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Estreia nesta quinta-feira, 1º de outubro, Bom dia, Verônica, a mais nova série da Netflix e primeiro thriller nacional da gigante do streaming. A produção, que é uma adaptação do livro homônimo da criminóloga Ilana Casoy e do escritor Raphael Montes, evidencia as várias violências que a mulher sofre ao longo da vida na sociedade patriarcal e machista, em todos os ambientes, no trabalho, nos relacionamentos, na vida doméstica; e em diferentes intensidades: desde os abusos silenciosos até os mais explícitos e fatais.
O enredo começa quando Verônica (Tainá Müller), escrivã da Delegacia de Homicídios de São Paulo, decide investigar dois crimes. O primeiro envolve mulheres vítimas de golpes cibernéticos, praticado por um homem que as explora física e mentalmente. E o segundo é o de Janete (Camila Morgado), esposa devota e omissa de Brandão (Eduardo Moscovis), um serial killer inteligente e perigoso que leva uma vida aparentemente normal, mas que, por detrás da fachada, revela uma mente cruel capaz de aprisionar suas presas tal como pássaros em uma gaiola.
Para ambos os crimes, Verônica tem papel fundamental em ajudar as mulheres a identificar a violência que estão sofrendo. Mas não é uma tarefa fácil. Nessa caçada, Verônica, que trabalha como uma escrivã, tem que reportar para a delegada Anita (Elisa Volpatto), que dificulta a investigação, duvidando das mulheres, e para o padrinho e também delegado chefe de polícia Wilson Carvana (Antônio Grassi), com quem divide um segredo misterioso do seu passado.
Ao assistir à série, não é preciso muito tempo para entender o quão é difícil se fazer justiça no Brasil quando se pensa na segurança da mulher. Independente disso, os oito episódios te prendem pelo suspense, pela ação e principalmente pelo didatismo.
Didatismo, suspense e ação
Primeiro thriller nacional da Netflix, Bom dia, Verônica acerta na dose de suspense, ação e didatismo. A cada episódio, ficamos presos no suspense pela resolução dos dois principais crimes investigados pela escrivã Verônica, e também pela sua subtrama, que se revela, com um passado que guarda mistérios.
As cenas de ação da protagonista e do elenco são igualmente elogiáveis. Para dar vida à Verônica, Tainá teve uma preparação “disruptiva”. Teve aulas de tiro e de luta e concebeu uma justiceira que entendeu como ninguém a problemática de uma sociedade falocêntrica. O resultado se vê não só na forma como a personagem trata as vítimas, mas como a mãe Verônica trabalha para que os seus filhos sejam humanos mais conscientes.
Agora, para o destaque da série: o seu didatismo. A adaptação do livro homólogo da criminóloga Ilana Casoy e do escritor Raphael Montes preocupa-se em cada detalhe em exemplificar as formas do abuso. E é preciso deixar claro. Vivemos também outra pandemia. Enquanto o isolamento se faz necessário para conter o contágio da covid-19, movimentos feministas e a Organização das Nações Unidas (ONU) alertam para o número crescente de denúncias sobre o aumento de casos de violência doméstica contra as mulheres na América Latina. As mulheres não sabem reconhecer quando estão sendo abusadas, e nisso Bom dia, Verônica não podia ser mais feliz, principalmente quando olhamos para o arco de Brandão e Janete.
Brandão e Janete
“Se foi difícil para você ver, imagina pra mim”, brinca Eduardo Moscovis, em entrevista ao Terra. O ator interpreta um policial de alta patente, serial killer e abusador na série, mas vemos pouco da sua rotina de trabalho na história. Só sabemos da sua dita competência profissional quando Verônica o investiga, ou quando Janete remexe em recortes de jornais que destacam os seus atos de bravura. O que vemos de Brandão é a sua rotina doméstica ao lado de sua esposa Janete. O que vemos é a dinâmica do abuso escancarada. Esse é um dos pontos altos da série, que entretém na sua trama investigativa, mas é também um grande serviço para as mulheres que desconhecem que podem estar sendo vítimas da violência.
“É incrível o que cada um chama de violência. O que a pessoa traz como definição de violência. A violência verbal, então, fica totalmente esvaziada, como se ela não fosse uma violência. Como a violência patrimonial, que é pouco conhecida. Homens que tiram o celular das mulheres, a Janete (Camila Morgado), por exemplo, não tem. Isso é tão comum, é como se isso não fosse violento”, diz Ilana Casoy, criminóloga, autora, roteirista e produtora-executiva de ‘Bom dia, Verônica’, também em entrevista ao Terra. Explicar o abuso estava no plano dos roteiritas. “Sempre tivemos a noção de que queríamos contar uma história engajante, viciante, mas também usar a potência da plataforma para mostrar o ciclo da violência doméstica e mostrá-la”, completa Raphael Montes, autor, co-criador da série.
Bom Dia, Verônica já tem confirmação de continuação nos livros, com Boa tarde, Verônica e Boa Noite, Verônica, mas ainda sem confirmação de data de lançamento. A série encerra o seu primeiro ano com possibilidade para uma segunda temporada; até o fechamento desta matéria, não houve confirmação.
A Netflix enviou para o site a temporada completa para fazermos esse texto.