O que você fez em carnavais passados? Qual é a sua lembrança mais marcante na folia? Foi com essas perguntas que abordei foliões no pré-carnaval de Salvador. Para minha surpresa, as respostas não envolviam aventuras etílicas, mas, sim, pessoas e sentimentos. Da fã de Bell Marques que assistiu sua última apresentação pelo Chiclete com Banana, no circuito Campo Grande, à mulher que chorou por metade do circuito Barra-Ondina ao realizar o sonho de sair no Bloco Crocodilo após perder o marido.
Essa é a história da professora Sandra Rosário, de 48 anos. Há 21 anos, ela saía no Bloco Crocodilo pela primeira vez, que tem como atração a cantora Daniela Mercury. Era a realização de um sonho, mas incompleto.
"Eu tinha ficado viúva há pouco tempo e aí eu chorei de lá do Farol da Barra praticamente até aqui o Morro do Cristo. Mas não foi um choro de tristeza, não, foi um choro de alegria", contou.
O relacionamento de Sandra com o marido foi embalado pelas músicas de Daniela. Quando ele a pediu em namoro, era a rainha do Axé quem tocava de fundo. "Eu sempre fui fã de Daniela. E todo show de Daniela que tinha, em qualquer lugar, em qualquer época, ele me levava. E os planos nossos eram sair no Crocodilo junto, mas infelizmente não deu", disse.
Em 25 de dezembro de 2002, dia de Natal, o marido de Sandra foi assassinado em serviço, como policial militar. No carnaval de 2004, pouco mais de um ano depois, a professora conseguiu realizar o sonho de sair no Crocodilo. "Pena que eu estava sem ele, mas quando ela cantou nossa música foi inevitável", relembrou.
Agora, Sandra permanece na cola da rainha. No lugar do marido, é a filha Alice quem a acompanha. "Onde tem Daniela, eu estou. Com certeza. Agora não saio mais no bloco, só nas pipocas da rainha", disse.
Trecho da apresentação de Daniela Mercury no carnaval de 2004: