A alta cúpula da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas pediu desculpas por não mencionar o codiretor do vencedor do Oscar Sem Chão, Hamdan Ballal, no comunicado enviado aos seus membros na quarta-feira, 26.
No comunicado em questão, a Academia respondia às críticas que recebeu por não se manifestar quando o cineasta foi preso pelo governo de Israel, na segunda, 24. Ballal é um dos diretores do filme que venceu o Oscar de Melhor Documentário neste ano.
Embora repudiasse a violência, a nota assinada por Bill Kramer e Janet Yang citava a necessidade da organização de "respeitar opiniões divergentes", e não abordava diretamente o ataque recente ao cineasta palestino.
O pedido de desculpas, também assinado pelo diretor-executivo e pela presidente da Academia, foi emitido na sexta-feira, 28. Nele, a organização assume que considera um erro não ter mencionado o cineasta e o seu filme diretamente.
"Na quarta-feira, enviamos uma carta em resposta aos relatos de violência contra o vencedor do Oscar Hamdan Ballal, codiretor de Sem Chão, conectados à sua expressão artística. Lamentamos não termos reconhecido diretamente o Sr. Ballal e o filme pelo nome", começa a nota.
"Pedimos sinceras desculpas ao Sr. Ballal e a todos os artistas que não se sentiram apoiados pela nossa declaração anterior, e queremos deixar claro que a Academia condena atos de violência desse tipo em qualquer lugar do mundo. Abominamos a supressão da liberdade de expressão sob qualquer circunstância."
Antes da retratação, diversos astros de cinema votantes do Oscar assinaram uma carta repudiando a organização.
Além de estrelas internacionais como Olivia Colman, Joaquin Phoenix, Mark Ruffalo e Penélope Cruz, também assinaram o documento os brasileiros Alice Braga, Lais Bodanzky, Pedro Kos, Rodrigo Teixeira, Maria Augusta Ramos, Anna Muylaert, Paula Barreto, Alê Abreu, Petra Costa, Daniel Rezende, Sara Silveira e Vania Catani.
"Como artistas, dependemos de nossa capacidade de contar histórias sem represálias", dizia a carta. "Os documentaristas frequentemente se expõem a riscos extremos para esclarecer o mundo. É indefensável para uma organização reconhecer um filme com um prêmio na primeira semana de março e, em seguida, deixar de defender seus cineastas apenas algumas semanas depois."
Em entrevista ao jornal britânico The Guardian na quarta-feira, após ser solto, Ballal relatou ter sido espancado com coronhadas, ameaçado de morte e impedido de receber ajuda durante um ataque de colonos na vila de Susya, na Cisjordânia.
Ele contou que dois soldados o cercaram enquanto um colono o agredia. "Eles me jogaram no chão. Um soldado me atingiu com a coronha do fuzil. Depois, atirou para o alto", disse. "Não entendo hebraico, mas entendi que ele disse que o próximo tiro seria em mim. Achei que ia morrer."