Doc Rivers, racismo e poder: nova série 'Clipped' explora bastidores e escândalo do Clippers

Laurence Fishburne e Ed O'Neill estrelam adaptação que aborda racismo, poder e fama no mundo do basquete.

5 jun 2024 - 05h00
(atualizado em 6/6/2024 às 09h27)
Resumo
A série 'Clipped: Escândalos no Los Angeles Clippers', disponível no Star+, traz um panorama abrangente dos acontecimentos que levam ao escândalo do ex-dono do time de basquete, Donald Sterling, abordando assuntos como racismo, sexismo, classes sociais e universo de celebridades instantâneas da internet. O Terra entrevistou o elenco e a criadora da série.
Laurence Fishburne e Ed O'Neill são Doc Rivers e Don Sterling em 'Clipped'
Laurence Fishburne e Ed O'Neill são Doc Rivers e Don Sterling em 'Clipped'
Foto: Kelsey McNeal/Divulgação

Em 2013, o Los Angeles Clippers vivia uma fase ruim. Amargando derrotas, o time de basquete anunciou a contratação de um novo técnico, Doc Rivers. Em meio às mudanças da nova gestão, uma bomba caiu sobre os jogadores quando o então dono do time, Donald Sterling, foi exposto em uma gravação de áudio em que fazia uma série de comentários racistas. 

A história, contada no podcast The Sterling Affairs, da ESPN, agora virou série de TV. Mais do que focar no esporte e na rotina da equipe, "Clipped: Escândalos no Los Angeles Clippers" disponível no Star+ traz um panorama mais abrangente dos acontecimentos, tecendo comentários sobre sexismo, classes sociais e o universo de celebridades instantâneas da internet.

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"Quando eu li o roteiro, fiquei muito intrigado com a história", conta Laurence Fishburne, em entrevista ao Terra. O ator, mais conhecido por interpretar Morpheus na saga "Matrix", é o responsável por interpretar o técnico Doc Rivers, personagem central da história. 

"Eu topei porque era uma forma brilhante de explorar a confluência entre raça, sexo, esporte, poder e influência, entretenimento e mídia. Todos estes elementos se cruzam de uma maneira muito interessante. Não sou fã de esportes, mas o drama intríseco da história em si foi o que me convenceu."

Laurence Fishburne, ator

Ainda que o pano de fundo da história seja obviamente o mundo dos esportes, especificamente do basquete, a criadora da adaptação, Gina Welch, garante que não é necessário ser um entendedor dos jogos para acompanhar a trama.

"Eu mesma só comecei a acompanhar basquete depois que comecei a trabalhar na série", confessa a criadora. "Havia muitos amadores, como eu, e precisamos nos fortalecer com pessoas que entendiam de NBA, como [o roteirista Rembert] Browne e [o diretor] Kevin Bray. E isso também fez parte da escalação. Os atores regulares que estalacos para interpretar os jogadores tinham experiência prévia com o basquete."

Dito isso, Gina ressalta que a parte esportiva da atração funciona mais como um trampolim para abordar assuntos que dialogam com o coletivo de forma mais abrangente. "Quando comecei a pensar em contar essa história, com o time e Doc Rivers no centro, era um time historicamente perdedor que tinha a sua melhor chance de ganhar o campeonato."

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"Então eu comecei a pensar que era uma maneira interessante de refletir sobre o custo de tentar progredir e prosperar sob a liderança de uma pessoa incompetente e racista. O quanto todos nós pagamos por ter pessoas assim no poder?"

Gina Welch, criadora de 'Clipped'

De Jay Pritchett a Don Sterling

Intérprete de Jay Pritchett em 'Modern Family', Ed O'Neill vive empresário acusado de racismo em série 'Clipped'
Foto: Canaltech

Querido do público por interpretar o carismático Jay Pritchett em "Modern Family", e Al Bundy em "Married... with Children", Ed O'Neill aparece aqui completamente diferente do que seu público poderia esperar. É ele que interpreta o todo-poderoso e egocêntrico Sterling, que se vê no centro da atenção da internet pelos motivos errados quando os áudios com seus comentários racistas são divulgados. 

