Os desfiles do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo contaram com ingredientes diversificados no primeiro dia de apresentação no Sambódromo paulistano. Teve uma bonita homenagem ao sambista Arlindo Cruz, personagens de cinema dando colorido à festa, carros alegóricos luxuosos, e a lembrança de muitos que defenderam causas nobres em todo o mundo.
O momento mais emocionante foi a homenagem feita pela X-9 paulistana ao sambista Arlindo Cruz, que se recupera há dois anos de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Em uma cadeira de rodas e sobre um carro alegórico, o homenageado esteve presente e foi bastante aplaudido pelo público, na penúltima das sete apresentações da noite.
Seu filho, Arlindinho, emocionado, disse que foi uma bela homenagem para seu pai. "Ter ele aqui, depois de tudo o que está passando, é uma vitória. O desfile foi um momento mágico na vida de todos nós", disse.
A primeira escola a entrar na avenida foi a Colorado do Brás. A agremiação trouxe para o Sambódromo a música tema do Filme Rei Leão, "Hakuna Matata", e uma homenagem ao Quênia.
Antes de entrar na avenida, Rá, presidente da agremiação, pediu empenho a todos os integrantes da Colorado do Brás, que volta ao Grupo Especial depois de 25 anos. "Nesse período, apenas três escolas que subiram permaneceram. E nós vamos quebrar esse tabu e ser a quarta", disse, confiante.
Em seguida, a Império da Casa Verde entrou na avenida com chuva, que durou todo o período de seu desfile. Com uma homenagem aos 124 anos do cinema, a escola trouxe alas caprichadas e personagens épicos do cinema. O enredo "O Império Contra-Ataca" fez referência à saga Star Wars. A bateria veio toda com a fantasia do personagem Darth Vader.
Com o enredo "Oxalá, salve a princesa!", a Mancha Verde, terceira a se apresentar, tenta o seu primeiro título no Carnaval paulistano. A Mancha captou cerca de R$ 3,5 milhões em patrocínio pela Lei Rouanet, o que permitiu um desfile luxuoso.
A escola contou com a presença do técnico Luiz Felipe Scolari e do presidente do Palmeiras Mauricio Galiotte, que acompanharam o desfile do camarote de um dos patrocinadores do time de futebol.
A rainha de bateria Viviane Araújo fez a sua 13ª apresentação pela escola, em seu 22º ano de Carnaval na avenida. "Ainda assim, sempre dá um frio na barriga na hora de entrar".
Guerreiros
A Acadêmicos do Tatuapé levou para o Sambódromo sambistas com roupas de guerra. E lembrou de muitos que tombaram pelo caminho em uma de suas alas. Ali, nomes como o dos jornalistas Tim Lopes, morto por traficantes no Rio de Janeiro, em 2002, e de Vladimir Herzog, assassinado nos porões do regime militar brasileiro, em 1975.
O ambientalista Chico Mendes e a missionária Dorothy Stang, ambos mortos na região amazônica, também foram lembrados. O ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, a ativista paquistanesa Malala Yousafzai, e o ativista político Martim Luther King foram temas em uma das alas.
A Acadêmicos do Tucuruvi fez um desfile com críticas políticas e sociais. Até mesmo os patos amarelos, símbolos do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, foram "ressuscitados". Alguns passistas entraram na avenida com boias (em forma de patinhos), como se fossem marionetes.
Entre os blocos, houve um banquete, com uma ratazana, em frente ao Congresso Nacional.
Com o dia claro, a Tom Maior fechou o desfile. Com o enredo "Penso. Logo existo. As interrogações do nosso imaginário na busca do inimaginável", questionou as principais dúvidas da humanidade. "De onde viemos?", "Para onde vamos?" e "Quem é Deus?". Para pensar no caminho de volta pra casa.