Em SP, Francis Ford Coppola elogia cinema brasileiro e detona Hollywood: 'Não conheço bilionário feliz'

Cineasta veio ao Brasil para divulgar seu novo filme, o ambicioso 'Megalópolis'

28 out 2024 - 15h33
(atualizado às 17h35)
O cineasta Francis Ford Coppola no Brasil
O cineasta Francis Ford Coppola no Brasil
Foto: Divulgação/Mariana Atallah

De passagem pelo Brasil para divulgar seu novo filme, "Megalópolis", o cineasta Francis Ford Coppola falou nesta segunda-feira (28) a uma plateia de jornalistas, cineastas e famosos, em São Paulo. Aos 85 anos, o diretor de clássicos como "O Poderoso Chefão" e "Apocalypse Now" veio ao país como parte da turnê de divulgação de seu ambicioso épico futurista, longa estrelado por Adam Driver e que dividiu opiniões quando foi exibido no início deste ano no Festival de Cannes. 

Projeto antigo do diretor, "Megalópolis" custou quase US$ 120 milhões para ser feito, e Coppola chegou a vender parte de sua operação de vinhos para cobrir os gastos, que somaram ainda mais US$ 20 milhões em marketing e distribuição, conforme o jornal New York Times.

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Embora o autofinanciamento seja um risco, não é a primeira vez que Coppola faz algo do tipo. Longe do sistema de estúdios de Hollywood, ele não esconde seu descontentamento com o estado atual da indústria e, durante a conversa, relembrou o caminho tortuoso para o lançamento de "Apocalypse Now", em 1979, contando que o sucesso de "O Poderoso Chefão" não foi de muita ajuda.

"Quando eu era jovem, consegui esse trabalho para dirigir 'O Poderoso Chefão', e eu não tinha poder nenhum", recorda. "Sempre me falavam que eu provavelmente seria demitido. Então eu me tornei maquiavélico, usei minhas habilidades para continuar no poder. De certa forma, eu me tornei Michael Corleone. Então me vi fazendo mais dois 'O Poderoso Chefão' e eles fizeram muito sucesso e todo mundo ganhou muito dinheiro. Eu mesmo ganhei muitos Oscars. Mas quando eu disse o que eu queria fazer em seguida, que era 'Apocalypse Now', me falaram que eu não podia fazer."

Ele prossegue, relembrando a indignação que sentiu,

"Eu disse: 'Bem, o que valem Oscars e dinheiro se eu não posso fazer o filme que eu quero fazer? Então eu joguei os Oscars pela janela e todos se espatifaram. Minha mãe, é claro, pegou todos, foi até a Academia [de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar] e disse: 'Ah, não, meu pobre filho, a governanta da casa dele estava limpando e quebrou. Eles substituíram, mas eles ficaram destroçados."

Francis Ford Coppola.

"Qual é o objetivo de fazer isso se eu não posso fazer o filme? Vocês sabem quem é dono de 'Apocalypse Now'? Eu. Sabem por quê? Porque ninguém queria", continua o diretor.

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Francis Ford Coppola participa de aula magna no Brasil em turnê de lançamento de 'Megalópolis'
Foto: Laysa Zanetti/Terra

"Eu acabei com dívidas, e os juros eram de 21%, mas as pessoas continuavam indo ver o filme. Até hoje, as pessoas vão ver, e foi assim que eu paguei as dívidas. Artistas não podem se preocupar com risco. Risco é para os executivos, e no fim, se eles se tornarem trilionários, eles vão ficar infelizes porque eu não conheço nenhum bilionário que é feliz", reflete. 

Considerado um clássico do cinema de guerra, "Apocalypse Now" ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 1979. No ano seguinte, foi indicado a oito Oscars, e venceu nas categorias de melhor som e melhor fotografia. 

Diretor elogia cinema brasileiro

Foto: Divulgação/American Zoetrope / Pipoca Moderna

O renomado cineasta também aproveitou o encontro com o público em São Paulo para citar algumas das suas principais referências do cinema brasileiro. Segundo ele, além de Glauber Rocha, com quem manteve uma grande amizade, outros realizadores que o encantam incluem Hector Babenco (argentino, naturalizado brasileiro) e a dupla Fernando Meirelles e Kátia Lund

"Isso é parte da tradição do Brasil e sua extraordinária tradição cinematográfica. Não apenas Glauber Rocha, mas Hector Babenco, com seu maravilhoso 'Pixote - A Lei do Mais Fraco', e filmes fabulosos como 'Cidade de Deus'. A herança de vocês é muito rica e bonita, eu parabenizo o cinema do Brasil porque é muito bonito."

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Descrito por Coppola como "um épico romano na América", "Megalópolis" se passa na cidade de Nova Roma, cenário da grande contenda entre Cesar Catilina (Adam Driver), artista idealista, e seu rival, Franklin Cicero (Giancarlo Esposito), prefeito ganancioso. No meio deles está Julia Cicero (Nathalie Emmanuel), que deve escolher entre a lealdade ao pai e o amor por Cesar, enquanto se define sobre que futuro considera melhor para a humanidade. O filme estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta, 31 de outubro. 

Fonte: Redação Entre Telas
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