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Curta expõe violências contra mulheres durante a pandemia

Produção "Lockdown - Não Tem Vacina" discute como a pandemia se tornou um agravante para a violência doméstica

24 set 2020 - 09h00

A violência contra a mulher cresceu durante a pandemia do novo coronavírus. Segundo dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, o número de denúncias registradas por meio do Ligue 180 aumentou 15,6% em fevereiro em relação ao mesmo período do ano passado. Em março, a tendência de notificações seguiu crescente: era o isolamento pedindo que mulheres e companheiros ficassem mais em casa e fazendo a violência mostrar sua face sangrenta. Para abordar a problemática, o curta Lockdown - Não Tem Vacina, gravado remotamente, discute como a pandemia se tornou um agravante para uma situação crônica que muitas mulheres enfrentam no Brasil. 

"O intuito é causar desconforto, confusão e dúvida quanto ao que está acontecendo. Sentimentos que, muitas vezes, vítimas da violência vivem. Queremos, com o curta, alcançar pessoas que não estão acostumadas a discutir o tema, com o intuito de ajudá-las a identificar o que é violência doméstica", justifica a diretora da produção Daila Ferreira em entrevista ao Terra.

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"É um grito de socorro, um manifesto em relação ao processo de violência contra a mulher. Mais especificamente na pandemia. Eu fui vítima de violência doméstica e milito desde esse processo.  A gente até agora tem uma flexibilização da quarentena e uma vacina para ser aprovada, mas a violência contra a mulher não tem vacina. Só a conscientização mesmo", acrescenta. 

Mayte Piragibe é a protagonista do curta Lockdown – Não tem Vacina, gravado remotamente em meio à pandemia
Mayte Piragibe é a protagonista do curta Lockdown – Não tem Vacina, gravado remotamente em meio à pandemia
Foto: Divulgação

Com previsão de estreia para o fim deste mês, o curta-metragem será distribuído nas plataformas da atriz, cantora e produtora Cleo, o Cleo on Demand, voltado para a diversidade e o empoderamento. Ele mostra como a violência se apresenta de diversas formas, até nas mais sutis, na vida das vítimas, independentemente de classe social. Mesmo em fase de finalização, o projeto já foi convidado para 24th Brazilian Film Festival of Miami, idealizado pela Inffinito Braff.

O processo de gravação remota durou aproximadamente dois meses e teve participação de 32 mulheres entre atrizes e produtoras. "Uma amiga tem um grupo no Facebook e a gente reuniu mulheres de diversos estados e cidades como Salvador e Fortaleza. Assim, as atrizes foram chegando", relembra Daila. Entre as atrizes que compõem o elenco está Maytê Piragibe, protagonista da história. 

Ainda que uma mulher branca tenha destaque na trama, o curta não se esqueceu de falar de representatividade. "A gente procurou desconstruir alguns estigmas. Uma das personagens principais é negra e é ela quem ajuda as mulheres a saírem do círculo de violência. A gente tomou muito cuidado com essas questões. A nossa trilha é composta por duas mulheres indígenas. A maioria das nossas mulheres vêm de zonas periféricas como eu, que venho da Favela do Arará, na Zona Norte do Rio de Janeiro (bairro do Benfica). Eu tive acesso à possibilidade de trabalhar e entender cinema graças a um projeto social, o Cine Manguinhos", explica.

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Segundo a diretora do curta Lockdown – Não Tem Vacina, a ideia da produção surgiu após ela participar do Festival Filma em Casa, idealizado por Paulinho Vilhena e a sobrinha dele Mariana Vilhena. "Ali eu vi que era possível fazer uma produção remotamente. A partir desse festival eu juntei a minha ideia para fazer o curta", explica.

O processo, diz Daila, não foi simples, já que toda a parte de produção era feita via aplicativos de reunião online. "A gente invadia a casa das pessoas para criar o espaço de gravação. Loucura. A câmera do celular foi usada para gravar enquanto a gente fazia a direção pelo meet. A gente fez trocentos tratamentos nesse roteiro. Não foi um processo muito fácil", define. 

Fonte: Redação Terra
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