíssima que ganhou seus dois primeiros títulos faz pouco tempo. A próxima pode ser nós, tudo depende do trabalho. Acho que a gente tem que aproveitar esse momento, e jamais ter o que chamam de espírito de vira-lata. Lógico que eu fiquei muito feliz que eles me acham tão grande, mas eu acho que aqui é muito maior do que eu, e é isso que eles têm que pôr na cabeça e no coração. A gente é grande também, mas a gente precisa trabalhar porque tem muita escola grande que não trabalha. Hoje você vai olhar pro Acesso e você tem quatro, cinco, seis escolas grandes que estão lá no Acesso por falta de trabalho. Se a gente não trabalhar, vai pra lá também. A gente tem que ter essa realidade. Não é que a gente é pequeno, é falta de trabalho e empenho. Se você se empenhar, se dedicar, dá o sangue, vai florescer alguma coisa, porque no nome é grande. Tucuruvi, Tatuapé, Mancha Verde, Império. Vai-Vai é muito grande, e tá no Acesso. É a Mangueira de São Paulo. Essa é a coisa que o componente do Tucuruvi precisa pôr na veia, no coração. Nós somos grandes. O que falta é a gente se preparar para ganhar o título. Depois disso o respeito vai ser igual”.

‘O nosso maior patrimônio tem que ser as pessoas’

Quanto ao andamento dos preparativos para o Carnaval de 2023, Carlos Junior explicou que o trabalho na Acadêmicos do Tucuruvi envolve um projeto sustentável em direção à glória do título do Grupo Especial. O intérprete acredita que o mais importante no momento é valorizar os componentes e trazê-los mais para o dia-a-dia da escola.

“Eu vejo no Tucuruvi muita vontade de fazer o certo, de chegar no topo do Carnaval, mas é lógico. O Seu Jamil declarou, está deixando tudo nas mãos do Rodrigo. Vai demorar para o Rodrigo pegar toda a experiência necessária. Falamos aqui do Águia de Ouro e do Tatuapé, são presidentes que já estão há muitos anos. Você pega a Mancha Verde, que ela caiu, voltou, se fortaleceu e buscou o campeonato. Águia de Ouro a mesma coisa, ela teve que cair para se refazer. É uma coisa que eu falo muito com o Rodrigo: ‘Rodrigo, a gente não pode cair irmão. A gente tem que apontar primeiro pra ver o que dá aqui’. Eu falo diretamente com o Rodrigo, com o Dione, que a gente tem que ter um objetivo mínimo agora, para que no próximo ano a gente possa galgar uma coisa maior. Acho que a única coisa que falta é isso. Objetivo. Aonde a gente quer chegar. É lógico que todo mundo quer ser campeão, mas vamos fazer a realidade, o real. Até onde a gente pode ir? Porque a gente pode até conseguir coisa maior, mas temos que ter o mínimo. E ainda eu vejo que é uma coisa que a escola não se importa muito com qual lugar ela quer chegar, e ela tem condições de chegar no primeiro lugar. Mas para isso, ela tem que ter um projeto, um objetivo e preparação. Eu fiz dois ensaios aqui em que eu peguei o microfone e já saí largando. Eu falei: ‘Óh, se a gente não se preparar nós vamos ser qualquer um. Pode ser sexto, décimo, último ou até terceiro. Se a gente não se preparar, bater na porta de cada um, e falar que lugar de sambista é na quadra, se a gente não estiver na quadra a gente não vai conseguir’. Não adianta aquela beleza do barracão. Não adianta ter dinheiro, porque se você vê quantas escolas tem o poder aquisitivo, mas não consegue título. Porque o maior patrimônio da escola são as pessoas. Eu acho que é isso que a escola tem que ficar atenta. O nosso maior patrimônio tem que ser as pessoas”.

Sobre tentar novamente cantar na Sapucaí

Questionado se aceitaria um novo convite para cantar por alguma escola do Rio de Janeiro no futuro, Carlos Junior não descartou a possibilidade. Mesmo assim, acredita que os últimos anos ensinaram uma importante lição de vida, está feliz na Tucuruvi e quer aproveitar esse momento de reconstrução pessoal.

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“Se vier, e a gente estiver com saúde. Porque não sabemos o dia de amanhã. Acho que na cabeça de ninguém, no mundo inteiro, pensávamos que iríamos passar por uma pandemia, e para nós sambistas a gente nunca pensou que a gente ficaria um ano sem carnaval. A gente nunca passou pela nossa cabeça que ficaríamos sem desfilar, e ficamos. Muita coisa pode acontecer. Espero um dia poder ter a oportunidade de estar lá. Se pintar um convite, que eu faça um bom trabalho. Mas se não vier, não é uma coisa que irá me abalar, porque eu confio muito nas causas de Deus. Se não é para acontecer, não é para acontecer. Se você analisar, por exemplo, hoje o Tuiuti hoje tá com um novo cantor. Eu poderia estar lá e ser mandado embora junto com o que estava lá. Minha depressão poderia ficar pior, porque ninguém gosta de ser demitido. Por mais que você não queria estar no lugar, mas se vem a cartinha de depressão, machuca. Acho que Deus já estava me avisando. E hoje estou muito feliz aqui, muito mesmo. Ainda estou conhecendo todo mundo, mas é uma tranquilidade. Eu estou com uma paz muito grande, e era isso que eu precisava”.

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