Presidente da Vai-Vai rebate críticas de policiais ao enredo da escola de São Paulo: "Baseado em livros e fatos"

Clarício Gonçalves falou ao Terra nesta terça-feira, 13, antes da apuração das notas do desfile

13 fev 2024 - 16h53
(atualizado às 20h45)
Resumo
O presidente da Escola de Samba Vai-Vai rebateu críticas ao seu desfile de 2024, defendendo que a ala polêmica era parte do enredo baseado em fatos e livros e não tinha nada contra órgãos públicos, apenas prestando homenagem a artistas excluídos.
De volta à elite do carnaval de São Paulo, Vai-Vai foi a primeira escola a desfilar neste sábado, 10, no Anhembi. E, neste ano, a homenagem foi para o Hip Hop
De volta à elite do carnaval de São Paulo, Vai-Vai foi a primeira escola a desfilar neste sábado, 10, no Anhembi. E, neste ano, a homenagem foi para o Hip Hop
Foto: Ricardo Matsukawa/Especial para o Terra

O presidente da Vai-Vai, Clarício Gonçalves, rebateu, nesta terça-feira, 13, as críticas à escola de samba de São Paulo no carnaval de 2024. Ao Terra, ele nega que a ala que trazia pessoas fantasiadas de policiais do Batalhão de Choque e usavam chifres e asas vermelho-alaranjadas simbolize que a escola esteja contra algum órgão público. "Isso jamais", destacou ele.  

“O enredo é baseado em livros e fatos. Aquela ala que foi polêmica é uma coisa que estava dentro do enredo. Não é possível você falar de um enredo e você ocultar a história. Mas, em momento algum, a gente tem alguma coisa contra a organização que realmente protege São Paulo”, continuou o presidente da Vai-Vai. 

Clarício reforçou que a posição da Escola do Povo, como a Vai-Vai é conhecida, é a de aceitar "qualquer pessoa. Não temos bandeira de futebol, não temos bandeira política", disse. "Nós pegamos uma história e relatamos ela do formato que tinha que ser, com os quatro elementos do hip-hop. Esse nosso enredo foi um dos mais comentados, porém com várias interpretações. E nós estamos sendo bombardeados".  

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A declaração de Clarício foi dada momentos antes do início da apuração das notas dos desfiles, ocorridos nos últimos dias 9 e 10. Ainda nesta terça, a agremiação emitiu uma nota em resposta ao Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, que criticou o desfile da agremiação do Bixiga. 

No texto, a Vai-Vai afirma que o enredo de 2024 "tratou-se de um manifesto, uma crítica ao que se entende por cultura na cidade de São Paulo, que exclui manifestações culturais como o hip hop e seus quatro elementos – breaking, graffiti, MCs e DJs".  

A nota diz, ainda, que a escola de samba "buscou homenagear e dar vez e voz aos muitos artistas excluídos que nunca tiveram seu talento e sua trajetória notadamente reconhecidos", por meio de recortes históricos, como a semana de arte de 1922 e o lançamento do álbum Sobrevivendo no Inferno, dos Racionais MCs, em 1997.  

O álbum do grupo vendeu mais de meio milhão de cópias e abordou temas como racismo, miséria e desigualdade social. Por isso, "a ala retratada no desfile de sábado, à luz da liberdade e ludicidade que o carnaval permite, fez uma justa homenagem ao álbum e ao próprio Racionais MCs, sem a intenção de promover qualquer tipo de ataque individualizado ou provocação".  

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O texto da agremiação diz também que a ala retrata parte da história da capital paulista na década de 90, quando já havia “índices altíssimos de mortalidade da população preta e periférica. Além disso, é de conhecimento público que os precursores do movimento hip hop no Brasil eram marginalizados e tratados como vagabundos, sofrendo repressão e, sendo presos, muitas vezes, apenas por dançarem e adotarem um estilo de vestimenta considerado inadequado pra época”. 

“O que a escola fez, na avenida, foi inserir o álbum e os acontecimentos históricos no contexto que eles ocorreram, no enredo do desfile”, finaliza a nota. 

Na dispersão, integrantes da Vai-Vai comemoram fim de desfile e retorno da escola ao Grupo Especial do carnaval de São Paulo em meio ao cansaço e a dores físicas.
Foto: Felipe Iruatã/Especial para o Terra

Entenda a reclamação de policiais 

Maior campeã do Carnaval de São Paulo, a escola desfilou no último sábado, 10, e contou com a presença de Mano Brown e Negra Li.

 O desfile gerou uma repercussão negativa por parte do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp), que divulgou uma nota de repúdio. 

O sindicato que representa a categoria afirma que a escola "tratou com escárnio a figura de agentes da lei". "Com direito a chifres e outros itens que remetiam à figura de um demônio, as alegorias utilizadas na ala Sobrevivendo no Inferno, demonizaram a polícia", diz a nota.  

"O Sindpesp aguarda que a Vai-Vai, num momento de lucidez e de reflexão, reconheça que exagerou e incorreu em erro na ala em questão, e se retrate, publicamente", afirma o documento. 

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Além do Sindpesp, a Bancada da bala também criticou o desfile da Vai-Vai.  

Fonte: Redação Terra
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