Não poderia ser diferente! Após dois anos sem poder pular carnaval, as ladeiras de Olinda (PE) ferveram em 2023. E o bafo do Dragão, símbolo do bloco Eu Acho É Pouco, esquentou ainda mais o clima, fazendo a temperatura ultrapassar os 31ºC previstos para a cidade nesta terça-feira, 21.
Fundado em 1976, o Grêmio Lítero Recreativo Cultural Misto Carnavalesco Eu Acho é Pouco foi criado por um grupo de amigos que havia se juntado para curtir a folia e criticar a Ditadura Militar vigente no Brasil. Desfila pelas ladeiras desde 1977, salvo os dois anos em que a festa foi cancelada por causa da pandemia.
A jornalista Luciana Veras está no bloco há 20 anos. É uma das organizadoras voluntárias. "Nosso bloco é comunista até na estrutura, que não tem diretoria e somos todos voluntários", explicou.
"Como jornalistas, procuramos palavras para expressar, mas a verdade é que não tem uma palavra que dê conta da emoção de estar aqui hoje. Além de ser a volta da festa mais importante e mais democrática do Brasil, depois de quatro anos de um governo criminoso, também é outra alegria poder voltar às ruas para brincar carnaval depois da eleição de Lula", completou Luciana.
Durante o desfile, não faltaram coros de "olê olê olá" enquanto o símbolo do "L" era feito com as mãos. Também não faltaram gritos de "ai, ai ai ai Bolsonaro é o c***i". Na parte de trás do estandarte, escritas em letras vermelhas no fundo amarelo - cores tradicionais do bloco -, as palavras "Sem Anistia" davam o tom político.
Eu Acho É Pouco leva frevo e muito samba às ladeiras de Olinda (PE) e anima foliões no último dia oficial de carnaval. #TerraNoCarnaval @TerraDiversao @Terra pic.twitter.com/ubxjCnNwmV
— George Carvalho (@gascarvalho) February 21, 2023
Um pedaço de nós
O bloco saiu pontualmente às 17h do Convento de São Francisco. A pontualidade é uma das características do Eu Acho É Pouco. O estudante Matheus Lima, 27 anos, acompanhava o percurso desde o início junto à corda que escoltava a orquestra e o estandarte da agremiação.
"A apoteose do carnaval é a terça-feira do Eu Acho É Pouco. É sensacional. O ideal é colar na corda no começo e ficar até o final: é de cinco horas da tarde até meia-noite, sem parar", resumiu.
Do lado de dentro da corda, Elizandro Severino dos Santos, 20 anos, fazia esforço junto à equipe de cordeiros para abrir caminho entre a multidão. "A gente trabalha, mas também se diverte", disse.
Carregando um par de sandálias que ficou pelo caminho no empurra-empurra, ele conta que já encontrou itens valiosos. "Hoje, eu encontrei essas chinelas. Mas em outros anos, já encontrei relógio e até dinheiro. Eram R$ 70", lembrou.
Marlon da Silva integrava a orquestra de frevo que Elizandro ajudava a preservar no cortejo pelas ruas de Olinda. "Ficar dois anos sem tocar foi muito triste! Parece que arrancaram um pedaço de nós", afirmou o músico.
Ainda não acabou!
As ruas apertadas e o calor humano não foram capazes de barrar a alegria insana que o Dragão do Eu Acho É Pouco cuspiu como fogo pelas ladeiras de Olinda. A multidão parecia incansável!
No dia em que outros blocos tradicionais também desfilaram pelas ruas do Sítio Histórico desde cedo, cada frevo, samba ou batuque de maracatu era uma injeção de energia. Os foliões agitavam as mãos e pulavam como se fosse o primeiro dia de carnaval em Olinda.
Mas a quarta-feira ingrata já se aproxima… Com ela, uma programação de "ressaca de carnaval" que deve durar pelo menos até domingo, com blocos tradicionais como o Bacalhau do Batata e o Não Acredito Que Te Beijei.
Em Pernambuco, o carnaval parece durar o ano inteiro!
Apoteose do Carnaval 2023: Eu Acho É Pouco arrasta multidão pelas ruas de Olinda (PE) na Terça-feira Gorda. Imagens: Marcelo Loureiro/Terra @TerraDiversao @Terra #TerraNoCarnaval pic.twitter.com/60iyE3Kj8m
— George Carvalho (@gascarvalho) February 22, 2023