'Coringa 2' tem inspiração em musical fracassado que quase arruinou a carreira de Coppola

4 out 2024 - 05h03
Imagem de 'O Fundo do Coração' e, ao lado, 'Coringa: Delírio a Dois'
Imagem de 'O Fundo do Coração' e, ao lado, 'Coringa: Delírio a Dois'
Foto: IMDb/Reprodução

Já nos cinemas em todo o Brasil, "Coringa: Delírio a Dois" adiciona novos elementos à fórmula que rendeu um Oscar a Joaquin Phoenix e certo prestígio à carreira de Todd Phillips. Um deles, é claro, é ninguém menos que Lady Gaga fazendo as vezes de Lee Quinzel, a Arlequina nesta adaptação dos personagens da DC. O outro são as cantorias que embalam o romance patológico entre o Palhaço do Crime e sua nova companheira. E uma das inspirações para criar as porções musicais do longa é um filme polêmico da década de 1980 que quase acabou com a carreira de um dos maiores cineastas da história. 

Lançado em 1982, "O Fundo do Coração" é um romance musical de Francis Ford Coppola que conta a história de Franny (Teri Garr), uma agente de viagens de Los Angeles que sonha em viajar para os locais exóticos para onde envia seus clientes, e seu marido, Hank (Frederic Forrest). Após uma briga no dia quatro de julho, depois de cinco anos juntos, eles acabam rompendo e passando o feriado com novos companheiros. Entre as novidades e o saudosismo, o longa discute se o amor é capaz de vencer. Em entrevista ao YouTuber Matti Haapoja, o diretor de fotografia Lawrence Sher declarou que o filme de Coppola é uma das inspirações visuais de "Coringa: Delírio a Dois".

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Indicado ao Oscar de melhor música ou trilha original, o romance do diretor de "O Poderoso Chefão" que hoje ocupa um lugar de clássico cult tem uma das trajetórias mais conturbadas da carreira do realizador. Realizado nos estúdios Zoetrope, produtora que Coppola acabara de criar, o filme tinha tudo para ser um sucesso, mas, na verdade, foi um fiasco. 

Críticos de cinema da época descreveram o longa como "um exercício técnico e sem coração", comparando o filme ao tipo de musical que o público já rejeitava desde os anos 70 e o fim da era de ouro da Nova Hollywood. 

'O Fundo do Coração'
Foto: IMDb/Reprodução

Considerando a reação pífia da audiência, o filme foi rapidamente retirado das salas, sedimentando o seu fracasso comercial. Orçado em US$ 12 milhões a princípio, acabou custando quase U$ 27 milhões e arrecadando singelos US$ 716 mil. Para financiar o projeto, Coppola havia pegado dinheiro emprestado com o Chase Manhattan Bank e outras financeiras. 

Por isso, quando o filme foi bombardeado nas bilheterias, o diretor teve sérios problemas. Antes considerado um dos grandes cineastas de seu tempo, Coppola passou os próximos anos aceitando todo tipo de trabalho por contrato apenas para acumular dinheiro e pagas suas dívidas. 

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Foi apenas em 1992, exatos 10 anos depois do lançamento de "O Fundo do Coração", que o cineasta enfim encontrou uma solução verdadeira. Na ocasião, Coppola decretou falência pela segunda vez em três anos; os ativos listados somavam US$ 52 milhões, com passivos de mais US$ 98 milhões, segundo arquivos do jornal The New York Times.

Em comunicado emitido à época, Coppola parece ter de fato virado a página:

"O pedido [de falência] encerra o capítulo de uma série uma década de problemas financeiros e legais provenientes da produção de 'O Fundo do Coração' em 1982. Finalmente vai nos permitir encerrar todas as dívidas e obrigações restantes decorrentes deste filme e me permitirá dedicar minha atenção a projetos atuais."

Francis Ford Coppola, em comunicado sobre falência em 1992 (via New York Times)

'O Fundo do Coração'
Foto: IMDb/Reprodução

Anos mais tarde, Coppola considera o período de recuperação após "O Fundo do Coração" como algo menos apocalíptico. Em 2015, ele falou ao jornal O Globo: "Analisadas em retrospecto, as coisas mais terríveis parecem menos ruins. Afinal, se você sobreviveu a elas, não deve ter sido tão péssimo. Mas, no momento em que a vivenciamos, sem saber o que vai acontecer, sempre nos parecem terríveis, e foram."

Hoje, recuperado pela memória, o longa serviu de inspiração para obras que vão de "La La Land" a "Blade Runner 2049" e "Coringa: Delírio a Dois". No momento, o musical encontra-se indisponível no streaming no Brasil.

Fonte: Redação Entre Telas
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