Em meio a correria dos preparativos para o carnaval, a passista Alessandra Silva, de 36 anos, teve o rumo da sua história alterado sem motivo e nem poder de escolha. Era fevereiro de 2023 quando se internou para retirar um mioma no útero e acordou sem parte do braço esquerdo. Um ano depois, ela compartilha uma boa notícia: ganhou uma prótese da escola de samba do coração.
O que a passista descreve como um dos capítulos mais felizes da sua vida começou em uma reunião sobre a sinopse do samba-enredo da Grande Rio, agremiação que a Alessandra desfila desde os 19 anos. Ela conta que chegou, cumprimentou a todos e viu um dos presidentes de honra da escola vindo em sua direção. Era Helinho de Oliveira, que logo perguntou se ela estava precisando de algo.
“A minha presidente de ala, Marisa Furacão, falou a ele que eu estava precisando, sim, de uma prótese!”, conta Alessandra ao Terra. “Se é só isso, já está resolvido”, relembra a resposta de Helinho. Ele então se reuniu com os outros dois presidentes da Grande Rio, Leandro e Jayder Soares, e, juntos, decidiram presentear a passista.
Se Helinho não tivesse a ideia de questioná-la, talvez Alessandra não conseguisse realizar esse sonho. Quem afirma é a própria passista: “se não fosse por eles, eu não poderia realizar esse sonho de adquirir uma prótese, porque ela não é tão acessível assim”, ressalta.
O destino dela é ser feliz
Desde que perdeu parte do braço esquerdo após uma cirurgia, Alessandra Silva conta que perdeu também o trabalho como trancista e a autoestima. Quem entra no perfil da passista nas redes sociais nem imagina que o sorriso largo, a beleza e o samba no pé elegante deram lugar à insegurança em razão do ocorrido.
Com a prótese, Alessandra garante que voltou a se olhar com muito mais carinho. “Ela foi muito necessária. Lógico que o meu braço não vai voltar, mas meu psicológico melhorou muito!”, comemora.
Nessa nova fase, ela conta que ganhou também um novo olhar para as roupas e acessórios na hora da compra. O que antes era insegurança, virou descoberta. “É muito bom sair na rua e ver essas ‘blusinhas’ de manga que nem pensava em usar mais por conta do braço. Agora eu já me sinto melhor em usar, até para foto”, detalha.
Conhecida como Barbie, Alessandra diz que sempre foi vaidosa e gostou de usar muitos acessórios, principalmente nos braços. Depois da amputação, ficou impossível distribuir tantos adereços. “Sempre gostei de usar muita pulseira e no meu braço direito já não estava cabendo de tanto que eu usava todas nele! (risos) Agora vou poder distribuir de novo”, compartilha a passista com emoção.
Nesse carnaval, ela garante que desfilará pela Grande Rio. A escola de Duque de Caxias vai levar à avenida o enredo “Nosso destino é ser onça”, inspirado na obra do escritor Alberto Mussa.
Pela força do pensamento
O vídeo em que Alessandra Silva aparece com a sua nova prótese viralizou nas redes sociais. No X (antigo Twitter), a publicação já acumula mais de 2 milhões de visualizações. A passista ficou surpresa com o alcance do vídeo: “Não sabia que viralizou. Que alegria!”, comemora.
Momento muito especial! A Alessandra dos Santos, 36 anos, passista da Acadêmicos do Grande Rio que perdeu o braço após uma cirurgia para retirada de miomas no útero, testando a prótese doada pela agremiação de Caxias. #carnavalesco pic.twitter.com/72G84XMaiL
— Site CARNAVALESCO (@scarnavalesco) January 30, 2024
Alessandra conta que a prótese funciona através dos sinais que envia pelo pensamento. “Ela é toda eletrônica e por dentro dela tem uns eletrodos. Eu que mando os sinais com o meu cérebro e a prótese vai reagindo e se articulando”, explica.
Até mesmo o funcionamento do novo braço faz parte da fase boa de descobertas que está vivendo. “Eu imagino que estou mexendo a mão e ela mexe. Imagino que o braço está descendo e ele faz. Mentalizo para a mão abrir e fechar e ela obedece! É muito legal mesmo. Sou muito grata. Não é pesada, não me machuca, é levinha”, garante.