'Sambar não é pecado', diz ex-coroinha que virou passista no Espírito Santo

Luan Coradini diz que é possível conciliar religiosidade com carnaval e vê semelhanças entre a Igreja e as agremiações

14 fev 2023 - 05h00
(atualizado às 17h05)
Luan Coradini afirma ver relação entre sua comunidade eclesial e a escola de samba.
Luan Coradini afirma ver relação entre sua comunidade eclesial e a escola de samba.
Foto: @anabarbosaph / @anabarbosaph

Quem disse que é pecado pular carnaval? Para muitos que veem como um desafio a conciliação entre religiosidade e folia, o capixaba Luan Coradini, de 26 anos, afirma que rezar e sambar não é contraditório. Membro atuante da Igreja Católica de Vila Velha e componente da ala coreografada da Mocidade Unida da Glória, o modelo conta que até enxerga semelhanças entre a sua paróquia e o barracão. 

Coradini participa das pastorais da juventude e da comunicação na sua paróquia.
Foto: @teo.gelsonsantos / @teo.gelsonsantos

"Eu venho da periferia, e cresci em uma Comunidade Eclesial de Base (CEB), que surgiu de um movimento das pessoas do bairro que lutavam por justiça e direitos. As escolas de samba também tem essa sede de justiça, principalmente na causa antirracista", diz o rapaz que mora no Morro do Soteco, periferia de Vila Velha, e já colaborou nas cerimônias da igreja como acólito dos 19 aos 25 anos.

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"Então, vejo um elo muito grande entre as duas instituições, pois dão espaço e voz às pessoas que não têm", afirmou o rapaz que também é ´passista na Pega no Samba, agremiação do Grupo de Acesso.

Coradini contou sambar no areia para ganhar melhor condicionamento físico para o sambódromo.
Foto: @byjoaoaraujo / Andy Models / @byjoaoaraujo / Andy Models

Nascido em uma quinta-feira de carnaval, Coradini conta que a sua relação com o samba foi aprofundada após os 23 anos, quando começou a desfilar. Ele afirma que ganhou aptidão musical quando tocava na banda marcial de sua escola.

"Bem criança, no início dos anos 2000, eu fui a um desfile em que a Mocidade Unida da Glória foi campeã. Hoje eu desfilo nesta escola, aquilo me marcou tanto que nunca esqueci, e essa vontade de desfilar e ser mais próximo do mundo do samba ficou em mim desde aquela época."

Passista da escola Pega no Samba, a ala de Luan Coradini representou o baile de favela.
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Orientação Sexual

Além da tensão entre carnaval e Igreja, o rapaz ainda enfrenta a polêmica envolvendo a sua orientação sexual. Bissexual, ele não foi discriminado pelos padres de sua paróquia, e frequentava as celebrações com o seu namorado. 

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"No começo, como todo LGBTQIA+, tive muito medo de ser rejeitado. Em 2017, tive um relacionamento com um homem. Ele era católico e a gente ia a igreja juntos. Primeiro contei para um frei que era bem próximo, e ele respondeu que não havia problema nenhum no meu namoro. Em nenhum momento ele me reprimiu, pelo contrário, só recebi apoio", relata o jovem que tem na figura de São Francisco de Assis uma inspiração espiritual.

Modelo, Coradini sempre busca manter a forma física. Ele conta que não tem dificuldade em atravessar o sambódromo de Vitória sambando. Além de nadar e malhar diariamente, o rapaz está sambando na areia para conseguir mais resistência, a atividade foi recomendação do coreógrafo. 

Ruivo natural, o modelo tem uma raposa como símbolo nas redes sociais.
Foto: Andy Models / @andybonella / Andy Models / @andybonella

Depois do carnaval, Coradini vai priorizar a carreira profissional. Formado em letras, o modelo, que hoje trabalha com publicidade de maneira autônoma, vai interpretar Judas na peça "O Nazareno". O espetáculo baseado na Paixão de Cristo vai percorrer três cidades do Espírito Santo. Depois da turnê, ele pretende se mudar para o Rio de Janeiro para se formar e obter o registro profissional de ator.

Capixaba Luan Coradini, de 26 anos
Foto: Reprodução/Instagram
Fonte: Redação Terra
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