A Beija-Flor voltou a sacudir o Sambódromo na madrugada deste domingo (18). Vencedora do Carnaval de 2018, foi a última a entrar na avenida para o desfile das campeãs e foi saudada pelo público que não arredou pé da Marquês de Sapucaí, aos gritos de campeã logo que começou a posicionar a bateria no início da pista. Com o enredo Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu, a azul e branco de Nilópolis levou para a passarela do samba a sua crítica às mazelas do Brasil, destacando questões como corrupção, falta de emprego e de investimento na educação e na saúde e crianças abandonadas. Assim como no desfile oficial, encantou quem estava lá para assistir às apresentações.
A alegoria Ambição tinha na frente um rato enorme. Atrás dele, uma construção simbolizava a sede da Petrobras, que com movimentos em partes do prédio se abriam paredes que deixavam a mostra cenas da vida de moradores de uma favela. Na parte de trás fazia referência às empreiteiras e à ganância.
No terceiro carro, o tema do abandono foi representado de diversas formas. Componentes representaram cenas violentas de assaltos nas ruas, alunos armados nas escolas, policiais feridos sendo amparados pela família e crianças mortas em caixões. No centro um Frankstein gigante se contorcia, para demonstrar a criatura abandonada pelo seu criador.
Na sequência foi o momento da escola falar em intolerância. As cantoras Pabllo Vittar e Jojo Toddynho vieram na frente do carro, que trazia logo atrás alas que tratavam também da intolerância no esporte. A escola fechou o desfile com uma ala composta por integrantes fantasiados de roupas comuns representando personagens da vida cotidiana que simulavam assaltos, arrastões e feridos por balas perdidas.
Os movimentos coreografados agradaram o público. Como já tinha ocorrido na manhã de terça-feira, quando encerrou os desfiles do Grupo Especial, a Beija-Flor arrastou uma multidão criando um grande bloco na avenida. No meio dele estava um grupo que invadiu a pista com pessoas fantasiadas e que levavam uma faixa criticando a intervenção federal na segurança pública do Rio, anunciada na sexta-feira (16).
Tuiuti
Segunda colocada no Grupo Especial, a Paraíso do Tuiuti também entrou na avenida aclamada: parte do setor 1 a chamava de campeã, enquanto outra com mais torcedores da Beija-Flor gritava vice-campeã. Logo no início antes do esquenta da escola, a cantora Grazi Brasil entoou o samba enredo à capela em um ritmo que parecia um lamento e emocionou toda a avenida. A escola também levou críticas para o Sambódromo. O enredo Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão? mostrou o que pretendia já na comissão de frente. A coreografia dos integrantes fazia a troca de componentes que saíam de uma cabana vestidos de escravos e sofriam chibatadas. Do outro lado, apareciam componentes vestidos de pretos-velhos. Outro momento emocionante foi na passagem da ala das baianas, composta por senhoras de até 80 anos, que representaram a nobreza africana simbolizando a riqueza dos reinos da África.
As críticas da Tuiuti se estenderam ainda ao trabalho escravo nos campos e nas minas. A escola também criticou a legislação trabalhista e destacou a manipulação do pensamento da população por potências empresariais e políticas. O último carro tinha dois andares para caracterizar a desigualdade social do Brasil. No alto da alegoria havia um destaque vestido de vampiro. No desfile anterior, ele usava uma faixa presidencial, mas na madrugada deste domingo passou na avenida sem a faixa. O diretor de Carnaval, André Gonçalves, disse que esta foi uma orientação do presidente Renato Marins Ribeiro, o Renato Thor. "A gente não veio aqui para causar polêmica", disse Gonçalves.
Salgueiro
A escola que ficou com o terceiro lugar em 2018, mostrou que também tinha condições de vencer. A agremiação manteve a tradição dos sambas enredos africanos. Dessa vez, a homenagem era às mulheres guerreiras e mães africanas.
Já na comissão de frente, a coreografia de entidades representou a fertilidade de mulheres guerreiras. Elas se revezavam em um tripé em formato de uma cabaça. Os componentes precisaram passar por uma maquiagem para dar uniformidade a todos com a mesma tonalidade de pele negra. Um trabalho minucioso que precisou ser feito horas antes do desfile, tanto na madrugada de terça-feira como na deste domingo.
Ainda que não estivessem em busca do título, a empolgação dos componentes da escola foi a mesma da apresentação anterior. Muitos estavam felizes pela escola novamente trazer um enredo africano e parte da evolução na passarela foi fruto de muitos ensaios na quadra com grande participação da comunidade.
