Com 'Maníaco do Parque', Silvero Pereira quer mostrar que vai além de 'nordestino LGBT': 'Mais uma faceta'

'Eu sou um homem do interior do Ceará, LGBTQIAPN+, e aí de repente o mercado começou a me colocar sempre nesse mesmo eixo', diz ator

17 out 2024 - 05h01
(atualizado às 13h48)
Silvero Pereira interpreta Francisco de Assis em 'Maníaco do Parque'
Silvero Pereira interpreta Francisco de Assis em 'Maníaco do Parque'
Foto: Márcio Nunes/Divulgação

Em 1998, o Brasil parou em frente à TV diante da incansável cobertura midiática do caso que ficou conhecido como o Maníaco do Parque. Naquele ano, quando corpos de mulheres de até 24 anos passaram a ser encontrados mortos e com sinais de violência no Parque do Estado, na cidade de São Paulo, a polícia começou uma investigação em busca do responsável pelos crimes, que recebeu na mídia o apelido pelo qual Francisco de Assis Pereira é conhecido até hoje. E engrossando o coro atrativo de produções de true crime feitas para o streaming, o filme "Maníaco do Parque" chega nesta sexta (18) ao Prime Video a fim de relembrar essa história.

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Dirigido por Maurício Eça (da trilogia de filmes "A Menina que Matou os Pais", sobre Suzane von Richthonfen), "Maníaco do Parque" é estrelado por Silvero Pereira ("Bacurau", "Pantanal") e Giovanna Grigio ("Rebelde", "Malhação - Viva a Diferença"). Enquanto ele interpreta o personagem-título, a personagem central do filme, na verdade, é ela, que interpreta Helena, uma jovem repórter do extinto jornal Notícias Populares que pega para si a cobertura do caso e serve na história como um ponto de reflexão entre o machismo e o sensacionalismo midiático e a violência sofrida pelas vítimas e sobreviventes dos ataques. 

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Para Silvero, cuja entrega ao personagem nos recorda por que estamos diante de um dos grandes atores da era contemporânea, interpretar o Maníaco era uma forma de se livrar de certas limitações às quais se via imposto no mercado audiovisual.

"O start para o trabalho foi o convite do Marcelo Braga [produtor e fundador da Santa Rita Filmes] para tirar a minha imagem do que o mercado tinha começado a construir", conta Silvero, em entrevista ao Terra. "Eu já estava pensando na minha carreira no lugar de fora do que é o Silvero pessoal. Eu sou um homem do interior do estado do Ceará, LGBTQIAPN+, e aí de repente o mercado começou a me colocar sempre nesse mesmo eixo. E o Marcelo Braga me vem com o convite. Eu até brinco sobre isso, porque eu pensei: 'Ah, tá, qual é o recorte LGBT da época que participava dessa situação?' E ele disse: 'Não, você é o Maníaco. A gente quer que você seja."

"Para mim, esse foi um ponto muito principal da minha decisão de fazer o projeto, porque era a primeira vez que uma produtora estava me olhando no lugar de protagonista de um projeto que não era nordestino, que não era LGBTQIAPN+. Então, me vi numa situação de uma grande oportunidade de mostrar ainda mais uma faceta do meu trabalho." 

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Embora não se alongue muito em uma história de origem do personagem e possíveis causas ou gatilhos para seus crimes, o longa mostra partes do convívio social e de trabalho de Francisco, o que deu a Silvero a chance de desenvolver o personagem em três frentes diferentes. "Eui fui mesclando o que é real e o que é imaginário coletivo, essas informações que chegam e fazem com que a população crie um personagem a partir daquelas informações. A partir dessa construção, eu fiz três camadas: o Francisco de Assis, esse cara que é filho, funcionário, motoboy; o Chico Estrela, esse exímio patinador admirado por todo mundo; e o Maníaco do Parque, que era esse possível monstro que as pessoas têm a imagem que ele é."

"A imagem do monstro já existia. O que eu precisava era construir uma imagem que faça com que o espectador, de alguma maneira, ao assistir a esse filme, compreenda o ponto de vista da vítima, e não quem é o Francisco. Que as pessoas, ao assistir ao filme, entendam por que as pessoas eram seduzidas e levadas por ele."

Silvero Pereira

'Me identifico com elas porque poderia ser comigo'

Giovanna Grigio interpreta jornalista Helena em 'Maníaco do Parque'
Foto: Márcio Nunes/Divulgação

Criada para a ficção nos moldes de relatos do ano de 1998 e na própria experiência da pesquisadora Thaís Nunes, a personagem Helena não é uma jornalista que existiu de fato, mas sim uma espécie de amálgama do que o filme quer propor como reflexão sobre como a mídia, num aspecto geral, tratou as mulheres envolvidas no caso. Praticamente a única mulher de seu local de trabalho, Helena quer cobrir o caso para ganhar o respeito de seus colegas e chefes mais experientes (ela é uma foca, jargão utilizado para jornalistas recém-formados ou em início de carreira), e acaba sendo forçada a enxergar a invisibilidade tanto dela própria quanto das vítimas de Francisco.

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Assim como Silvero, Giovanna enxergou na proposta do filme uma oportunidade de interpretar uma personagem que estivesse fora da sua zona de conforto. Conhecida do público teen por personagens que flertam mais com temas da adolescência, de "Chiquititas" a "Malhação - Viva a Diferença" e à versão da Netflix de "Rebelde", a atriz de 26 anos encara de frente agora seu primeiro grande papel mais adulto.

"A Helena me permitiu desmontar de tudo que eu estava acostumada a fazer, sair totalmente da minha zona de conforto", explica. "Abrir mão da graça, do carisma, de tudo que é bonitinho e poder me explorar mais como atriz. A Helena foi um presente para mim nesse sentido, porque fazia muito tempo que eu já estava querendo experimentar coisas novas e não estava vendo oportunidades de fazer isso."

Ao longo do filme, Giovanna e Silvero representam naturalmente polos opostos --e, por isso, seus personagens não se encontram na grande maioria das cenas. Mesmo assim, os dois ensaiaram e se prepararam juntos, e concordam que a proposta do filme é de olhar para além dos casos de violência contra a mulher executados pelo Maníaco do Parque.

"A gente está acostumada a estar num ambiente de trabalho onde nós não somos respeitadas, não somos ouvidas, às vezes de maneira muito sutil e que a gente nem repara", reflete Giovanna.

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"Acontece o tempo todo. Aconteceu em 98, acontece hoje. E isso se costura também com a história das vítimas porque, no fim das contas, foi um homem que decidiu terminar com a vida delas. Eu, Giovanna, e acho que a Helena também entra muito nesse lugar, quando olho para essas vítimas, eu me identifico com elas porque poderia ser comigo, sabe? Acho muito importante que o filme consiga criar esse ambiente e costurar todos esses pontos de identificação entre as personagens femininas do filme."

Giovanna Grigio, sobre conexões feministas de 'Maníaco do Parque'

"E eu adoro esses pontos no roteiro porque, por mais que o Francisco tenha chegado às vias de fato, isso não significa que a violência verbal ou a violência comportamental ali no ambiente de trabalho sejam menores do que uma violência física", completa Silvero. "Pelo contrário: estamos falando de uma sociedade extremamente machista, patriarcal. Então, que a gente tenha mais consciência sobre esses lugares de violência."

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Fonte: Redação Entre Telas
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