Megalopolis: A jornada de 40 anos para fazer o filme acontecer

Enfrentando Hollywood, adversidades e uma equipe caótica, Francis Ford Coppola levou metade da sua vida tentando fazer Megalopolis.

30 out 2024 - 12h22
Megalopolis: O filme que levou 40 anos para ser feito
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Francis Ford Coppola é, sem dúvidas, um dos nomes mais venerados da história do cinema. O diretor, cuja filmografia inclui clássicos como O Poderoso Chefão e Apocalypse Now, agora se prepara para apresentar ao mundo um projeto que levou inacreditáveis 40 anos para ser concluído: Megalopolis.

Esse épico de ficção científica, que estreia nesta semana no Brasil, nasceu de um conceito grandioso que desafia as convenções da indústria cinematográfica e carrega consigo a marca do perfeccionismo e da persistência de seu criador. Trata-se de uma obra monumental, nascida de uma paixão quase obsessiva, que enfrentou inúmeros obstáculos antes de finalmente chegar às telonas.

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A Semente de Megalopolis e a Guerra do Vietnã

Apocalypse Now (1979).
Apocalypse Now (1979).
Foto: divulgação / Flipar

Tudo começou na década de 70, quando Coppola dirigia Apocalypse Now, um filme épico ambientado na Guerra do Vietnã. A produção foi conhecida tanto pela sua grandiosidade quanto pelos obstáculos que Coppola enfrentou, desde problemas climáticos até tensões com o elenco. Durante as filmagens, o diretor começou a refletir profundamente sobre o imperialismo e a influência dos Estados Unidos no cenário mundial, uma questão que fervilhava nos debates da época. A partir dessas reflexões, ele concebeu a ideia para Megalopolis: um filme que imaginaria um futuro distópico onde Nova York teria sido destruída, e um visionário arquiteto se dedicaria a reconstruir a cidade como uma metrópole autossustentável, livre das amarras governamentais.

A visão de Coppola era tão audaciosa quanto arriscada: ele queria que Megalopolis fosse uma produção totalmente independente. Ao contrário de outros projetos de Hollywood, onde os diretores precisam lidar com os interesses comerciais de produtores e estúdios, Coppola queria ter total liberdade criativa. Sem concessões, sem cortes ou intervenções externas, apenas ele e sua visão. Mas essa liberdade teria um custo altíssimo.

Tentativas e Fracassos: As Dificuldades de Financiar um Sonho

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A trilogia de “O Poderoso Chefão” (“The Godfather”) é uma adaptação do romance best-seller homônimo de Mario Puzo. Ela narra a história da família mafiosa Corleone e tem no elenco Marlon Brando (Vito Corleone) e Al Pacino (Michael Corleone).
Foto: Divulgação / Flipar

Nos anos 80, Coppola se comprometeu a reunir fundos para realizar seu projeto. Ele estava tão determinado que aceitou dirigir O Poderoso Chefão 3, mesmo após afirmar que não queria continuar a história da família Corleone. O resultado, porém, foi uma decepção: o filme foi recebido de forma morna pelo público e pela crítica, sem o retorno financeiro esperado. Esse revés deixou Coppola em uma situação financeira complicada, e seu projeto dos sonhos teve que ser adiado.

Apesar das dificuldades, ele continuou perseguindo Megalopolis ao longo dos anos 90. Confiando que Drácula de Bram Stoker poderia ajudá-lo a arrecadar mais dinheiro, o diretor focou em fazer do filme um sucesso comercial. Drácula foi um triunfo nas bilheterias, o que trouxe novo fôlego para Coppola. Ele começou a montar o elenco, com nomes de peso como Robert DeNiro, Al Pacino, Kevin Spacey e Russell Crowe, e o roteiro passou por constantes reescritas, totalizando mais de cem versões.

