David Lynch, o diretor, escritor e ator norte-americano que obteve indicações ao Oscar por "Veludo Azul", "O Homem Elefante" e "Cidade dos Sonhos", além de ter sido co-criador da série de televisão "Twin Peaks", morreu aos 78 anos, anunciou a família nesta quinta-feira.
"É com grande tristeza que nós, sua família, anunciamos a morte do homem e do artista David Lynch", informou um comunicado na página dele no Facebook. "Há um grande buraco no mundo agora que ele não está mais entre nós. Mas, como ele dizia, 'mantenha seus olhos no donut e não no buraco".
Com seus trabalhos visualmente deslumbrantes, mas também perturbadores e inescrutáveis, repletos de sequências de sonhos e imagens bizarras, Lynch foi considerado um mestre do surrealismo e um dos cineastas mais inovadores de sua geração. Em 2019, recebeu um Oscar honorário por sua carreira.
O enigmático artista e devoto da meditação transcendental preferia não explicar seus filmes complexos e desconcertantes, como "Coração Selvagem", vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1990, ou o terror "Eraserhead", de 1977, e o misterioso "A Estrada Perdida", de 1997.
"Um filme ou uma pintura, cada coisa é seu próprio tipo de linguagem, e não é certo tentar dizer a mesma coisa em palavras. Palavras não cabem", afirmou ele ao jornal The Guardian em 2018.
Seu estilo de gravação criou o termo Lynchiano, descrito pela revista Vanity Fair como estranho, assustador e moroso. Em suas produções, Lynch colocava o macabro e o perturbador no ordinário e mundano, usando também a música para aumentar o impacto.
Lynch dizia que não se interessava apenas pelo roteiro, mas também pelo clima do filme.
"Seu olhar para detalhes absurdos que dão um relevo chocante a uma cena, e seu gosto por materiais frequentemente arriscados e grotescos, o transformaram, talvez, no excêntrico mais aclamado de Hollywood, um tipo psicótico de Norman Rockwell", escreveu o The New York Times em 1990.
Ex-escoteiro que certa vez foi descrito pelo produtor Mel Brooks como "o Jimmy Stewart de Marte", tornou-se ídolo da contracultura, mas suas raízes estavam bem fincadas em uma pequena cidade norte-americana.
David Keith Lynch nasceu em 20 de janeiro de 1946 em Missoula, no Estado de Montana, sendo ele o mais velho de três irmãos. Seu pai trabalhava para o Departamento de Agricultura dos EUA, e a família mudava frequentemente de lugar. Lynch descreveu a sua infância como "um mundo muito bonito, meio perfeito".
Mas foi como estudante de artes na Academia de Belas-Artes da Pensilvânia, na década de 1960, que ele encontrou o lado mais decadente dos EUA, vivendo em uma região degradada e com alta criminalidade da Filadélfia, com sua esposa e sua filha bebê. Para ele, a cidade foi a maior influência que teve em vida.
Nos últimos anos, Lynch se aventurou por documentários, curta-metragens, pinturas e um canal no YouTube. Ele publicou álbuns, vídeos de música, trilhas sonoras e livros, incluindo "Espaço para Sonhar", suas memórias, publicadas em 2018.
Casado quatro vezes, teve quatro filhos. "Amo o que faço e trabalho no que quero. Gostaria que todos tivessem essa oportunidade", disse em entrevista ao Vulture.com em 2018.