Beijo forçado, mão boba e agressões: o machismo no Carnaval

24 fev 2017 - 17h00
(atualizado às 17h14)
Foto: Renato S. Cerqueira / Futura Press

A atriz Carolina Froes estava em um bloco de São Paulo quando um homem tirou sua roupa e decidiu atacá-la na frente de inúmeras testemunhas que nada fizeram para impedir. Esse é apenas um dos casos. Como ela, são milhares as mulheres que sofrem diversos tipos de agressão durante o Carnaval.

"Sábado, 18/02, fui abusada e agredida por um homem no bloco "Casa Comigo", na Faria Lima. Depois de três horas trabalhando embaixo de sol, minhas amigas e eu estávamos indo embora junto com uma multidão, quando ele, vindo por trás, puxa e tira a minha parte de cima da roupa. Virei já reagindo, socando o homem que tinha o dobro do meu tamanho. Ele riu. Comecei a gritar, "Tá maluco? (...)", relata Carolina em uma rede social.

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"Nisso ele me agarra pelo pescoço e me enforca enquanto eu tento chutar. Me levanta pelo pescoço, e então me joga no chão. Caí. Sem blusa e sem ajuda", continua ela, que não respondeu às tentativas da Agência Efe de conversar sobre o caso.

O relato já viralizou na internet e iniciativas como "#UmaMinaAjudaAOutra", que pretende se tornar uma ferramenta para denunciar a violência machista, ganham espaço.

Beijo forçado, mão boba e agressões são uma constante nesses dias de festa no país, que tem a quinta maior taxa de feminicídio do mundo e onde uma mulher é vítima de estupro a cada 11 minutos, conforme dados da ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgados no ano passado.

Renata Rodrigues luta contra este tipo de comportamento. Ela é uma das fundadoras do "Mulheres Rodadas", o primeiro bloco feminista do Rio de Janeiro, que nasceu exatamente do pensamento machista que defende "não merecer uma mulher rodada". Em sua opinião, o machismo que domina as ruas durante o Carnaval é um reflexo da cultura dominante no país.

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"Ainda existe uma questão mal resolvida no Brasil. Os homens acham que podem dispor do corpo da mulher, mas o machismo se manifesta de uma forma mais bruta durante o Carnaval, tanto pela utilização do corpo feminino quanto por seu papel na festa. A participação das mulheres na liderança das escolas de samba e dos blocos ainda é muito pequena", afirma a jornalista, lembrando, em entrevista à Efe, que existem figuras femininas que estão rompendo este modelo.

Foto: Renato S. Cerqueira / Futura Press

Para tentar promover uma reflexão sobre o problema, o grupo cria letras que "respondem a uma narrativa masculina, dominada pelos homens". A iniciativa recebeu muito apoio, mas também uma avalanche de críticas de pessoas que interpretaram a proposta como uma tentativa de "censurar" o Carnaval, pois "a história da música e da cultura do Brasil está atravessada pelo machismo e pela naturalização do machismo", aponta ela.

"As mulheres têm a marca do medo, mas seu direito de aproveitar o Carnaval e estar na rua não pode ser relativizado", sustenta.

As atitudes machistas são traduzidas em números em uma pesquisa do Instituto Data Popular realizada em 2016. O levantamento concluiu que 59% dos homens acham que as mulheres se sentem felizes quando escutam uma cantada e 49% acreditam que elas gostam quando são chamadas de "gostosa". No Carnaval do ano passado, 3.174 mulheres denunciaram algum tipo de violência, o triplo das comunicações da festa de 2015.

O assédio motivou campanhas da Organização das Nações Unidas (ONU) e vários governos seguiram o exemplo. Em Natal a prefeitura criou o "#Natalcontraomachismo", já na capital baiana o slogan foi "Salvador: Carnaval da Alegria, da Música e do Respeito à Mulher".

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"Sou mulher. Estou viva. Reajo e existo. Esse texto é uma forma de dizer: você, mulher, não está sozinha. Por mais que possa se sentir. Estamos juntas. Esse texto é um pedido: se virem alguém sendo assediada, abusada e/ou agredida, ajude. Se você for assediada, abusada e/ou agredida, reaja e denuncie", pede Carolina.

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