Entretanto, sua sorte não parecia melhorar. A cada tentativa, Coppola encontrava mais dificuldades em obter parceiros comerciais. Grandes estúdios e investidores viam Megalopolis como um projeto excessivamente arriscado, e as portas continuavam a se fechar. Inabalável, ele decidiu avançar sozinho, mesmo que isso significasse colocar em risco toda sua estabilidade financeira.

As Filmagens e o Impacto do 11 de Setembro

Foto: Divulgação/American Zoetrope / Pipoca Moderna

No início dos anos 2000, Coppola finalmente começou as filmagens de Megalopolis. O projeto estava, enfim, em andamento, mas um evento histórico inesperado transformou tudo: o ataque às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001. O mundo foi profundamente impactado por essa tragédia, e a ideia de um filme que mostrasse Nova York em ruínas tornou-se extremamente sensível. Coppola foi forçado a suspender a produção, e muitos dos recursos e filmagens iniciais acabaram sendo abandonados. Naquela época, vários projetos passaram por mudanças drásticas devido aos atentados, como Homem-Aranha, que removeu cenas com as Torres Gêmeas, e Friends, que reescreveu episódios sobre viagens de avião.

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Para Coppola, esse foi um golpe particularmente duro. Depois de anos de preparações e um esforço financeiro monumental, ele se viu de volta ao ponto de partida, em um cenário que o forçou a adiar o projeto indefinidamente. Esse revés levou o diretor a um período de 10 anos sem dirigir nenhum filme, imerso em uma espiral de frustração e desencanto com o próprio sonho.

Um Recomeço na Década de 2010 e a Pandemia de COVID-19

Francis Ford Coppola.
Foto: Georges Biard/Wikimédia Commons / Flipar

Foi apenas em 2018 que Megalopolis voltou a ser considerado. Coppola, agora com idade avançada, sentiu que não poderia deixar seu projeto inacabado. Ele vendeu uma parte de sua vinícola e conseguiu arrecadar mais de 100 milhões de dólares, o suficiente para dar início às filmagens mais uma vez. Desta vez, o elenco contava com Adam Driver no papel principal, e Coppola revisitou o roteiro mais de 300 vezes antes de iniciar a produção.

Mas, como se o destino jogasse contra ele, a pandemia de COVID-19 paralisou a indústria cinematográfica global em 2020. A produção foi interrompida novamente, levando Coppola a mais um momento de incerteza sobre o futuro do projeto.

Um Set Caótico e um Cinema em Transição

Francis Ford Coppola nos bastidores de 'Megalópolis'
Foto: Divulgação

Finalmente, as filmagens retomaram em 2022, mas o cenário era caótico. Coppola, cuja última produção em larga escala tinha sido há décadas, insistia em métodos que destoavam das práticas atuais. Ele se recusava a usar muitos dos efeitos digitais amplamente disponíveis e preferia efeitos práticos, luzes e reflexos – uma abordagem que, além de exigir mais tempo, demandava uma equipe experiente e dedicada. Essa resistência de Coppola em adaptar-se aos novos tempos criou conflitos no set, levando a atrasos e à saída de membros da equipe, o que contribuiu para a atmosfera tensa durante a produção.

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Durante o processo, Coppola sofreu uma perda pessoal dolorosa: sua esposa faleceu, uma tragédia que afetou ainda mais o andamento do projeto. A produção parecia assombrada por uma maldição, mas, em 2023, o filme foi finalmente concluído e exibido para um seleto grupo em uma sessão privada em Los Angeles.

Reações Divididas

Megalopolis.
Foto: Divulgação / Flipar

As primeiras críticas foram mistas e intensas. Alguns críticos e executivos de Hollywood consideraram o filme “insano” e “inviável para o público em geral”, enquanto outros viram Megalopolis como uma expressão artística de profunda originalidade, admirando o esforço do diretor em preservar sua visão. Um dos executivos chegou a descrever o filme como “impossível de ser lançado” devido à sua natureza peculiar e desconexa. Coppola, porém, havia alcançado seu objetivo: Megalopolis era, finalmente, uma realidade.

Fonte: Ygor Palopoli
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