Quarta-feira, 18 de novembro. Babenco - Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou, de Bárbara Paz, é escolhido para representar o Brasil no Oscar 2021, pelo comitê brasileiro de seleção da Academia Brasileira de Cinema. Um dia após, o Terra conversou com a diretora e atriz.
Emoção. Essa é a palavra para definir o bate-papo e sobretudo o filme. Bárbara captou os últimos anos de Hector, seu companheiro de vida, de trabalho – mas foi além. O resultado é uma obra sublime. Há de se dizer que a matéria-prima com que trabalhou em muito ajudou. Sujeito interessante, com histórias ricas e de emoções fortes, é realmente surpreendente que até hoje nada tenha sido produzido sobre Hector Babenco. Sendo esse, inclusive, um dos motivos que levaram Bárbara a eternizar o seu amor e admiração no documentário. Mas não espere por um simples documentário.
O filme sobre a morte de Babenco não mente sobre o que estamos testemunhamos. É, sim, chegado o fim da vida desse grande homem. Assistimos a passagens emocionantes, dolorosas, sem maquiagem, com verdade. Mas terminamos o documentário com uma sensação de vida. Sejam pelas conquistas do cineasta, que viveu para o cinema e o cinema, também lhe manteve vivo, seja pelo final construído por Bárbara Paz.
São muitos os triunfos dela nesse documentário que a lança como diretora. Um deles é a forma como decide narrar a história, misturando sonoras de diálogos e imagens da intimidade deles captadas por ela com bastidores e cenas de filmes dele. Essa simbiose trabalha quase como causa e efeito em alguns trechos. Recapturando um detalhe do passado de Babenco, e depois mostrando como aquilo talvez tenha construído o olhar para desenhar a sua obra. De certa forma, fica a sensação de que por um momento pudéssemos entrar nos pensamentos deles, Bárbara e Hector, e ver como a mágica é feita.
Paz também foi feliz em abordar fatos da vida pessoal de Babenco. Nascido em família judia que se estabeleceu na Argentina, após a 2ª Guerra Mundial, Hector era íntimo dos livros. Revelou, no documentário, que às vezes desejava ficar doente para poder terminar de ler algumas de suas obras. Era avesso a ter trabalhos com carteira assinada, e por sua longa carreira, já trabalhou como figurante e até vendedor de jazigos, experiência da qual teve muito êxito. Mas nada superou o amor pelo cinema.
Babenco - Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou é um filme de amor, um filme sobre a vida desse cineasta que pela primeira vez colocou o Brasil na cerimônia do Oscar, lá em 1986, com O Beijo da Mulher Aranha, mas é, absolutamente, sobre cinema. Do amor que Bárbara e Hector têm por fazer filmes. Em entrevista ao Terra, a diretora confessa que não foi intencional, mas cineastas que assistem ao documentário percebem como Babenco é uma aula sobre a sétima arte. Para mim foi um guia completamente sensível de como fazer cinema.
Babenco - Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 26.
Mais Babenco
O Beijo da Mulher Aranha, Carandiru, Pixote: A lei do mais fraco são algumas das obras clássicas de Hector Babenco que, ao todo, produziu 11 longa-metragens, sendo o primeiro O fabuloso Fittipaldi (1973), em coprodução com Roberto Farias.
Sete desses títulos estão disponíveis no Vivo Play, sendo eles: O Rei da Noite (1975), o primeiro que dirige sozinho, Lúcio Flávio, o passageiro da agonia (1977), Pixote: A Lei do mais fraco (1981), O Beijo da Mulher-Aranha (1985), que lhe rendeu a indicação ao Oscar, Brincando nos campos do Senhor (1990), Coração iluminado (1998) e Carandiru (2003).