Ainda Estou Aqui recebeu dinheiro da Lei Rouanet? Descubra

Filme tem sido alvo de críticas por suposto financiamento; até mesmo o ex-presidente Jair Bolsonaro fez insinuação a respeito

8 jan 2025 - 17h51
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Foto: Ainda Estou Aqui ( divulgação) / Rolling Stone Brasil

Nem todos os brasileiros parecem ter ficado felizes com a vitória de Fernanda Torres, no Globo de Ouro, pelo trabalho com Ainda Estou Aqui. O filme, que narra a história de Eunice Paiva e o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, em meio à ditadura militar, tem recebido críticas de uma parcela mais conservadora da população por uma série de razões — uma delas inverídica.

Comentários nas redes sociais têm apontado, sem provas, que a obra dirigida por Walter Salles teria recebido recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura (8.313/1991), conhecida informalmente como Lei Rouanet. Até mesmo o ex-presidente Jair Bolsonaro publicou uma insinuação nesse sentido, ainda que sem citar o nome do longa-metragem ou de qualquer envolvido.

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O político, atualmente inelegível, publicou na segunda-feira (6) — um dia após a vitória no evento internacional — um vídeo que mostra a falta de estrutura adequada para a travessia de um rio, em local não especificado. A filmagem acompanha o escrito: "será que R$ 18 bi da Lei Rouanet daria para fazer as duas cabeceiras [para acesso dos veículos]?". Na legenda, Bolsonaro declarou:

"Parece vídeo repetido, mas não é. Outro brasileiro denunciando a volta da INDÚSTRIA DAS BALSAS. O investimento na infraestrutura é rechaçada pela gestão Lula e coincidentemente jamais cobrada conclusão por outros de outrora. Enquanto isso, a Rouanet…"

Apesar da insinuação do ex-presidente e dos comentários de diversas pessoas nas redes, Ainda Estou Aqui não recebeu recursos da Lei Rouanet. Seria impossível, inclusive, já que longas-metragens (duração acima de 70 minutos) não podem ser contemplados com benefícios fiscais — exclusivos a "obras cinematográficas de curta e média metragem e filmes documentais".

A agência de checagem de informações Lupa chegou a entrar em contato com o Ministério da Cultura, que confirmou: Ainda Estou Aqui não obteve qualquer recurso público federal. Trata-se de uma iniciativa própria.

"A obra é uma produção brasileira, em regime de coprodução internacional com a França e financiada com recursos próprios."

Fernanda Torres conquista Globo de Ouro

Fernanda Torres venceu no último domingo (5) — madrugada de segunda-feira (6) no Brasil — o Globo de Ouro de Melhor Atriz pelo papel em Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles. A atriz disputava o prêmio com Angelina Jolie (Maria), Nicole Kidman (Babygirl), Kate Winslet (Lee), Pamela Anderson (The Last Showgirl) e Tilda Swinton (O Quarto ao Lado).

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A última vez que o Brasil havia garantido o Globo de Ouro foi em 1999, quando Central do Brasil (1998) levou o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro. No mesmo ano, Fernanda Montenegro concorreu à categoria de Melhor Atriz, mas perdeu para Cate Blanchett em Elizabeth (1998).

Durante entrevista à TV Globo nos bastidores da premiação comandada pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, Fernanda Torres falou sobre as expectativas que tinha para o resultado da disputa na categoria na qual saiu vitoriosa. Ela disse:

"Achava que não tinha jeito, a menor chance. Estou chocada. [Uma emoção muito grande] mesmo, por tudo, pela história com a mamãe, com Walter... pela Eunice Paiva, pelo Marcelo Paiva [autor do livro que foi base para o filme e filho de Eunice e Rubens Paiva], eu estou tão... esse filme é tão bonito, está movendo tantas coisas. Marcelo, eu não falei teu nome! Amo você, cara. O livro dele que moveu esse filme. É tudo muito bonito."

Além disso, ela relembrou como Montenegro tinha boas expectativas para Globo de Ouro 2025:

"Mamãe tinha certeza! Ela falava: 'vai levar'."

Em seguida, Fernanda Torres refletiu sobre a maneira como ela avalia a vitória na premiação de Hollywood:

"É um ano muito dividido porque todo mundo merecia. Eu não sei. Acho que o trabalho da gente... não tenho ideia. Não sei quem vota, a gente está num trabalho muito forte. Meu nome veio vindo. [A revista] Variety ajudou imensamente, Collider, Deadline. Começou uma campanha bonita comigo, sabe? Mas não tenho ideia."

Além disso, a atriz disse que a ideia de vencer o Globo de Ouro era muito distante e já estava satisfeita apenas com a nomeação. Por fim, destacou o efeito que tal conquista pode ter na arte brasileira.

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"Estou agora realmente emocionadíssima. Espero que ainda mais gente vá ver esse filme, O Auto da Compadecida 2, Manas e ver milhares de filmes lindos que a gente faz e que isso ajude a fortalecer o cinema, o teatro e a arte no Brasil. Vamos ter orgulho dos nossos artistas e escritores. É um pouco isso. Esse filme trouxe isso de volta."

A história de Ainda Estou Aqui

Baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, Ainda Estou Aqui é ambientado no Rio de Janeiro, no início dos anos 1970, em meio à ditadura militar, e conta a história de Eunice Paiva, mãe de cinco filhos, que se envolve em uma busca infindável pela verdade após o seu marido, Rubens, ser levado por policiais à paisana e desaparecer.

O longa é estrelado por Fernanda Torres (Casa de Areia, Fim) e ainda conta com Fernanda Montenegro (Central do Brasil, Doce de Mãe), Selton Mello (Lisbela e o Prisioneiro, Meu Nome Não é Johnny), Maeve Jinkings (Pedágio), Antonio Saboia (Destino Particular), Humberto Carrão (Marighella) e Marjorie Estiano (Sob Pressão) no elenco.

Assista ao trailer:

Especial de cinema da Rolling Stone Brasil

O cinema é tema do novo especial impresso da Rolling Stone Brasil. Em uma revista dedicada aos amantes da sétima arte, entrevistamos Francis Ford Coppola, que chega aos 85 anos em meio ao lançamento de seu novo filme, Megalópolis, empreitada ousada e milionária financiada por ele próprio.

Inabalável diante das reações controversas à novidade, que demorou cerca de 40 anos para sair do papel, o cineasta defende a ousadia de ser criativo da indústria do cinema e abre, em bom português, a influência do Brasil em seu novo filme: "Alegria".

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O especial ainda traz conversas com Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello sobre Ainda Estou Aqui, um bate-papo sobre trilhas sonoras com o maestro João Carlos Martins, uma lista exclusiva com os 100 melhores filmes da história (50 nacionais, 50 internacionais), outra lista com as 101 maiores trilhas da história do cinema, um esquenta para o Oscar 2025 e o radar de lançamentos de Globoplay, Globo Filmes, O2 Play e O2 Filmes para os próximos meses.

O especial de cinema da Rolling Stone Brasil já está nas bancas de jornal, mas também pode ser comprado na loja da editora Perfil por R$ 29,90. Confira:

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