O povão nos setores mais populares da Marquês de Sapucaí gritou "Fora Bolsonaro". A elite nos camarotes respondeu com "Lula, vai tomar no c*". E assim o ódio que é combustível da política atual marcou presença nos desfiles do Grupo Especial do Carnaval do Rio.
Houve, ressalte-se, uma tímida manifestação contra o atual presidente em uma área VIP do sambódromo: uma faixa mostrando Bolsonaro amordaçado sob a palavra de ordem 'Fora'.
O filho 01, senador Flávio Bolsonaro, esteve em um camarote e não se incomodou com o posicionamento dos antibolsonaristas. Apesar de ter feito carreira política no Rio de Janeiro, onde tem casa, o presidente não assistiu aos desfiles na Sapucaí desde que foi eleito.
Dona dos direitos exclusivos de transmissão, a Globo preferiu contornar a polêmica. A emissora atacada dia e noite pelo principal líder do País não deu destaque aos protestos, mesmo com a relevância jornalística do fato.
Ao longo da passagem das escolas, narradores e comentaristas insistiram várias vezes no valor da "democracia" e da "liberdade", com inegável referência às declarações controversas do presidente e o risco de um revés institucional, porém, evitaram citações diretas.
Nas arquibancadas, os repórteres preferiram foliões divertidos, sem sinal de ativismo político. Nas entradas gravadas no Camarote Brahma, o ator Érico Brás também fez entrevistas leves. Patrocinadores de grandes coberturas reprovam qualquer tipo de politização.
O 'Jornal Nacional' ignorou os protestos com teor político-eleitoral na Sapucaí. Pode ter sido uma decisão editorial ou pela falta de imagens registrando o coro dos revoltados nas arquibancadas e nos camarotes.
Já na transmissão dos desfiles de São Paulo, Chico Pinheiro, notório simpatizante do PT e de Lula, gargalhou ao ver um sósia de Jair Bolsonaro 'virar' Jacaré em carro alegórico da Rosas de Ouro, na madrugada deste domingo (24). "Tomou vacina, tá vendo?", debochou, em referência à fala do presidente sobre o hipotético efeito da imunização contra a covid-19.