Portela
A Portela trouxe de novo para a avenida o enredo foi De repente de lá pra cá e dirrepente daqui pra lá, que tratou da saga dos imigrantes, desde as dificuldades que passam em diversos países até a influência que exercem nos locais onde chegam. Logo como cartão de visitas, a tradicional escola da zona norte trouxe o seu símbolo, a águia, no abre-alas. Imponente do alto da alegoria soltava os seus gritos característicos e empolgava quem estava nas arquibancadas. Na frente do abre-alas, uma importante figura na história da escola: a cantora Tia Surica. Do outro lado estava a Carnavalesca Rosa Magalhães, que costuma vir em algum ponto das escolas em que desenvolve o Carnaval.
A Portela contou ainda a história dos judeus que tinham saído da Holanda por perseguição religiosa e chegaram ao Recife, em Pernambuco, onde fundaram a primeira sinagoga das Américas, a Kahal Zur Israel. Mas com a retomada da região pelos portugueses, tiveram novamente que se deslocar e foram para Nova York. A viagem foi representada pela alegoria de uma embarcação que chamou atenção pela beleza.
Mangueira
Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco era o tema do enredo. Foi mesmo assim que a Mangueira voltou a brincar na avenida e resgatou um Carnaval do tempo em que o folião carioca se divertia nas ruas e bailes. A verde rosa, uma das mais tradicionais escolas do Carnaval carioca, repetiu neste sábado o desfile leve que fez na madrugada de segunda-feira de Carnaval. O Carnavalesco Leandro Vieira parecia um dos mais felizes foliões. Como se estivesse em um bloco de rua, passeava e brincava entre as alas da Mangueira. O enredo, criado em resposta ao corte de recursos feito pela prefeitura do Rio às agremiações, mostrou um novo caminho para o Carnaval da cidade, embora não tenha trazido o título.
No resgate da memória, passaram alas em homenagem aos blocos que concentravam multidões nas ruas da capital. Lá estavam o Bafo da Onça, o Cacique de Ramos e o Cordão da Bola Preta. A escola lembrou dos antigos carnavais das Grandes Sociedades, que desfilavam na Avenida Rio Branco e da Deixa Falar, a primeira agremiação do Rio, que passou depois passou a ser chamada de escola de samba porque foi criada por grandes sambistas, entre eles Ismael Silva.
Em referência à origem das escolas de samba, as baianas desfilaram em homenagem aos desfiles tradicionais da Praça Onze, onde tudo começou. Já bateria da Mangueira entrou de bate bola, a fantasia que até hoje anima grupos de admiradores nas zonas norte e oeste do Rio. A máscara e a roupa usadas pelos ritmistas eram nas cores da escola.
O samba enredo que levou nota dez dos quatro julgadores levantou o público e ajudou na empolgação dos componentes que desfilaram descontraídos.
Mocidade
Juntando a Índia e o Brasil, a Mocidade Independente de Padre Miguel foi a primeira a entrar na passarela no Sábado das Campeãs. A escola que conquistou o título em 2017 junto com a Portela, neste ano ficou em sexto lugar. O enredo Namastê...A estrela que habita em mim saúda a que existe em você, mostrou que há muito do país asiático em território brasileiro.
As baianas, já no segundo setor da escola, representavam a integração entre os dois países e ao passarem abriam caminho para a saudação dos deuses cultuados pelos indígenas: Jaci, Guaraci e Tupã. Em suas alegorias, a escola abordou influências do país na culinária, passando pelas frutas trazidas ao Brasil, como a cana-de-açúcar, a manga, a jaca, sem esquecer a pimenta. A Mocidade dedicou o último setor para celebrar todas as crenças e comemorar no sexto carro o triunfo do bem e da fé.
Até a meia noite foram atendidas 227 pessoas nos sete postos médicos espalhados no Sambódromo pela prefeitura. Entre elas, seis pessoas foram transferidas para hospitais municipais. Segundo a secretaria municipal de Saúde, os principais motivos dos atendimentos foram pequenos traumas ortopédicos e intoxicação exógena que ocorre por álcool ou por outras drogas.
O esquema especial montado pela secretaria contou com cerca de 200 profissionais, entre médicos, enfermeiros e técnicos, além de apoio administrativo. Para transferência de pacientes nos casos mais graves, 15 ambulâncias estavam à disposição no local, com equipes de saúde próprias.
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