"Quando eu conheci Gina Welch, pensei que era um papel arriscado, eu não sabia o que fazer com ele. Mas simplesmente resolvi arriscar. Às vezes tomo essas atitudes meio impetuosas, e eu fiquei feliz com o resultado", conta o ator. 

Uma importante característica do Sterling vivido por O'Neill, e que se estende à série por completo, é uma mistura de seriedade com humor. Embora o tema da atração precise ser tratado com rigor, há uma espécie de carisma latente que rodeia até os personagens mais asquerosos. 

"Há um humor no roteiro, e eu achei que ele era acidentalmente engraçado", explica Ed, falando de seu próprio personagem. 

"Algumas vezes ele não pretendia ser engraçado, mas ele é um personagem divertido. E então, é claro, quando ele se transforma, é meio surreal e assustador. Ele também consegue ser outra coisa. E isso sempre é bom para um ator, poder brincar com diferentes camadas de uma pessoa."

Ed O'Neill, ator

Kardashians, celebridades instantâneas e virais de internet

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Logo nos primeiros minutos do primeiro episódio de 'Clipped', uma montagem rápida mostra os efeitos, positivos e negativos, de viralizar na internet. Dezenas de publicações no Instagram e no X, antigo Twitter, dividem a tela com manchetes escandalosas de tablóides e jornais sérios. 

"Hoje, qualquer um pode ficar famoso em segundos", diz a voz que narra a abertura. "Então, o perigo de desrespeitar um 'ninguém', especialmente alguém com grande potencial, como eu... estou ouvindo."

A figura é V. Stiviano, personagem de Cleopatra Coleman que vazou os áudios de Sterling e foi considerada, na ocasião, uma mulher "obcecada pela mídia e por fama". Secretária e suposta amante do empresário, é ela quem coloca em movimento toda a exposição da qual Sterling foi alvo e tece a ponte entre o racismo e o sexismo como um problema perene da sociedade atual e o uso da internet como uma arma poderosa. 

"Eu sou uma pessoa muito diferente de V, é claro. Mas o meu trabalho é sempre tentar encontrar empatia e uma forma de abraçá-la", confessa Coleman. "Comecei a vê-la como uma sobrevivente, como alguém que buscava segurança. Tem um paralelo interessante por ela ser essa mulher tentando sobreviver em um mundo masculino, e a forma dela de fazer isso é o que conecta [a história]."

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Para Welch, o momento em que a série se passa é um grande divisor de águas entre como a internet funcionava e como funciona hoje.

"A série começa em 2013, um momento em que as Kardashians começavam a ficar muito famosas, e a ideia de se tornar uma celebridade sendo você mesmo começava a se tornar um conceito clássico americano. O Instagram estava em seus anos iniciais."

"O que nós vemos por meio de V é o começo de uma era em que as pessoas começavam a se vestir em uma embalagem para a fama, caindo de cabeça em um universo em que as pessoas admiram muito a sua imagem. E graças à velocidade com que as coisas funcionam na internet, a experiência de tê-la ligada o tempo todo pode ser muito disruptiva."

"Na série, você vê aquela ideia de que, quando alguma coisa está na internet, está lá para todos, para sempre, você não consegue deletar", completa Browne. "Isso era um conceito em 2013 e ainda é hoje. Você vê na série como diferentes gerações têm relações diferentes com o que a internet pode fazer com uma pessoa."

"Clipped: Escândalos no Los Angeles Clippers" é uma série original da FX Productions. Os dois primeiros episódios estão disponíveis no Star+, e os próximos vão ao ar toda terça-feira. A partir de 26 de junho, "Clipped" chegará ao Disney+ junto ao resto do conteúdo de entretenimento geral do Star+ e do esporte da ESPN.

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Fonte: Redação Entre Telas
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