Com 'Estômago 2', diretor foge de repetir o que deu certo no primeiro e explica: 'Quero desconcertar'

Sequência traz Raimundo Nonato de volta e já está nos cinemas.

30 ago 2024 - 16h42
(atualizado às 20h03)
Estômago 2 - O Poderoso Chef
Estômago 2 - O Poderoso Chef
Foto: Paris Filmes/Divulgação

Lançado em 2007, "Estômago" é até hoje considerado um excelente exemplo da amplitude do cinema brasileiro. A relação entre gastronomia, poder e a evolução da cadeia alimentar, com os propositais múltiplos sentidos da expressão, são os elementos que coroam a atuação de João Miguel neste expoente do audiovisual. Anos depois, então, qual é realmente o propósito de uma continuação?

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Para o diretor, Marcos Jorge, é sobre ousadia: 

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"Sequência, em geral, é uma coisa mais comercial. Mas essa sequência, para mim, vinha muito carregada de expectativa. Porque a legião de fãs do 'Estômago' é uma legião muito ampla. Então tem gente de todos os matizes, de todos os jeitos, que gosta do Raimundo Nonato de todas as maneiras. E eu sabia que muita gente ia talvez dizer: 'Mas por que isso? Por que aquilo?' E eu não queria fazer o mesmo filme de novo. Eu não queria fazer mais do mesmo."

A ideia é fazer um filme diferente, ser fiel à franquia, fiel à essência do primeiro filme, mas levar a história para frente, levar a história para outro continente, inclusive, que é o que eu fiz. E esperando que o público fosse curtir".

(Marcos Jorge, diretor de 'Estômago' e 'Estômago 2 - O Poderoso Chef', ao Terra.

O público, de fato, parece ter curtido. O filme foi o maior premiado da 52ª edição do Festival de Gramado, saindo do festival com cinco Kikitos: Melhor Ator (dividido entre Nicola Siri, que vive Dom Caroglio, e João Miguel, na pele de Raimundo Nonato), Melhor Roteiro (Bernardo Rennó, Lusa Silvestre e Marcos Jorge), Melhor Direção de Arte (Fabíola Bonofiglio e Massimo Santomarco), Melhor Trilha Sonora (Giovanni Venosta) e Melhor Filme eleito pelo júri popular. 

"É muito legal porque é o reconhecimento do júri técnico, com dois atores, dois produtores e uma diretora, e do público, que foi lá e votou com o QR Code", continua Marcos. "Naquele momento eu senti que realmente o meu trabalho estava fazendo aquilo que eu queria que fizesse, que é comunicar com as pessoas de hoje, com o cinema de hoje, com as pessoas que vão ao cinema hoje."

A história, 16 anos depois

Estômago 2 - O Poderoso Chef
Foto: Paris Filmes/Divulgação

Com novidades e retornos no elenco, "Estômago 2 - O Poderoso Chef" é falado em português e italiano e rodado entre o Brasil e a Itália. A história acompanha a trajetória de Nonato (João Miguel), que possui inigualável talento para a culinária e conquistou os poderosos na hierarquia da cadeia. Nonato cozinha para o diretor, para o líder dos presidiários, Etecétera (Paulo Miklos), e para os carcereiros, com requintes de alta gastronomia. Mas a chegada de um famoso mafioso italiano (Nicola Siri) vai abalar as estruturas e colocará o chef no epicentro de uma feroz disputa de poder. 

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"A ideia de fazer na Itália estava desde o começo", explica o diretor. "O primeiro já tem uma coprodução italiana, mas a gente não filmou na Itália. Então, foi natural levar para lá. Eu estudei cinema em Roma, morei 12 anos na Itália, tinha esse sonho de filmar lá e achei que essa era a ocasião."

Menos centrada em Raimundo Nonato, o personagem de João Miguel, a sequência vai se tornando cada vez mais um filme sobre o embate entre Etcétera (Paulo Miklos) e Dom Caroglio (Nicola Siri), que começa a partir da disputa pelo poder representado pela culinária de Nonato. Para Marcos Jorge, a ideia disso é justamente desconcertar.

"Eu optei por fazer de novo o que eu fiz com o primeiro, que é desconcertar as pessoas. Quando o primeiro filme bateu no Festival do Rio, e depois levou alguns meses para ir aos cinemas, as pessoas não conseguiam colocar ele em nenhuma gavetinha", recordou. "É um filme de autor? É um filme popular? Ele é comédia? É comédia, mas é drama, ninguém conseguia, não achavam a gaveta dele."

"Eu falei: 'Isso eu quero fazer de novo, eu quero desconcertar'. Então, mais forte ainda, começa logo com uma cena em italiano, um cara falando italiano, com uma citação ao cinema internacional, para logo dar uma pancada, desconcertar as pessoas e dizer que, esse filme não é o primeiro. Não vai ser igual  porque vai levar a história para um outro lugar."

Da feijoada ao macarrão

Estômago 2 - O Poderoso Chef
Foto: Paris Filmes/Divulgação

Conhecido do público brasileiro por interpretar o icônico Padre Pedro de "Mulheres Apaixonadas", o italiano Nicola Siri encarna um sujeito mafioso que dá trabalho em "Estômago 2". É ele que tece esta ponte entre Brasil e Itália durante o desenrolar da trama, e o ator diz que compartilhar um Kikito com João Miguel foi como uma excelente partida de futebol.

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"A recepção foi fantástica. É lógico que tem uma responsabilidade, mas também há o fato de você entrar e fazer parte de um filme épico. Já que no filme se fala muito de futebol, é um belo jogo de futebol."

"Quando você vai jogar com Pelé, Maradona, Zico, a bola chega super redonda, é muito mais fácil. Você consegue jogar de verdade. Então, foi realmente um prazer fazer esse filme. São poucos que dão essa possibilidade de uma experiência 360º ao ator, de viver todo esse leque de emoções."

Já para Paulo Miklos, o convite veio como uma surpresa: 

"Foi muito bacana poder voltar, porque, na verdade, o Estômago foi uma grande descoberta para mim. É uma participação especial, uma cerejinha do bolo, naquela cena final, e depois que eu assisti ao filme é que eu entendi o que se passou com aquela gente toda que eu encontrei dois dias. E fiquei apaixonado, o filme é maravilhoso, tem toda essa história, acompanhei todo o grande sucesso do filme. Quando o Marcos me veio com o convite para aprofundar o personagem, foi um grande presente, e eu adorei." 

"E é muito bacana, porque o meu personagem mostra bem a passagem do tempo. No primeiro filme eu chego todo 'marrento', e magrinho, e no segundo eu estou, depois de 16 anos comendo a comida do Nonato, eu estou tranquilo, relaxado, dono da situação. Aí, quando tudo inverte, o meu personagem volta a ser aquele brabo. É gostoso ver ele, ao longo do filme a gente vê ele ficando cada vez mais potente."

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Fonte: Redação Entre Telas
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