O primeiro Galo da Madrugada em São Paulo tem tudo para transportar um pouco do tradicional Carnaval Pernambucano para a maior capital do País após seis anos de negociação para a ideia deixar o papel. Será uma festa regada a frevo, caboclinho, ciranda, bonecos gigantes, orquestra e passistas, tudo como manda a tradição – incluindo o veto a axé, samba ou funk.
“Se alguém quiser ouvir funk, axé, samba, vai estar no lugar errado. Ninguém tem nada contra, a gente gosta também. Mas é aquela história: se você vai para um jogo de Palmeiras e Corinthians, e é corinthiano, tem que ir para a torcida do Corinthians. Quem quer curtir frevo vai para o Galo, quem quiser curtir outras músicas que vá para outro lugar. Todo mundo gosta de futebol, mas cada um na sua. A mesma coisa é com o Carnaval”, defende Rômulo Menezes, presidente do bloco, em entrevista ao Terra.
Segundo o organizador, o veto não é uma censura, mas uma forma de preservar a identidade do grupo carnavalesco fundado em 1978. Para isso, alguns regulamentos são seguidos. “A primeira regra do Galo é que qualquer artista de fora tem que ser convidado de uma orquestra local. A gente não bota uma orquestra com uma pessoa de fora para dividirem o percurso inteiro, mas esse artista faz uma participação”, explica o organizador.
Os "intrusos" deste ano, em Recife, serão Marcelo Falcão, ex-vocalista da banda O Rappa, Pabllo Vittar e Margareth Menezes. Em Sampa, Fafá de Belém. Elba Ramalho é a única artista com passe livre para a cantoria no Galo. "Para nós ela é como se fosse pernambucana. É paraibana, mas está muito familiarizada tanto com o Carnaval quanto com o São João da gente", afirma.
Folia reduzida
O gigantismo do maior bloco de carnaval do mundo – desde 1994, ano em que o Galo pernambucano entrou no livro dos recordes –, vai continuar sendo da capital pernambucana mesmo. No primeiro ano de São Paulo, o bloco será bem tanto no tamanho da escultura característica do cortejo quanto no número de foliões nas ruas.
“O galo que vai para São paulo é quase um mascote, uma miniatura. São quase quatro metros. É só para ter o símbolo do Galo da Madrugada. Em Recife, a escultura tem 27 metros”, compara Menezes. A dificuldade em trazer uma réplica, semelhante à estrutura da capital pernambucana, tem a ver com o transporte e com autorização, por isso a versão tamanho "P".
Um galo desses precisa de guindaste para ser montado e a prefeitura paulistana não concordou porque ele tem que ficar fixo. A gente até pensou nessa hipótese, de montar um galo gigante em São Paulo também, mas para um galo desses você não pode montar de manhã e tirar de noite. Se ela abrisse esse espaço para o Galo da Madrugada, certamente outros blocos de São Paulo também iam querer ter espaço de uma alegoria gigante deles. No futuro, quem sabe, isso não seja possível. Mas para este ano foi inviável. Tudo tem o seu tempo, né? Mas a gente não desistiu não".
De acordo com o organizador, a expectativa é que um grupo de 100 a 200 mil foliões participem da festa importada para São Paulo pelo grupo Oficina da Alegria no ano de estreia. Em Recife, a tradição do galo leva 2 milhões de foliões, entre pernambucanos e turistas, para as ruas. “É a cidade inteira se manifestando com o Galo, entendeu? Você tem um núcleo central, mas em todos os bairros há blocos desfilando e para essas pessoas isso é o galo também. O galo deixou de ser o bloco e passou a ser um dia de carnaval”.
Made In Pernambuco
Mesmo em proporções menores, se depender do empenho e desejo de fazer a festa acontecer, o Galo Paulista terá tudo para dar certo. Foram ao menos seis anos de tentativas, entre negociações e estudos, para que a ideia saísse do papel e trocasse as águas do Rio Capibaribe pelas árvores do Parque Ibirapuera. Mas o teste em São Paulo não é tão inédito assim. O bloco serve como espelho para organizações menores de 14 estados brasileiros, que usam o conhecimento do tradicional grupo como base para as suas próprias festas, além de outros países.
"Não é franquia, não é filial. São blocos totalmente autônomos, mas que recebem uma orientação nossa. Também temos blocos espelhados em outros países, com destaque para o Canadá, perto de Quebec, com o galo na Neve, que acontece há 10 anos. Tem o Galo de Lima, no Peru, tem no Japão. Brasileiros e estrangeiros podem curtir a cultura de Pernambuco lá fora".
Tradição
O Galo da Madrugada surgiu em fevereiro de 1978, ano em que um grupo de 75 amigos fantasiados de almas penadas percorreram o bairro de São José às 5h30 da "madrugada" para acordar os foliões. O objetivo era resgatar a tradição dos carnavais de rua, que perdiam espaço para as festas de clubes. No primeiro ano, o grupo foi acompanhado de uma orquestra de frevo.
No ano seguinte, o número de foliões dobrou e o número de instrumentistas também. Hoje, são mais de dois milhões de carnavalescos que invadem as ruas do Recife para acompanhar a festa, sempre regada a frevo e ritmos tradicionais pernambucanos.
Programação do Galo da Madrugada em São Paulo
1º Trio – Gustavo Travassos, cantor oficial do Galo da Madrugada, receberá como convidada a cantora Fafá de Belém.
2º Trio – André Rio, cantor que em 2019 comemorou 25 anos de desfiles ininterruptos pelo Galo da Madrugada. O artista será acompanhado por uma banda com 11 músicos e receberá como convidadas especiais as cantoras pernambucanas Bia Villa-Chan e Gerlane Lopes.
Concentração: 09h, com Orquestra de Frevo, na Av. Pedro Álvares Cabral, 212 (Próximo ao Obelisco do Ibirapuera)
Horário do Desfile: 10h
Final previsto: 15h, na Rua Manoel da Nóbrega (Próximo ao Monumento às Bandeiras)